domingo, 27 de setembro de 2009

Um ensaio para a vida

Pôr à prova todos os conhecimentos adquiridos durante a vida escolar. Eis a função primordial do vestibular, esse bicho de sete cabeças que há tanto atormenta a vida de jovens e pessoas interessadas em alcançar um futuro melhor. Seja por causa da pressão psicológica exercida pela família e pela escola, seja pela tensão no momento da escolha profissional ou seja por causa da ansiedade nos momentos que antecedem a prova, o vestibular tem toda uma fórmula para deixar qualquer inscrito louco. A concorrência assustadora, as questões dificílimas, a fiscalização carrasca e alguns imprevistos fazem do vestibular um verdadeiro teste emocional, com algumas ressalvas futuras.
 
O prazer de passar em uma prova dessas é inigualável. A família comemora, a escola percebe que todo o trabalho de uma vida não foi em vão, você descobre que é capaz de muito mais do que imaginava e o êxtase do momento toma conta de tudo. Aquela ex-namorada que há muito não fala com você põe o orgulho de lado e vai parabenizá-lo, aquele seu ex-professor que dizia que você não iria passar aparece no churrasco do sábado à tarde, aquele carinha que chamou você de burra na 6ª série vai pedir dicas pro próximo vestibular e por aí vai… Nada foi em vão. Pena que você ainda não passou!
 
O teste emocional começa na saída do local de prova. A questão 33, de acordo com aquele garoto de óculos que tem a maior cara de nerd, não tem alternativa correta. Mas aquela sua amiga que sabe tudo de história jura de pés juntos que a alternativa C é a certa. Puxa vida. Você errou! Pensou em colocar C, mas acabou marcando D no gabarito por achar que Napoleão não havia morrido na Ilha de Santa Helena. Onde estaria o Manoel Carlos em uma hora dessas que não ajudou você?! E a tensão continua…
 
E o vestibular é chato. Já que você não vai conseguir lembrar de tudo o que aprendeu durante a vida, o melhor mesmo é sair decorando milhares de fórmulas de matemática e física para pelo menos acertar uma questão dessas matérias. Sem falar naquela perda de tempo que é marcar gabarito. Por que não deixam simplesmente escrever um X naquele quadrinho? Mas sabe, isso, no futuro, vai mudar…
 
Neste fim de semana, o Ministério da Educação vai colocar em prática a primeira parte do projeto de reestruturação da educação no Brasil. A utilização do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) como forma de seleção para entrada nas principais universidades do país é o primeiro passo para tentar melhorar a situação educacional em nossa pátria. É o fim da decoreba e o começo da exigência por um maior raciocínio crítico dos alunos. Entretanto, não é o fim da tensão, visto que a função desse exame ainda é a mesma do vestibular tradicional: testar o conhecimento adquirido em toda sua vida escolar.
 
O ENEM, que já existe há 10 anos, é complexo, mas nem se compara aos testes de outrora. A resposta tem ligação direta com a pergunta e existe uma contextualização. O aluno esperto é capaz de acertar a questão olhando apenas o enunciado. O Novo ENEM é a solução mirabolante que o governo queria encontrar. O ideal agora é colocar o maior número de pessoas na faculdade e preparar o Brasil para um futuro promissor. Um pequeno passo para o estudante, mas um grande passo para entrar na universidade…

domingo, 13 de setembro de 2009

Lados e opostos

O único lugar vago era aquele, do meu lado
Ela entra, se envolve na lotação
Meus fones de ouvido ecoam a música mais romântica
Ela se aproxima
Paga o que tem que pagar e passa pro meu lado
 
O único lugar vago era aquele, do meu lado
E ela se recusa
Despercebido, olho pela janela
A tarde parece mais azul, meio colorida
Meu lado parece mais cinza, meio desbotado ou coisa assim
 
Sem que eu perceba, chega alguém e preenche aquele vazio me oferecendo um sorriso
Retribuo e descubro
Que nem sempre quem você amou um dia
Quer sentar-se de novo ao seu lado…
 
