sábado, 12 de novembro de 2016

Finalmente o fim...

A decisão já estava tomada há muito tempo, mas a falta de coragem para colocá-la em prática fez com que a procrastinação ganhasse o jogo até aqui.

São mais ou menos 13 horas de um sábado, meu dia preferido da semana, cuja maior expectativa é sair de casa para visitar uma feira de livros cara e praticamente sem atrativo nenhum, como vem sendo a de São Luís nos últimos anos. Minha namorada está viajando, cruzando as estradas e trilhas do Peru com os amigos da faculdade, enquanto fico no quarto envolto às dificuldades de conexão para assistir às séries do momento e aos pensamentos, nem sempre animadores, quanto ao meu futuro profissional.

O último texto postado por aqui, escrito há mais de um ano, falava sobre o fim de um ciclo muito especial e importante na minha vida: meus dois anos de estágio na Defensoria Pública do Estado do Maranhão. Nele já é possível perceber traços de mudanças na minha personalidade, novos caminhos seguidos e expectativas bem diferentes daquele dezembro de 2007, ano de estreia do blog.

Quem me acompanhou nesses quase 9 anos de Senhor do Tempo sabe muito bem do que estou falando. Amores platônicos, esperanças descompromissadas, desabafos misteriosos, alegrias inesperadas, entrelinhas direcionadas... uma gama de elementos que moldaram um jovem adulto e que eram expostas, para quem quisesse ler, com o único fim de servir de escape para aquilo que me atormentava (ou me alegrava) demais.

Com o início do ensino superior e a necessidade de dar conta de tantos afazeres, como estágios e complicadas avaliações envolvendo as mais diversas teses jurídicas, o blog foi ficando de lado. As coisas foram acontecendo e a falta de tempo para contá-las foi a derrocada do senhor do tempo – um paradoxo sempre repetido quando me perguntavam a respeito deste espaço. Como aquele que se julgava capaz de controlar o tempo através de palavras pôde deixar seu próprio objeto de controle trai-lo? Quando precisei fazer esta pergunta, já era tarde demais.

Percebi que havia mudado. Tendo finalmente encontrado respostas para algumas de minhas principais dúvidas, não havia mais motivo para colocá-las aqui em forma de texto. Os amores difíceis se tornaram pedaços de um passado complicado, mas suficientemente bom para me deixar seguir em frente. Encontrei alguém que me mostrasse um mundo diferente, com novas cores, sensações, paisagens – e continuo nessa aventura até hoje. Conheci diversas pessoas, aprendendo com elas e, por muitas vezes, me surpreendendo com o que são capazes de fazer (de bom e de ruim). Sorri e fiz sorrir incansavelmente, só por acreditar que felicidade é um troço que precisa ser compartilhado. Chorei e continuo chorando sempre que a sensibilidade bate à porta. Aprendi e pretendo continuar aprendendo, justamente por acreditar ser esse o único motivo de estarmos aqui nesse mundo.

Meus reclames já não cabem aqui. O tempo é outro, a vida é outra. E eu sei que vem vindo muito mais com o que se preocupar adiante.

Acalmem-se. Não pretendo me desfazer destas linhas traçadas com experiência de vida. O fato de não mais aqui me encaixar não significa que eu precise esquecer tudo aquilo pelo que já passei. Costumo dizer que toda experiência é bem-vinda, mesmo aquelas que nos machucam e nos fazem praguejar contra Deus e o mundo. Esteja disposto a aprender sempre!

Espero que entendam a minha decisão. Eu sempre serei o Senhor do Tempo - e essa alcunha provavelmente me acompanhará até meu último respirar. No entanto, sinto que agora é preciso manter o controle sobre outras coisas, deixando esse ofício experimental nas mãos de quem realmente entenda como fazê-lo. Eu, mero aprendiz, seguirei observando e escrevendo novas linhas nessa história inexata, reescrevendo-as, se preciso for. Sigo de cabeça erguida e pronto para o que vem pela frente. Quem quiser me acompanhar, é só me seguir. Garanto que serei uma boa companhia!

Grande abraço e até qualquer hora!

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Memórias de um estagiário

Sexta-feira, 14 de agosto de 2015. Último dia de estágio na Defensoria Pública do Estado do Maranhão.

