sábado, 26 de janeiro de 2013

Faltou coragem?

Fui acostumado pela vida a gostar das coisas impossíveis. A primeira guria por quem fui timidamente apaixonado fazia a quarta série do ensino fundamental enquanto eu estava na segunda. Via aquele corpo de menina mais velha todos os dias da semana, às 7 e meia da manhã, chegando em um carro dirigido, provavelmente, por seu pai. Nunca tive coragem de contar a ela como era engraçado a vertigem que me dava quando a via. Nunca deixei transparecer o quanto eu gostava de escutá-la cantando ‘Devolva-me’ da Adriana Calcanhoto para minha professora da época. Seu nome? Gabriela, feito a musa de Jorge Amado. Nome completo? Uma visita escondida, quase uma aventura, por sua sala de aula em busca da lista de frequência. Era um prelúdio do que estaria por vir.

Meus amores platônicos dos últimos 10 anos me tornaram alguém mais forte. Eu nunca tive coragem de dizer a nenhuma delas o que sentia. No máximo, alguém descobria, contava e eu ficava com cara de bobo quando tinha de encará-las. Uma delas se aproveitou desse gostar, me pediu 70 centavos, prometeu pagar no dia seguinte e até hoje me deve. Ainda penso em ajuizar uma ação pedindo o pagamento, com juros e correção monetária.

Ainda sobre coisas impossíveis, eu me apaixonei por uma garota que tinha namorado. Não um desses namoros modernos, que acabam logo depois que começam. 3 anos, famílias, segredos, histórias, fotografias. Não era inveja, era vontade de ser feliz com alguém – e era ela a escolhida. Seus cabelos negros e sua pele branca denunciavam que eu seria especialista em me apaixonar por princesas, como seu pai gostava de chamá-la. De um jeito maluco, como se os deuses do Olimpo finalmente resolvessem me presentear com algo bom, ela também se apaixonou. E a gente foi feliz, até onde deu.

O mais legal disso tudo é que eu não tive coragem de dizer a ela que estava apaixonado enquanto ela namorava o outro cara. Deixei assim ficar subentendido. Não era, não é e nem nunca será meu objetivo de vida ver quem eu amo infeliz. Se o namoro estiver fazendo bem, jamais direi, mesmo que eu esteja perdidamente enamorado, que o lugar da criatura é ao meu lado. Talvez falta de coragem, talvez respeito. Eu não tenho o direito de me intrometer na vida de ninguém. Eu não quero ser feliz deixando o meu semelhante infeliz. É estilo de vida.

Escrevo estas malfadadas linhas pra tentar entender onde estou errando. O mais óbvio é que me falta coragem, mas não me falta razão. Se eu não tive atitude em certos momentos da vida é porque isso era o certo a fazer. Não cobre e nem passe na minha cara o quanto eu vacilei. Eu, mais do que qualquer um, sei onde estão meus erros e o que fazer para corrigi-los. Desperdicei um projeto maior em minha vida por respeito ao meu semelhante, que, com certeza, ficaria infeliz ao saber da história. E repito: não gosto e nem quero ver quem eu amo infeliz. Nem mesmo você.

Por isso, é hora de arrumar as gavetas (resgatando uma velha metáfora minha) e recomeçar de maneira mais sensata e prudente, com uma pitada de coragem e aventura a gosto do freguês.  Creio que certas histórias ainda se repetirão, mas seguirei firme em meus ideais. Maturidade é aprender a conjugar a vida. E isso, minha cara, eu sei de sobra... Adeus e até mais!


sábado, 12 de janeiro de 2013

Amores são terríveis, sabia?

Amores não são terríveis. Amores são amores, feitos de alegria, compreensão e beijo na boca. Amores são diários, cotidianamente escritos com caneta esferográfica de tinta preta. Amores são pores do sol no Terminal de Integração da Praia Grande, perto do VLT. Amores são duas almas em perfeita sintonia, alinhadas feito eclipse total da lua. Alinha-se a vontade de ter um amor com a vontade de ser amado. Amor é pecado. Amar é ter com quem pecar.

Amores são terrivelmente belos. Beleza que não se admira em exposição de arte ou desfile de moda. Amores são uns bobos, rolando na grama depois da primeira chuva do ano. Amores se encontram na fila do cinema, em uma sessão esgotada para o futuro ganhador do Oscar. Amores, muitas vezes, nem sabem que são amores. Xingamentos, beliscões, risos amarelos e amores. Afinal, quem está preparado pra amar? Amar não é despreparo, surpresa, estar desengonçado frente ao amor? Amar não é simplesmente amar?

