sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Pra sonhar

Por Talita Plum*

Já pensou se acabássemos nossas vidas juntos? Que loucura, né? Viver juntos para todo o sempre, juntar escovas de dente e sonhos em uma mesma mala, caminhar na mesma estrada e olhar na mesma direção, por cinco, dez, vinte, uma eternidade de anos. Já pensou na escolha do nosso apartamento em Copacabana, como eu quero, ou em uma casa em Ipanema, como você almeja? Nós brigaríamos pra ver qual escolha se tornaria decisão, e discutiríamos, também, por causa da cor da cortina e da parede. Eu gosto de laranja, já você prefere o vermelho. E, no fim, a cortina seria amarela e a parede azul. 

Mas será que você realmente já parou para imaginar como seria a nossa vida a dois? Todas as manhãs me vendo acordar de aparelho e eu tendo que aguentar suas manias enquanto dorme. Minha bagunça te irritaria e a sua organização me estressaria de um jeito que nem sei descrever. Minhas roupas e sapatos ocupariam metade do guarda-roupa e você se sentiria sem espaço. Eu escutaria música no último volume, um rock bem pesado, enquanto você pediria para abaixar e pôr algo mais acessível aos seus ouvidos. Eu te chamaria de fresco e você, por birra, seria mais ainda.

E assim levaríamos e levaríamos, até a chegada dos nossos filhos, os quais seriam as criaturas mais amadas desse mundo – um menino e uma menina, como nós combinamos. Você iria querer transformar a garota em uma boneca, enquanto eu seria contra, dizendo que mulheres são mulheres, não Barbie’s. Com o menino, você seria demasiadamente rígido, enquanto eu diria pra não exagerar tanto. E, mais uma vez, brigaríamos – agora por causa da educação dos nossos filhos. 

Algumas noites seriam bem ruins e sofridas. Porém, diferente de qualquer outro casal, a cada briga nós nos amaríamos mais, pois você se viraria para mim e diria que compraríamos o apartamento em Copacabana, enquanto eu pensaria nos nossos futuros filhos e veria que uma casa seria melhor (desde que tivéssemos uma empregada). Por causa da sua mania em pôr as roupas em cima dos móveis, eu mostraria o meu lado dona de casa, que odeia desarrumação e você começaria a dar valor na bagunça. Depois de um tempo, você se acostumaria com os solos de guitarra e se juntaria à minha festa, enquanto eu abaixaria um pouco o volume, para não te deixar surdo. A nossa linda garotinha seria uma princesa, como você sempre quis, mas também seria uma mulher decidida e inteligente como a mãe, a qual você escolheu pra ser sua esposa. E o garoto seria criado por um pai forte e severo, mas que saberia amá-lo e passar a mão em sua cabeça nas horas certas.

Nossos problemas seriam o combustível pra continuar a nossa vida a dois, sempre caminhando de mãos dadas e bocas seladas. Você calçado e eu descalça; você de terno e gravata e eu de short e chinelo; você advogado e eu historiadora. Diferenças gritantes, mas que se extinguiriam quando, nos quartos ao lado, as crianças fechassem os olhos, e nós nos entregássemos um ao outro, mão com mão, pé com pé, sua boca na minha, em um ritmo louco, frenético e muito apaixonado. Não seríamos eu e você: seríamos nós! Um só corpo, uma só alma.

Volto a repetir: que loucura, né? Com certeza, uma loucura! Porém, mais loucura ainda seria se não acabássemos juntos, vivendo tudo isso e algumas cositas a mais. Loucura seria se eu não voltasse à sua casa depois de uma briga e deitasse no chão. E mais loucura mesmo seria se você não adoecesse e eu não me preocupasse ao ponto de ir cuidar de você. Loucuras e mais loucuras. A maior loucura seria se eu não quisesse passar o resto dos meus dias colada a você. À sua pele, à sua barba, à sua perna, ao seu corpo, ao seu destino. 


*Talita Plum - 19 anos, graduanda em História e Senhora do Tempo!

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