Durante (quase) 2 anos, tive a honra de participar de um seleto grupo de pessoas que escolheram gastar um tempinho de suas vidas para ajudar quem realmente precisa. Pessoas que suam a camisa em prol de uma justiça mais humana, seja lá o que a ideia de justiça signifique. Gente que acorda cedo e vai para o trabalho ajudar aqueles que acordam mais cedo ainda em busca de ajuda. A vida é engraçada. Somos, ao mesmo tempo, protagonistas e coadjuvantes de uma história que nunca termina e sempre reverbera mais adiante na história de alguém.

Ao longo desse tempo, convivi com as mais diferentes pessoas, na Sala mais aconchegante e divertida que eu já pude estar. Ganhei amigos, professores, colegas, exemplos – e até um Irmão meio maluco. Tornei-me mais independente, organizado, disciplinado e finalmente consegui compreender por que caí de paraquedas no curso de Direito aos 45 minutos do segundo tempo lá em 2011.

Vinculado à 4ª Vara de Família, pratiquei o bem sem olhar a quem. Meu pendrive contabiliza agora mais de 1.400 arquivos carregados de lágrimas, sorrisos, desespero, pedidos de socorro, endereços impossíveis de localizar, comunicações Brasil afora, urgência, sabedoria, felicidade... histórias! O Direito, assim como o Magistério, a Medicina, a Arquitetura e as mais variadas profissões, é feito de histórias. Um cotidiano sofrido, de gente como eu e você, com ou sem oportunidades, que escolhe ou não fazer o bem, seja lá o que a ideia de bem signifique.

Aliás, eu tinha de cair numa Vara de Família. Eu precisava ajudar! Filho de mãe solteira, que sempre vivenciou o sofrimento de cuidar de um menor sem o auxílio do pai, cada Ação de Alimentos tinha um gosto especial para mim, já que eu sabia, mais ou menos, o que se passava na vida daquelas crianças. Cada audiência de Divórcio, com as discussões acaloradas e o fim do amor exposto em cima de uma mesa, entre gente estranha e papéis, sintetizava o que eu não quero para a minha vida. De todo modo, os casos que pude acompanhar me ensinaram que o verdadeiro problema do país hoje em dia, pelo menos no âmbito familiar, repousa na falta de diálogo entre os litigantes, reflexo natural da inércia política em criar e aplicar boas políticas de educação em nosso país.

Cotidianamente, aprendi a não confiar em todo mundo. Confirmei a tese do Skank de que tudo tem três lados: o meu, o seu e a realidade. Inventei soluções para problemas bobos, subi e desci 8 lances de escadas várias vezes por dia, vi duas gerações de estagiários, realizei o "treinamento" de alguns deles, fiz amizade com a grande maioria, fui chamado diversas vezes de “doutor” pelos assistidos, ouvi, falei, perdi a paciência, reclamei, cansei, perdoei, duvidei, arrumei, desarrumei, liguei... Aproveitei.

No fim, sem qualquer clichê de autor português ou banda nacional, realmente valeu a pena. Agradeço infinitamente a todos que me proporcionaram dias tão agradáveis: não há bolsa-estágio que pague as boas lembranças que levarei desses (quase) 730 dias. Vocês foram fundamentais na minha história e serão para sempre lembrados. Um dia contarei a meus filhos sobre a Dra. Silvia, o Dr. Francisco, a dona Ierecê, o Sr. Alzemar, a dona Dailma, a dona Bete (e seus filhos), a dona Fernanda (e seus 5 filhos), a dona Maria das Graças e outras tantas figuras que me tornaram mais humano e consciente de que estou no caminho certo em minha jornada. Muito obrigado a todos e até logo. Deus queira que como Defensor Público!


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Crise de Identidade Literária

Ultimamente, tenho sofrido uma espécie de crise de identidade literária, algo que não considero como sendo bom ou ruim, apenas perturbador. Aliás, faz-se necessário mencionar: nem tudo que perturba o ser humano é digno de separação no armário das coisas boas e ruins. Essas inquietações são comuns à vida agitada que levamos hoje em dia. Nada que mereça uma crônica como essa. Ou não!

Sempre que vou a uma livraria de São Luís, me pego preso à seguinte dúvida: o que comprar dessa vez? Tenho visto nas redes sociais um alto número de jovens leitores indignados porque possuem 38 livros na fila pra leitura e, não satisfeitos, se põem a comprar mais 13 já que não conseguem resistir à tentação. Confesso que faço parte dessa parcela sedenta por leitura e cada vez mais ocupada. Talvez por isso a minha dúvida persista, meio sem sentido, confesso. O que comprar dessa vez?

