Fui acostumado pela vida a gostar das coisas impossíveis. A
primeira guria por quem fui timidamente apaixonado fazia a quarta série do
ensino fundamental enquanto eu estava na segunda. Via aquele corpo de menina
mais velha todos os dias da semana, às 7 e meia da manhã, chegando em um carro
dirigido, provavelmente, por seu pai. Nunca tive coragem de contar a ela como
era engraçado a vertigem que me dava quando a via. Nunca deixei transparecer o
quanto eu gostava de escutá-la cantando ‘Devolva-me’ da Adriana Calcanhoto para
minha professora da época. Seu nome? Gabriela, feito a musa de Jorge Amado.
Nome completo? Uma visita escondida, quase uma aventura, por sua sala de aula
em busca da lista de frequência. Era um prelúdio do que estaria por vir.
Meus amores platônicos dos últimos 10 anos me tornaram
alguém mais forte. Eu nunca tive coragem de dizer a nenhuma delas o que sentia.
No máximo, alguém descobria, contava e eu ficava com cara de bobo quando tinha
de encará-las. Uma delas se aproveitou desse gostar, me pediu 70 centavos,
prometeu pagar no dia seguinte e até hoje me deve. Ainda penso em ajuizar uma ação
pedindo o pagamento, com juros e correção monetária.
Ainda sobre coisas impossíveis, eu me apaixonei por uma
garota que tinha namorado. Não um desses namoros modernos, que acabam logo
depois que começam. 3 anos, famílias, segredos, histórias, fotografias. Não era
inveja, era vontade de ser feliz com alguém – e era ela a escolhida. Seus
cabelos negros e sua pele branca denunciavam que eu seria especialista em me
apaixonar por princesas, como seu pai gostava de chamá-la. De um jeito maluco,
como se os deuses do Olimpo finalmente resolvessem me presentear com algo bom,
ela também se apaixonou. E a gente foi feliz, até onde deu.
O mais legal disso tudo é que eu não tive coragem de dizer a
ela que estava apaixonado enquanto ela namorava o outro cara. Deixei assim
ficar subentendido. Não era, não é e nem nunca será meu objetivo de vida ver
quem eu amo infeliz. Se o namoro estiver fazendo bem, jamais direi, mesmo que eu
esteja perdidamente enamorado, que o lugar da criatura é ao meu lado. Talvez
falta de coragem, talvez respeito. Eu não tenho o direito de me intrometer na
vida de ninguém. Eu não quero ser feliz deixando o meu semelhante infeliz. É
estilo de vida.
Escrevo estas malfadadas linhas pra tentar entender onde
estou errando. O mais óbvio é que me falta coragem, mas não me falta razão. Se
eu não tive atitude em certos momentos da vida é porque isso era o certo a
fazer. Não cobre e nem passe na minha cara o quanto eu vacilei. Eu, mais do que
qualquer um, sei onde estão meus erros e o que fazer para corrigi-los.
Desperdicei um projeto maior em minha vida por respeito ao meu semelhante, que,
com certeza, ficaria infeliz ao saber da história. E repito: não gosto e nem
quero ver quem eu amo infeliz. Nem mesmo você.
Por isso, é hora de arrumar as gavetas (resgatando uma velha
metáfora minha) e recomeçar de maneira mais sensata e prudente, com uma pitada
de coragem e aventura a gosto do freguês. Creio que certas histórias ainda se repetirão,
mas seguirei firme em meus ideais. Maturidade é aprender a conjugar a vida. E
isso, minha cara, eu sei de sobra... Adeus e até mais!