Amores são terríveis. Acabam com o juízo, proporcionam a insônia, afetam o metabolismo. Pra desregular, basta amar! Amores se desencontram tentando se encontrar e acabam perdidos no meio do nada. Amores são decadentes com elegância. Amores são elegantes em decadência. Só não me peça pra parar de amar. Não me peça pra parar de perder o juízo, ficar sem dormir ou manter-me desregulado. Só não me peça pra parar de ser terrivelmente amor.

Amores são amores. E só. Dois, três, quatro amores. Dores. Pores do sol na Praia do Calhau falando sobre ex-amores. E se tu fores pra nunca mais voltar? Fico aqui ou procuro um novo amor? Vou-me embora pra Pasárgada pra ser amigo de quem? Nem o Rei me quer mais em suas terras. Alega que não tenho um amor, desses de contos de fada, desses de poema do Drummond. Minha vida é uma quadrilha, onde sequer J. Pinto Fernandes aparece na história. Cadê você, amor? Vou me precipitar no caos com essa coleção de objetos de não amor. Amores tecem dores. Amortecedores. Freio em mim mesmo. Freio a mim mesmo. Amores são terríveis? Sim, da pior espécie que possa existir!


sábado, 5 de janeiro de 2013

A expectativa é a última que morre

Dia desses, falei pra um grande amigo meu que o maior mal do ser humano é criar expectativas demais. Nós conversávamos sobre vida, futuro, defeitos, mulheres, carreira, a palavra mais bonita do dicionário, a mais feia, intimidades, solidão, sentimentos... Dentre as dezenas de assuntos que surgiram no sofá daqui de casa, ‘criar expectativas’ martelou minha cabeça por muito tempo. Tanto a ponto de eu achar que merece algumas considerações em forma de texto.

Ontem, por exemplo, saí de casa carregado de expectativas. E o pior: negando a mim mesmo que eu estivesse esperando por algo. A gente sempre enxerga nas novidades a saída para nosso desespero. E a novidade era o máximo, o paradoxo estendido na areia, como diz Gil. Não é que não tenha sido bom. Só não foi bom o suficiente. Um coito interrompido, sem roupas jogadas no chão. Acho que faz parte de um plano maior, algo a ser aproveitado melhor daqui pra frente. Como sou otimista...

Otimista porque ontem eu pensei que não fosse ter outra discussão de não relacionamento. A pessoa surge como quem não quer nada, expõe todas as suas mágoas, você se sente a pior pessoa do mundo, promete mudar e, no final, seus corpos estão coladinhos feito casadinho de festa de aniversário. Eu não sei se quero resolver todos os meus problemas desse jeito. É bom, é digno, mas é o certo? Quando, afinal, você vai entender que não somos nada além de nós dois - separados?

Outra expectativa insana é achar que cuidar de alguém vai fazer com que ela enxergue você com outros olhos. Eu adoro distribuir atenção, carinho, cuidar das outras pessoas, mas sempre espero que isso seja recíproco. E quando não é, machuca! Todo mundo me diz pra parar de esperar das outras pessoas atitudes que se encaixem perfeitamente àquilo que eu quero, afinal, o mundo não gira ao redor do meu umbigo. E eles estão certos. Mas eu continuo acreditando que dá pra criar um “umbigocentrismo” de vez em quando...

Já virou rotina: aquilo que deveria ser só diversão sempre acaba em diversão e algo mais, carregado de expectativas futuras. Minha ex-namorada dizia – e quem acompanhou meus textos antigos sabe disso – que é melhor planejar ser pego de surpresa. É muito mais cômodo deixar que seus sentimentos sejam controlados pelo acaso, mas apimentá-los com doses de expectativa dá muito mais emoção. Ela, ao contrário de mim, sempre esperava pelo pior, mas tinha uma explicação racional para esse pessimismo: dizia que, esperando pelo pior, a gente não se frustra tanto como se estivesse aguardando o oposto. Vai ver é isso mesmo: esperar pelo pior, mantendo a fé de que tudo vai dar certo. Com uma pontinha de esperança, escondida no recôncavo mais íntimo de seu nobre ser. Ou não ser, eis a questão!