É que sempre tem algo bacana escondido por entre os milhares de volumes da seção de Literatura Estrangeira, por exemplo. Gosto de pensar que há um livro especial nos esperando nesses lugares, pronto para ser degustado, como a obra de Julián Carax em ‘A Sombra do Vento’. Você bate o olho e pronto: paixão à primeira vista. A propósito, meu último desses casos de amor foi com ‘A Improvável Jornada de Harold Fry’, que continua esperando o momento certo pra ser lido com todo o afinco que merece.

Mas voltando à minha crise propriamente dita: o que comprar dessa vez? Romance clássico indicado pela namorada, ficção científica que originou o maior sucesso do cinema atualmente, biografia não autorizada daquele político pedante que todo mundo venera e você odeia, história água com açúcar feita pra adolescente chorar, livro para a faculdade? As opções são tantas que você se perde e acaba não levando nada. Também acontece com vocês? E aí? Toda leitura é válida ou só se deve comprar aquilo com o que você se identifica?

Confesso que gosto desses romances adolescentes ‘de menininha’, mas também sou fissurado nas histórias de fantasia do Carlos Ruiz Zafón. Saramago e seu teor político me encantam, e as crônicas brasileiras de outrora também são um prato cheio para o meu ócio literário. Distopias são a forma de escapar desse mundo maluco em direção a um pior ainda. Mas são incríveis! Obras de escritores desconhecidos e encontradas a 10 reais durante as feiras literárias da cidade também sempre têm seu lado bom. E agora?

Sei lá. Sempre que me questionam por que eu gosto de um livro que ninguém leria ou que aquela pessoa específica não leria, respondo com o já manjado ‘toda leitura é válida’. Mas vai além disso, sabe? São tantas histórias fantásticas esperando para serem apreciadas que não vale a pena desperdiçá-las. Algumas menos, outras mais, mas o que importa, de verdade, é não pegar um livro só porque ele é um best seller, mas descobrir o quanto ele é incrível pra você ao final da última página. Aconteceu comigo em ‘A Menina Que Roubava Livros’. E ainda acontecerá muitas vezes.

Queria contar mais experiências literárias por aqui (como a do engarrafamento gigante em que eu estava quando li e imaginei, dentro de um ônibus, toda a cena do capítulo 28 de ‘O Lado Bom da Vida’, aquele em que Pat Peoples narra os ensaios com Tiffany ao som de qualquer música escolhida pelo leitor) e tentar entrar em um consenso na minha cabeça quanto ao próximo livro da lista de espera, mas acho que já basta. Afinal, já deu pra perceber que não tem jeito pra gente: um livro a mais nunca é demais. Até mesmo se ele for um livro de autoajuda...

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Quinta-feira

Acho que ainda consigo me lembrar daquela quinta-feira. Do alto do meu atraso, causado por um típico engarrafamento ludovicense e pela demora incomum do único ônibus que me levaria até você, percebi que aquele não seria um fim de tarde qualquer. As mensagens impacientes que insistiam em vibrar o celular davam ritmo à minha pressa e vontade de estar contigo de novo. Era tudo muito recente, vívido, esperançoso, e cada oportunidade de estar ao seu lado me dava a certeza de que era aquilo que eu precisava pra ser feliz de uma vez por todas, mesmo quando todo mundo me dizia pra ir com calma.

Ao chegar, recordo-me das brincadeiras espirituosas de nosso cupido, capaz de te deixar incrivelmente vermelha, feito o tomate que você tanto odeia. Dizia ele que era mais prudente procurarmos um lugar reservado para trocarmos juras de amor. Instigado pela ideia e louco pra te ver sorrir com minhas brincadeiras sem graça, puxei seus braços em direção à primeira sala de aula que vi, sem muito sucesso. De fato, nós dois sabemos que não seria às escondidas que você se apaixonaria de vez. Precisava ser do jeito que foi, nos bancos de pedra que endureceram nosso amor.

A luz do início da noite é laranja naquelas bandas da Universidade, exatamente como a sua cor favorita. Naquele momento, após um tchau desengonçado do amigo pinguim, nossos lábios se tocaram mais uma vez, em um prelúdio afetuoso do que viria a seguir. Aliás, não consigo acreditar que não estava apaixonada até então. Se fecho meus olhos, vejo claramente os seus brilhando a cada brincadeira boba e desajeitadamente sensual. Até que veio a hora da verdade.

Já tinha que te permitir partir, mas faltava alguma coisa. Um som que pudesse ecoar naquela noite mágica, capaz de nos fazer lembrar que aquilo tudo era só o início de um plano maior, de uma experiência marcante, de um amor sublime. Entre tantos ritmos, gostos e sonhos, falamos sobre Cícero, o cantor. Você dizia que gostava bastante de uma música dele e era justamente essa canção que eu tinha do artista em meu celular. Você parecia não acreditar. Ensaio sobre ela, sobre mim, sobre você.

