sexta-feira, 17 de junho de 2011

A Europa é aqui

Todo mundo quer ser europeu. Todo mundo quer falar inglês, francês ou alemão. Conhecer a Cidade Luz, passear por entre as ruínas do Coliseu, visitar a Rainha. O fato é que ser europeu significa ser chique, ditar poder. E a culpa disso tudo pode estar justamente na hegemonia que esse continente deteve sobre o resto do mundo até pouco tempo atrás. Mas afinal, quais os efeitos da Europa em nós, meros americanos colonizados? Nossa identidade vale alguma coisa ou somos apenas espelho do Velho Mundo?

A globalização tornou tudo mais fácil, mas também pormenorizou certos aspectos culturais, como, por exemplo, a língua nativa de determinados povos. Falar português não tem o mesmo valor de mercado do que falar inglês. O fato de a língua portuguesa não ter alcançado a visibilidade que a inglesa alcançou é, com certeza, a principal razão para isso. Mas devemos ponderar. É cada vez maior o número de adolescentes que usam as redes sociais para popularizar ainda mais uma língua que não seja a sua. No Brasil, falar outra língua tornou-se grau de elitização. Louvável até, quando não há segregação.

Turismo, estudo, trabalho. Quanto mais fugimos de nossa cultura, mais somos valorizados. Se falamos 3 línguas, estamos aptos a exercer a presidência de uma empresa ou garantir aquela bolsa de estudos tão almejada. Herança europeia, que sempre negou nossa identidade, nosso jeito de ser. Fomos forçados a crer em seu Deus, a vestir o que eles vestiam, a falar o que eles falavam. Somos meras cópias, as quais tentamos repintar de tempos em tempos. O jeitinho brasileiro, a garra do povo e a própria população são apenas adaptações de costumes alheios, os quais até hoje tentamos imitar.

Ouve-se música estrangeira e detesta-se o popular, o nacional. Valoriza-se o idioma oficial de um filme, por exemplo, e nega-se a dublagem, o nosso falar. Infelizmente, talvez a única coisa realmente brasileira nesse emaranhado de plágios seja a natureza de nosso país, tão rica e grandiosa, inspiradora até na representação da bandeira da nação. Enquanto países europeus usam seus ideais, lutas e revoluções através de cores em suas bandeiras, no Brasil optou-se por valorizar nossa maior riqueza: a natureza. Ponto para nós.

Entretanto, não deve-se negar a importância que a Europa teve em nossa história. Somos gratos por tudo (ou pelo menos por quase tudo), mas seria bem melhor que construíssemos nossa própria identidade sem o auxílio de nenhuma metrópole. A Semana de Arte Moderna, em 1922, propôs isso; uma produção cultural e artística genuinamente brasileira, sem nenhuma interferência europeia. Deu certo.

E agora? Não seria o momento certo para valorizar nossa identidade e querer ser brasileiro? Desenvolvimento, visibilidade no exterior, capacidade de interferência nos grandes assuntos mundiais e você aí querendo ser inglês? Não seria a hora de rever seu próximo roteiro de viagem? Conhecer Curitiba deve ser bem mais legal que ir a Londres.

domingo, 12 de junho de 2011

Quebra-mar

Sentados no quebra-mar, faziam juras de amor
Não sabiam ao certo no que aquilo iria dar
Ela pedia atenção, ele exigia cuidado
Ela queria carinho, ele espalhava afago
Passos incertos, futuro na cara. Nenhum admitia.


Fim de tarde, pôr do sol, quase lua
Lua cheia. De desejo, de entrega, de luz
Mar calmo, quieto, simplório
Barulho zero, torpor à flor da pele
Eram os únicos da ilha, palco de toda dor.


Queriam coisas novas, tiveram novidades
Queriam coisas certas, tiveram inverdades
Negaram coisas prontas, enxergaram intimidade
Negaram coisas mortas, chegaram na idade


De viver e viver e viver
Mais um pouco, aonde der
Com você, sem você
Se esse quebra-mar quiser.


(Marcos Lima)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sabedoria de um escritor

Eu sei que você me lê. Eu sei que ainda compra meus livros escondida e diz por aí que são só uma fonte boba para sua pesquisa de mestrado. Eu sei de tanta coisa e não sei de quase nada. Não sei se me ver no ônibus carregando uma pasta preta te dá agonia ou pena. São somente edições de uma história que eu não queria contar, mas que acabei sendo obrigado pela vida a fazer. Sei também que eu poderia ter sido mais. Mais humano, mais digno, mais interessado, mais eu mesmo. Poderia ter sido menos também. Menos mandão, mal-humorado, menos afastado ou ciumento. Só não entendo por que ainda se esconde. Por que vira a cara toda vez que me vê, por que aparece em meus visitantes recentes no mundo virtual, por que resolveu ser assim. Machuca não ter você como fã. Machuca não saber se minhas vírgulas estão bem posicionadas, se meus adjetivos estão bem expressivos ou se meus pontos estão realmente pontuando alguma coisa. Machuca não ter você, sabe?! Não, não sabe. Não sabes de nada o que passa por aqui, pobre cristã. Não sabe se estou gordo, magro, calvo, velho, bonito ou feio. Só sabes que virei escritor. Um escritor bobo, desses que vira cada esquina procurando inspiração. Desses que ainda guarda um amor antigo na palma de sua mão. E que só pede uma coisa: que saibas - e entenda - que não te esqueci.