segunda-feira, 25 de abril de 2011

O outro lado das fadas

Quem nunca se encantou com o mundo mágico dos contos de fada? Além de ser nosso primeiro contato com a Literatura, embarcar nessa viagem por entre castelos, bruxas e princesas desenvolve ricamente nossa imaginação e nos torna pessoas melhores, sedentas por um final feliz. Por outro lado, há quem diga que preparar-se para as adversidades da vida sem a leitura obrigatória desses clássicos é bem melhor. E aí, o que fazer? Predispor uma criança para a vida contando sempre a verdade ou instigá-la a ser um pouco mais otimista?

Hollywood parece que entendeu qual caminho seguir. Na última sexta-feira, teve início a temporada fantasiosa nos cinemas com a estreia de “A Garota da Capa Vermelha” (Red Riding Hood, EUA, 2011). O filme, baseado no clássico conto da Chapeuzinho Vermelho, leva adolescentes e adultos ao delírio com o misto de retorno à infância e realidade temporal. Cercada por uma trama que vai além dos “doces para a vovozinha”, a película, que tem direção de Catherine Hardwicke (de Crepúsculo e Aos Treze), nos envolve na consagração do lobisomem como novo queridinho universal. Afinal, já passava da hora de dar um descanso aos vampiros.

No filme, Valerie (Amanda Seyfried) é uma jovem moradora do vilarejo de Daggerhorn, atormentado pela iminência de invasões de lobisomens. A garota nada tem a ver com os ataques até sua irmã ser brutalmente assassinada pelo monstro. A partir daí, os moradores da aldeia juram vingança e partem para a perseguição contra o tal lobo. A coisa fica mais tensa quando o Padre Solomon (Gary Oldman), famoso por sua caça a esses “demônios”, chega à cidade e afirma ser um dos moradores o verdadeiro culpado pelos crimes.

Além disso, como não poderia faltar e em meio a tanto medo, Valerie se vê dividida entre ficar com seu verdadeiro amor ou casar-se com um rapaz rico, prometido pela família. Uma espécie de pano de fundo para mexer com o que realmente importa no filme: o mistério e os motivos, românticos ou não, que levam o lobo mau a atacar a comunidade. Para os carentes da vovozinha, uma triste constatação: ela não está tão viva e aumentativa como nas velhas histórias.

“A Garota da Capa Vermelha” inaugura um período de adaptações de contos de fada para o circuito. Nesta sexta, 29 de Abril, estreia “A Fera”, baseado no dilema de aparências de “A Bela e a Fera”. Do lado das animações, “Deu a Louca na Chapeuzinho 2” busca ganhar o público realmente alvo dessas histórias, com uma versão cheia de paródias e humor, revirando esses contos pelo avesso. Ainda em pré-produção, “Snow White and the huntsman” quer trazer o mundo da Branca de Neve e os sete anões para mais perto de nós. E acertou na escolha da protagonista. Kristen Stewart, a musa da saga Crepúsculo, promete fazer sucesso em mais essa sacada da terra de fantasias que é Hollywood.

Válido se encantar com essas histórias tão famosas desde o século XIV, na tentativa de trazer de volta a criança ingênua que já habitou em nós durante um tempo. Uma criança que acreditava em lobo mau, beijo que transforma sapo em príncipe e “viveram felizes para sempre”. Bem melhor que a realidade, você não acha?

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Depressão da depressão

Somos depressivos por natureza. Desde cedo é assim. Você, ainda criança, vivia fazendo birra porque não ganhava aquela boneca ultramoderna dos comerciais da televisão. Pré-adolescente, faltava suicidar-se porque não conseguia ir aos shows bacanas de sua cidade ou à balada que seu irmão mais velho frequentava. Jovenzinho, passava noites em claro chorando e pensando no real motivo para aquela garota não querer você. E hoje, nada disso importa. Somos os mesmos, com outras depressões.

Ultimamente, uma moda tem caído no gosto dos usuários do serviço de microblog Twitter e conquistado cada vez mais seguidores: os perfis de depressão. Eu mesmo sigo uns 7. Não entendeu o que seriam esses tais ‘perfis de depressão’? Explico. Sábado à noite, todo seu círculo de amizade na farra e você em casa porque tem que entregar um relatório para seu chefe na segunda-feira. Hoje em dia, não basta lamentar-se com o cachorro, tem que compartilhar a lamentação no Twitter. Pensando nisso, foram criados perfis unicamente para postar os desgostos mais comuns de todo mundo em várias áreas de atuação.

Curte música indie, vive cantando em todo lugar, mas ninguém conhece aquela banda folk da Bélgica? O @indiedadepre te entende. Nunca soube direito o que diabos Djavan quer dizer com “Açaí, guardiã, zum de besouro, um ímã. Branca é a tez da manhã”? O @mpbdadepressao te dá uma mãozinha. Sua depressão é crônica e você se sente o pior dos mortais? Siga o pioneiro @caodadepressao e identifique-se. O número de perfis como esses é crescente e alguns deles podem ser vistos nessa rápida pesquisa feita no próprio microblog.

Entretanto, é importante ressaltar que essas são depressões passageiras, nada comparadas às reais, que assolam psicologicamente muita gente por aí. Essas do Twitter passam após um comentário de alguém que está na mesma situação que você ou mesmo depois de um Retweet, que consiste em repetir em sua página o que alguém falou anteriormente. Mais uma prova de que o ser humano só se consola quando vê seu semelhante na mesma situação que ele.

E graças a essa condição de ser humano é que deixar a depressão nos vencer não é permitido. A vida é bela, como dizia Benigni. Todos os nossos traumas nos tornaram, tornam e ainda vão nos tornar mais fortes. Alguns são mais poderosos, mas nossa sede de viver sem certos medos deve ser maior. Tristeza não é passaporte para nada. Depressão é sentença de afastamento, fraqueza e falta de força de vontade. Aliás, mais conhecida como doença. Portanto, evite essa doença e encare em 140 caracteres suas depressões passageiras.

Não desanime com uma derrota. Amanhã tem mais! #todoschora

domingo, 10 de abril de 2011

Corra, vida. Corra!

Corra, querido. Eu sinto muito, mas não posso alcançá-lo. Não posso alcançar seu desejo, tampouco negar o que sinto. Corra, querido, antes que seja tarde demais. Saia de perto do fogo. Lembre-se: eu não prometi queimar você. Respeite a minha linha amarela, o meu sinal vermelho. Escolha o seu caminho, longe de mim, longe da sua melhor ambrosia, do melhor mel daquela abelha que picou você em nosso primeiro encontro. Corra em direção ao vento, saia debaixo da chuva. Entenda que tempestades vêm e vão. Elas vêm e vão. E eu também sou assim. Feito também, mas com uma diferença: eu não aviso que estou pra cair. Eu venho caindo há muito tempo. Cada pingo, cada gota de chuva é como se fosse um aviso. Um aviso pra você correr. O mais rápido que puder. Pra perto de mim.

*Postado originalmente no blog Baladas de Calçada, um projeto paralelo que, ainda, não deu muito certo.