Assim, naquele momento, aconteceu. A música que outrora ouvíamos distantes, pensando em alguém capaz de preencher o vazio causado pela falta de um verdadeiro amor, sem sequer saber que existíamos, agora era nossa – e de mais ninguém. O sonho das tuas noites insones estava prestes a virar realidade e a perplexidade por saber musicalmente que se tratava de mim era o ingrediente necessário para a receita de medo que dominava seu coração. Você foi e tem sido a melhor na arte de amar, de me fazer acreditar novamente no lado bom da vida, de pensar no futuro até então impensado. Foi como ser feliz de novo!

A sensação de plenitude por encontrar o amor é algo inexplicável. O medo bate, as dores fogem, os risos saem, o choro desce. E, no fim, somos dois escrevendo o começo de uma grande história, capaz de agradar os mais belos leitores que já existiram: nós mesmos. Que seja sempre saudade na saída e felicidade no reencontro. Que seja belo. Que seja nós!


domingo, 28 de setembro de 2014

Do outro lado da ponte

Acordou para o desespero.

Tocou-se lentamente e sentiu algo diferente em seu corpo. Seios maiores, pernas torneadas, cabelo extremamente liso. A cama não era a mesma da noite passada. O quarto, antes maltratado pela ação do tempo, com suas paredes de tijolo exposto e telhas deslocadas por causa do vento, dava lugar a um espaço minimamente decorado, com quadros coloridos e prateleiras cheias de livros e dvd’s. Era um sonho. Sentiu-se uma princesa.

Levantou, abriu o closet (antes simplesmente guarda-roupa) e deparou-se com dezenas de perfumes, cremes, joias, roupas e sapatos. Pegou um daqueles pares que admirava na televisão e colocou em seus pés. Perfeição. Desequilibrou-se um pouco ao pisar no chão, mas logo se acostumou ao piso branco e à nova altura que ganhara graças aos 12 centímetros do salto. Caminhou em direção à janela e abriu aquele seu novo mundo. Nada de vizinhos barulhentos, nada de roupas estendidas no varal da esquina. Estava de frente para a praia. Ponta d’Areia. Apartamento 503.

O que teria acontecido? Por que acordou em um quarto estranho, em uma casa estranha e tão diferente? Decidiu investigar. Do alto de seus 18 anos, encontrou uma carteira de couro de cobra com uma identidade totalmente diferente daquela que tirara no Viva Cidadão anos atrás. Novo nome, novos pais, nova vida. Desesperou-se.

Abriu a porta e encontrou o nada às 6 da manhã. Nada do irmão pequeno berrando, nada da mãe lavando roupa, nada do pai desejando um bom dia e indo trabalhar na construção de um daqueles prédios do outro lado da cidade. Percebeu que estava do outro lado da ponte e sentiu falta de tudo o que reclamava. Ouviu um barulho na cozinha e resolveu ver o que era. A empregada preparava um café da manhã reforçado. Deu bom dia e perguntou por “seus pais”. “Foram trabalhar, ué”. Perguntou onde e recebeu como resposta um suave “na empresa”. A considerar os móveis, os tablets espalhados pela mesa de centro e a TV de LED 46 polegadas da sala, sua nova “família” era bem rica.

“Você vai se atrasar”, disse a empregada. “Pra onde?” “Você está tão estranha hoje, Amanda”. Amanda? Ah sim, Amanda. “Sério, pra onde? Me esqueci completamente”. “Faculdade, curso de Medicina, CEUMA, esqueceu?” Amanda não acreditou. Era estudante de um dos melhores e mais caros cursos da cidade. Tomou o melhor banho da vida, vestiu uma roupa que julgava ideal para a faculdade, tomou café e saiu. Namorado esperando à porta, beijo na boca, um leve tapinha na bunda, um puta susto. Elevador, uns amassos, prazer nunca antes sentido, carro de luxo, sala de aula.

Amanda passou toda a aula de Processos Metabólicos tentando entender como chegara àquela casa e por que tudo aquilo estava acontecendo. Merecimento, castigo, sonho? Desistiu, pensou nos antigos pais, foi ao banheiro e, egoisticamente, olhando para o espelho, esboçou um sorriso desses de comercial de creme dental e disse para si mesma:

- Eles iriam gostar de ter uma filha médica. Adeus, Coroadinho!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

E agora, São Luís?

