domingo, 28 de julho de 2013

Bem, Rainha!

Parabéns, você conseguiu! Onipresente, destruiu todos os planos que eu havia feito para um dia perfeito. Venceu uma partida do jogo de xadrez do sentimentalismo teletransportando-se mentalmente para o cérebro da Rainha. Xeque-mate! Com toda franqueza, não te desprezo. Com toda fraqueza, só peço que pare. Aliás, você já não faz mais nada. Você está e não está, magoando pessoas que estão magoando outras criaturas exatamente agora. Triste fim.

Mas você despertou a ira do amor. E isso eu não posso consentir. Tudo o que você plantou sem querer começa a querer devorar o querer bem. A atenção, o cuidado, as inúmeras tentativas de agradar, agora se tornaram ervas daninhas capazes de consumir até fogo, se eu assim deixar. Só que essas ervas daninhas carregam um bem precioso demais pra eu cortar o mal pela raiz. Minha cabeça anda confusa e o único jeito que eu tenho pra resolver isso é confiar no Bem magoado. Talvez ele tenha a saída. O Bem e o Tempo.

Eu tenho medo que a Rainha se perca. Confundida pelo Onipresente, acredite piamente que ele estará lá sempre que ela precisar. Eu estarei. Guiado pelo Bem, se assim Deus me permitir. Só que eu tenho medo que o Bem se canse e que perca as forças paulatinamente, me deixando desnorteado e sem ânimo para continuar. Venho de um confronto direto com o Onipresente, que me deixou cicatrizes profundas, todas curadas com muito suor e lágrima. Disseram-me que o Bem tinha as respostas. Acho que ele as tem.

Derrotado na primeira batalha, não me acomodarei. A guerra em busca da Vida está só começando e eu não abro mão dessa vitória de maneira alguma. Tenho minhas armas e vou usá-las com a maior parcimônia possível. A arte da guerra, já ouviu falar? Guerra de tronos. Pelo Bem da Rainha. Pela Rainha de Bem.

Bem, Rainha, a sorte está lançada!


sábado, 6 de julho de 2013

Contos de Whisky IX

- Tô aqui pensando. Quem faria um sobrado de cara pra parede? Olha lá, totalmente fora dos padrões de arquitetura. Coisa de gente louca. Um dia ainda vou embora dessa cidade!

Natasha não falou por maldade. Sentada no banco de uma praça próxima ao casarão aparentemente mal feito, a garota procurava maneiras de evitar uma iminente discussão com a namorada. Nicole havia trabalhado o dia inteiro numa dessas lojas de shopping e só queria ver o pôr do sol com a companheira. Natasha queria beber, fumar e, quem sabe, transar num desses motéis baratos do centro da cidade. Nicole queria ficar ali, abraçadinha com quem ela sentia ser o amor de sua vida.

Nicole carregava inúmeros complexos em sua cabeça de ex-adolescente. Namorados traumáticos, família superprotetora, faculdade interminável. Não reclamava porque gostava de tudo daquele jeito, feito o exercício do caos. Ultimamente, tinha pedido aos deuses uma paixão arrebatadora, apelando, inclusive, para o vestido vermelho e para a calcinha cor de rosa na noite de Réveillon.  Dito e feito. Natasha apareceu durante o maior porre da vida de Nicole, em uma boate gay, lugar onde a patricinha nunca havia pisado antes.

Natasha era totalmente o oposto de Nick, como gostava de tratá-la. Rockeira desde a adolescência, a garota de quase 22 anos era o que eu posso chamar de ‘a personificação da loucura’. Uma loucura boa, eu diria. Vodka, cachaça, uísque, cerveja, destilados diversos e álcool capaz de colocar uma frota inteira de carros bicombustível pra atravessar os 890 metros da Ponte do São Francisco. Como eu gostava dessa garota. Como eu gostei de observá-la bêbada jogada no banheiro da casa de uma das amigas lésbicas sem sequer saber onde estava. Como eu gostei de vê-la em sua casa, vomitando em plena segunda-feira depois de um porre de vinho barato. Minha ébria preferida!

Nicole beijou Natasha por causa da carência. Havia visto o perfil do ex-namorado sendo atualizado para ‘em um relacionamento sério com uma puta qualquer’ e foi beber. Bebeu até que fez amizade com Natasha, que se aproveitou do ‘nenhum homem presta, né amiga?’ e a fez descobrir que a cura para aquilo poderia estar em peitos e bundas. E em línguas. Entrelaçadas, descobriram que toda aquela volúpia poderia significar algo a mais. Foi quando a patricinha percebeu que Natasha era chave de cadeia, confusão para a família perfeita, a mulher da sua vida. Foi quando percebeu que estava amando outra mulher.

3 meses de relacionamento e as duas já pareciam almas gêmeas de comédia romântica. Amassos quase diários, ligações até 2 da manhã todos os dias, mentiras para a mãe, festas, sexo pelo Whatsapp. Nicole e Natasha se amavam e faziam questão de dizer isso uma a outra diariamente. Mas Natasha percebeu que ali não tinha clima como da primeira vez que transaram. Percebeu que Nicole só precisava de amor e descobriu de uma maneira bem frustrante que a namorada não pensava em fazer sexo. Nicole era do tipo que fazia amor, todo dia, toda hora, enquanto ajeitava o cabelo de Natasha, enquanto a abraçava, enquanto a beijava. Natasha se lembrou dos tarados com quem ficou, das meninas drogadas com quem transou, da única pessoa que amou antes de Nick.

Foram embora, sem beber, sem fumar, sem transar. A seguir, a mensagem de texto que a de quase 22 mandou para a de 18 logo depois de pôr os pés em casa naquela noite:

- Te quero na parada de ônibus, no sofá da minha casa, no terraço da sua. Te quero fazendo sol ou chuva, dia ou noite. Te quero sorrindo ou chorando, triste ou feliz. Te quero com ou sem roupa. Apenas te quero. Tu é meu sonho, o meu amor. Meu verdadeiro e eterno amor!