Marcos Lima

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Morte aos independentes

Mais um feriado sem grandes pretensões. Acordo, faço companhia às visitas da manhã, tomo meu café quente, reclamo da tosse que insiste em me acompanhar e venho pra tela deste computador. As notícias não me impressionam mais. Aquela velha litania dos dias Independentes de outrora só serve pra me frustrar ainda mais. Os canais de TV dão dinheiro a quem provar ser patriota, como se patriotismo precisasse ser provado. Mas será que não precisa? Preocupante…
 
Sabe, às vezes me pego pensando se sou realmente independente. Apesar da pouca idade e da assombrosa responsabilidade que me recai, vejo que, embora tenha liberdade em vários aspectos, ainda são os outros quem pensam por mim. E não é questão de ter a cabeça fraca ou coisa assim. Os outros pensam e agem antes que eu possa dizer sim ou não, refletindo em minhas atitudes mais pessoais. E descubro, através de mim mesmo, que não tenho - nem nunca terei - a independência que um dia conquistaram.
 
Dom Pedro deveria ter pensado mais antes de sair gritando às margens de um rio qualquer. De que adiantou fazer todo esse alarde se a liberdade de um povo não se concretiza com a fala de um único homem? Até Eugène Delacroix representa melhor a autonomia do que esse imperadorzinho tarado do século retrasado. É cada uma que nos aparece. Um português metido a herói, com pinta de Don Juan, mas um tremendo cafajeste. Espera, e se eu fosse Dom Pedro? E se o Brasil ainda fosse uma monarquia e estivéssemos lutando há 509 anos por uma independência econômica, social e política?! Vejamos o que posso fazer…
 
Já que não moro com meu pai, receberia o trono de minha mãe, a Rainha Maria Serrate. Por ter 17 anos, acredito que uma camaradagem de um parente qualquer me colocaria no poder antes da hora, como já aconteceu por aqui. O Primeiro Ministro seria o Lula, pelo seu ótimo desempenho como chefe de Estado, apesar dos pesares. Os governadores e prefeitos ficariam como estão – culpa dos eleitores. Minha esposa seria escolhida através de um concurso pela internet. Tudo o que eu estivesse fazendo seria postado no Twitter oficial de Dom Marcos pela minha assessora bonitona, com quem eu teria um caso.
 
O acesso à Universidade seria através do Novo Exame Imperial do Ensino Médio – o NEIEM. A reforma ortográfica, a descoberta do pré-sal, a corrupção no Senado e a morte de Michael Jackson seriam anunciados por um grito de três palavras em rios diferentes. “Hífen ou acento” no Rio Solimões, AM; “Sal ou petróleo” no Rio do Sal, DF; “Sarney ou nada” no Rio Maranhão, DF e “Black or white” no Rio Negro, AM!! A televisão transmitiria o “Big Brother Imperial” e  “A Fazenda Imperial”, sendo que os vencedores levariam pra casa o prêmio de um milhão de réis, que valem mais do que dinheiro. E eu só sentado em meu trono vendo um Estado Laico se desenvolver sem discussões acaloradas entre a Globo e a Record.
 
Esse seria o Novo Brasil Império, bem mais moderno, tolerante e não menos diferente. Para os que não sabem, de 30 em 30 anos é realizado um plebiscito para a escolha da forma e do sistema de governo do Brasil. Em 1993, a República Presidencialista conseguiu uma vitória esmagadora sobre a Monarquia Parlamentarista, aqui retratada. Em 2023 teremos uma nova chance de mudar esse quadro, para melhor ou para pior. Não sei ao certo se sou a favor da República ou da Monarquia – não vejo muita diferença. O fato é que, caso as propostas desse sistema de governo se adequem às necessidades do povo, é óbvio que optarei por ele, assim como faço e farei em todas as eleições.
 
O Brasil tem mesmo essa dualidade, essa necessidade de escolha. O brasileiro é dúbio e eu continuo sendo dependente dessa ambiguidade. Se nem cantar o hino nacional estamos sabendo, imagine andar com nossas próprias pernas em um país cheio de diferenças e segregações. Das duas, eu prefiro a morte…