Tenho me perguntado se São Luís ainda tem jeito. Se ainda dá pra acreditar nessa ilha idosa, nessa cidade que parece que estagnou sua memória nos anos 80 ou 90, protagonizando o que chamo de Alzheimer urbano. Qual a maior glória de nosso passado recente desde a famigerada nomeação como Patrimônio Cultural da Humanidade? O ano era 1997 e, de lá pra cá, nossas maiores conquistas foram uns 4 shoppings centers e muito, mas muito barzinho e restaurante.

São Luís tornou-se uma cidade cara desnecessariamente. Aqui, quando o assunto é lazer, é bem quisto quem pode esbanjar bastante em uma única noite, preso a opções quase sempre comuns, como a Lagoa da Jansen e a Avenida Litorânea. O chopp dobrado é a premissa e os acidentes de trânsito, já tão corriqueiros, são a grande consequência. Não há parques municipais de fácil acesso ou praças arborizadas para a folga do fim de semana. No meio imobiliário, apartamentos cada vez menores e cada vez mais caros pintam o cenário de uma modernidade que só alcança alguns de nós.

O Centro Histórico, riquíssimo em potencial cultural, está entregue à violência e à falta de gestão. Casarões seculares, que serviram de morada para grandes poetas, agora dão lugar a tristes ruínas. Projetos de décadas nunca saíram do papel e, pelo andar da carruagem de Ana Jansen, nem vão. Principais culpados por essa ingerência, os políticos maranhenses fingem não enxergar o problema, evitando parcerias institucionais entre Estado e Município. Triste de nós se não tivéssemos o IPHAN. Um órgão chato, mas extremamente necessário.

Nosso sistema de transporte vive um colapso. Esperançosos com a promessa da licitação das linhas de ônibus, passamos horas em latas velhas que ligam um extremo ao outro da cidade, através de avenidas planejadas para uma outra época e que não suportam mais o peso de um crescimento forçado. Quem vai de carro, vê seu tempo passar arrastado em meio a tantos engarrafamentos quilométricos. Nossa região metropolitana não é interligada de maneira inteligente e uma das soluções viáveis sob trilhos está guardada em um galpão na entrada da capital, sem previsão para início dos trabalhos.

Praias poluídas, esgoto a céu aberto, saúde mal das pernas, buraqueira lunar e uma proposta de mudança. Sinceramente, não sei se temos o que comemorar nesses 402 anos. Talvez possamos festejar, sim, a garra de um povo que começa a trabalhar cedo (não às 9 da manhã) e que, mesmo cercado de tantos problemas, vai fazendo acontecer nos mais diversos bairros dessa ilha inexata. Talvez possamos comemorar o potencial artístico de nossa gente, dos jovens músicos, atletas, professores, escritores, comerciantes... Aqui é berço de ouro pra quem ama o que faz.

Sei lá o que o futuro me reserva. Já sonhei em ser prefeito dessa cidade, mas deixei de lado essa ideia maluca quando conheci o lado sujo da política. Descobri que existem outros meios de ajudar, evitando o tal do poder. Por amar demais a minha terra, não desisto dela. Não desisto de fazer acontecer todo santo dia, lá na Defensoria Pública, ainda como estagiário, mas em busca de uma justiça que eu nem sei direito se existe, e com o único intuito de ajudar os milhares de ludovicenses que ali nos procuram. Torço para que daqui a um tempo, os filhos destes homens e mulheres saibam reconhecer o valor das pequenas coisas, a fim de que possam transformar São Luís em uma grande cidade. Eu estou fazendo a minha parte enquanto cidadão. E você, o que já fez por sua cidade hoje?

8 de setembro: aniversário de São Luís do Maranhão

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Pra sonhar

Por Talita Plum*

Já pensou se acabássemos nossas vidas juntos? Que loucura, né? Viver juntos para todo o sempre, juntar escovas de dente e sonhos em uma mesma mala, caminhar na mesma estrada e olhar na mesma direção, por cinco, dez, vinte, uma eternidade de anos. Já pensou na escolha do nosso apartamento em Copacabana, como eu quero, ou em uma casa em Ipanema, como você almeja? Nós brigaríamos pra ver qual escolha se tornaria decisão, e discutiríamos, também, por causa da cor da cortina e da parede. Eu gosto de laranja, já você prefere o vermelho. E, no fim, a cortina seria amarela e a parede azul. 

Mas será que você realmente já parou para imaginar como seria a nossa vida a dois? Todas as manhãs me vendo acordar de aparelho e eu tendo que aguentar suas manias enquanto dorme. Minha bagunça te irritaria e a sua organização me estressaria de um jeito que nem sei descrever. Minhas roupas e sapatos ocupariam metade do guarda-roupa e você se sentiria sem espaço. Eu escutaria música no último volume, um rock bem pesado, enquanto você pediria para abaixar e pôr algo mais acessível aos seus ouvidos. Eu te chamaria de fresco e você, por birra, seria mais ainda.

E assim levaríamos e levaríamos, até a chegada dos nossos filhos, os quais seriam as criaturas mais amadas desse mundo – um menino e uma menina, como nós combinamos. Você iria querer transformar a garota em uma boneca, enquanto eu seria contra, dizendo que mulheres são mulheres, não Barbie’s. Com o menino, você seria demasiadamente rígido, enquanto eu diria pra não exagerar tanto. E, mais uma vez, brigaríamos – agora por causa da educação dos nossos filhos. 

Algumas noites seriam bem ruins e sofridas. Porém, diferente de qualquer outro casal, a cada briga nós nos amaríamos mais, pois você se viraria para mim e diria que compraríamos o apartamento em Copacabana, enquanto eu pensaria nos nossos futuros filhos e veria que uma casa seria melhor (desde que tivéssemos uma empregada). Por causa da sua mania em pôr as roupas em cima dos móveis, eu mostraria o meu lado dona de casa, que odeia desarrumação e você começaria a dar valor na bagunça. Depois de um tempo, você se acostumaria com os solos de guitarra e se juntaria à minha festa, enquanto eu abaixaria um pouco o volume, para não te deixar surdo. A nossa linda garotinha seria uma princesa, como você sempre quis, mas também seria uma mulher decidida e inteligente como a mãe, a qual você escolheu pra ser sua esposa. E o garoto seria criado por um pai forte e severo, mas que saberia amá-lo e passar a mão em sua cabeça nas horas certas.

Nossos problemas seriam o combustível pra continuar a nossa vida a dois, sempre caminhando de mãos dadas e bocas seladas. Você calçado e eu descalça; você de terno e gravata e eu de short e chinelo; você advogado e eu historiadora. Diferenças gritantes, mas que se extinguiriam quando, nos quartos ao lado, as crianças fechassem os olhos, e nós nos entregássemos um ao outro, mão com mão, pé com pé, sua boca na minha, em um ritmo louco, frenético e muito apaixonado. Não seríamos eu e você: seríamos nós! Um só corpo, uma só alma.

Volto a repetir: que loucura, né? Com certeza, uma loucura! Porém, mais loucura ainda seria se não acabássemos juntos, vivendo tudo isso e algumas cositas a mais. Loucura seria se eu não voltasse à sua casa depois de uma briga e deitasse no chão. E mais loucura mesmo seria se você não adoecesse e eu não me preocupasse ao ponto de ir cuidar de você. Loucuras e mais loucuras. A maior loucura seria se eu não quisesse passar o resto dos meus dias colada a você. À sua pele, à sua barba, à sua perna, ao seu corpo, ao seu destino. 


*Talita Plum - 19 anos, graduanda em História e Senhora do Tempo!

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sobre escrever o futuro...

Parece que a gente perde o tino e escrever se torna a mais difícil das tarefas. A vida adulta bate à porta e, às vezes, é só você contra você mesmo, sem papel, caneta ou teclado pra registrar o dissabor causado pelo tal dos 20 e poucos anos. Faculdade, amizades estremecidas, namoro, trabalho. A infância nunca fez tanta falta e a vontade de voltar para o útero da mãe só aumenta em meio a tanta confusão. Ser adulto é difícil, mas ser ninguém é pior!

Na verdade, tudo isso é uma fase. Tão clichê quanto espalhar por aí o “vai passar”, dizer que toda essa perturbação mental é uma fase ajuda na caminhada. É justamente agora que a semente do futuro começa a ser plantada. Para aqueles que, assim como eu, acreditam que a educação é a chave para uma transformação de vida, investir em uma formação técnica ou superior, capaz de preparar você para um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, onde só os melhores garantem seu lugar ao sol, é de fundamental importância. A luta é hercúlea e os benefícios, muitas vezes, só chegam a longo prazo. E então bate o desânimo.

“Nada dá certo na minha vida” e “onde é que aperta pra eu estar formado e ganhando bem?” têm sido os mantras da minha geração, cada vez mais imediatista – e onde eu me incluo, certamente. Mas não nos afobemos não, que nada é pra já, como diria o poeta. Com o peso da pouca idade, vamos aprendendo a viver um dia de cada vez, tentando absorver o máximo de informação possível, aliada a uma boa dose de noção de vida, o que, na melhor das hipóteses, nos garante uma boa qualificação profissional e um livro mental de autoajuda, bem útil naqueles momentos de problemas e solidão.

E, assim, escrever sobre as vicissitudes da adolescência, como os amores perdidos ou os não correspondidos, simplesmente deixa de fazer sentido. É hora de reinventar-se.

Tenho tentado me reinventar a cada dia, em uma batalha carregada de aprendizados, erros, defeitos e virtudes. E voltar a escrever é só uma das maneiras de encarar a vida. Um escape saudável, eu diria. Já que tenho esse espaço para despejar o meu ponto de vista, ouvir o de outras pessoas e até, quem sabe, mudar de opinião, por que não usá-lo? Crescer também é dar um novo colorido àquela parede cinza esquecida no fundo da mente. É olhar o outro lado daquilo que você, por birra, só quis enxergar de um modo. É ser você mesmo, entendendo de uma vez por todas que precisa das pessoas ao seu redor. Ninguém é uma ilha. Somos um arquipélago em desenvolvimento!

Portanto, acho que está mais do que na hora de voltar a aparecer regularmente por aqui. Não prometo textos espetaculares nem postagens diárias, mas apenas algumas doses daquilo que sempre me fez bem e que a vida adulta estava querendo me roubar: o prazer de escrever.

Já resgatei o bloco de anotações, fiz uma porção de planos, pensei em várias maneiras de colocá-los em prática e só me vem uma coisa na cabeça: viver é absolutamente incrível, apesar de incrivelmente complicado. E só nos resta seguir em frente, com a cabeça erguida, vivendo feito adulto, mas com a alma de criança!


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O verdadeiro sentido do Natal

Sempre tive vontade de fazer algo diferente no Natal. Aos 8 anos, durante um passeio de carro na noite do dia 24, vi, pela primeira vez, que a vida não era fácil como parecia até então. Quem dirigia o veículo, ao passar por um viaduto próximo à minha casa, fez questão de me mostrar algumas pessoas cobertas por papelão, deixadas ao relento, provavelmente com frio e com fome. Naquele dia, por mais que minha cabeça não compreendesse o porquê de alguém estar sem casa e cama na noite de Natal, algo me perturbou. A cada dezembro, durante todos esses anos, o desejo de fazer alguma coisa por aquelas pessoas só crescia. E eis que me surgiu a oportunidade.

Tenho a felicidade de namorar uma pessoa incrível e com um coração enorme. Costumo dizer a ela que sua fé é uma das coisas que mais admiro nesse mundo. A fé que nos uniu na certeza de um amor verdadeiro também é a fé que a juntou com pessoas maravilhosas em um grupo de jovens católicos chamado Javé Nessi. O nome escolhido para o grupo foi sugestivo e significa “O Senhor é nossa bandeira”, em alusão ao que consta no livro do Êxodo, capítulo 17, versículo 15, do Antigo Testamento.

Atendi ao convite para visitar um hospital da cidade na noite do dia 25, a fim de distribuir cachorro-quente e suco para os acompanhantes de quem ali estivesse internado. Embora receoso em encarar a cruel realidade de um hospital público que sempre é manchete nos jornais por causa de sua superlotação e alta exposição de pacientes em macas espalhadas pelos corredores, prontamente me dispus a ir e ajudar. Penso que precisamos encarar o problema sem medo para buscar soluções, que também podem se mostrar em pequenos gestos e mínimas atitudes.

A fé que une o grupo é inigualável e isso ficou bem visível quando pudemos entrar no hospital para transmitir uma mensagem de solidariedade e desejar Feliz Natal aos que ali estavam. Como alguém fez questão de frisar durante a visita, não sabíamos nada sobre a história de nenhum dos pacientes, mas estávamos ali para levar um pouco de esperança aos corações sofridos através da palavra de Deus, munidos da oração que Seu filho nos ensinou. Após as orações por algumas enfermarias, uma vez que ainda havia comida, resolvemos visitar um hospital infantil e distribuir o que sobrasse para os sem-teto espalhados pela principal praça do Centro de São Luís.

Entre essas idas e vindas, pude refletir sobre muita coisa em minha vida, repensando atitudes e buscando novos ângulos para observar um mundo cruel que tentamos atropelar todo santo dia com nossa pressa, preguiça e egoísmo. Costumo dizer que se todos tivessem a oportunidade de visitar um hospital público e um presídio em condições degradantes, o mundo teria, no mínimo, gente melhor para povoá-lo. Desprezo a visita para simples comoção ou por meros interesses políticos, como vemos a cada ano de eleição. Precisamos agir diariamente para tentar mudar a situação, com os meios que estiverem ao nosso alcance, mesmo que eles sejam os mais simples possíveis.

Meus projetos de vida continuam os mesmos, mas o meu olhar para o mundo lá fora está totalmente diferente. Só tenho a agradecer a quem me proporcionou tamanha reflexão e a quem tem me tornado melhor a cada dia. Seja assim também, como essas pessoas que conseguem transformar em realidade o velho ditado que diz: “o pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada”.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Senhor dos 22

E, de repente, acordei com 22 anos de idade. Planos traçados, pessoas ao redor, gente completamente desconhecida aos 18 e que agora não imagino viver longe... É como se cada erro do passado pudesse convergir em um único ponto, fazendo você finalmente perceber que foi preciso passar por tudo aquilo para ser alguém melhor hoje um dia. Em síntese, uma boa pessoa, entre percalços do dia a dia e defeitos essencialmente humanos. Faço-me adepto do exercício do autorretrato, do procurar erros em mim que eu nem sabia que existiam, sempre precisando de uma ajudinha exterior. Vejamos.

Não sou alguém fácil. Por mais sociável que eu seja, quem me conhece de verdade sabe dos meus pontos fracos, das minhas inquietudes e dos meus medos. Extremamente recorrentes, esses medos são resultado de uma boa dose de passado glorioso e limitações pontuais. Sem queixas, longe de mim. Acho até que esses medos me ajudam em alguns momentos, pois, sem eles, eu não conseguiria que pessoas corajosas me fizessem enxergar tanta falta de coragem. Frouxo é aquele que não vai à batalha hora nenhuma. Minha coragem se resume em partir para a guerra no momento oportuno. Mas até a estratégia do mais sublime herói deve ser repensada de vez em quando.

Carrego preconceitos. Assim como uma boa parcela da população brasileira, tenho lá meus pré-julgamentos. Todos sabemos que somos resultado do nosso passado, da nossa experiência de vida, do nosso meio cultural. É “aceitável” que enxerguemos com outros olhos algo estranho ao nosso convívio. O que entendo como inaceitável é conformar-se com essa situação. Como já disse, sou do tipo que precisa de um “empurrãozinho” para enxergar certas coisas e, ultimamente, tenho visto que muitos preconceitos meus não têm sentido em permanecer aqui comigo depois de tanto tempo. Feliz daquele que tem a hombridade de reconhecer seus erros e ir em busca de uma solução precisamente eficaz.

O novo me assusta. Mudar sempre demanda tempo e desprendimento, é assim pra todo mundo. Mas acontece que a novidade sempre me assusta de uma maneira maluca. Acho que é esse prazer por controle nas mãos, por ser dono do seu próprio eu, que faz com que eu seja assim. Mas também estou propenso a mudar. Tenho trabalhado de forma a enxergar a novidade como uma extensão do que já existia, afinal, como ela o é. Entendo que nada é por acaso e tudo está concatenado de uma forma ou de outra. O nosso futuro, portanto, não é completamente desconhecido.

Romantizo demais a vida. Cada amanhecer é uma oportunidade para recomeçar e aprender coisas novas. Faz-se necessário estar disposto a aprender sempre. Ouvir novas histórias, descobrir horizontes e apaixonar-se pela vida a cada dia é uma forma saudável de viver bem consigo e com as pessoas de seu convívio. Claro que é preciso moderação. Romantizar demais no mundo cruel que vivemos hoje é ter a certeza de que iremos nos machucar. Essa lição eu já aprendi. Mas não me privo de acordar, fugir do meu mundinho e ir viver. Lá fora está a maior fonte de aprendizado que alguém pode ter: a vida. Tente. Eu tenho tentado e estou tentado a continuar tentando tentar.

No mais, apesar de querer moderar minha exposição ao escrever, sempre chego à conclusão de que tem gente precisando ler um ou dois parágrafos amigos, com o mínimo de experiência possível. O Senhor do Tempo agora tem 22 e está cheio de novos motivos para acreditar que isso é o certo a fazer. Mesmo que o paradoxo da falta de tempo insista a me abater, farei como tenho feito com todos os meus problemas: resolverei o mais rápido possível. De preferência, antes de dormir.

Por amor às causas perdidas...