domingo, 1 de fevereiro de 2015

Crise de Identidade Literária

Ultimamente, tenho sofrido uma espécie de crise de identidade literária, algo que não considero como sendo bom ou ruim, apenas perturbador. Aliás, faz-se necessário mencionar: nem tudo que perturba o ser humano é digno de separação no armário das coisas boas e ruins. Essas inquietações são comuns à vida agitada que levamos hoje em dia. Nada que mereça uma crônica como essa. Ou não!

Sempre que vou a uma livraria de São Luís, me pego preso à seguinte dúvida: o que comprar dessa vez? Tenho visto nas redes sociais um alto número de jovens leitores indignados porque possuem 38 livros na fila pra leitura e, não satisfeitos, se põem a comprar mais 13 já que não conseguem resistir à tentação. Confesso que faço parte dessa parcela sedenta por leitura e cada vez mais ocupada. Talvez por isso a minha dúvida persista, meio sem sentido, confesso. O que comprar dessa vez?

É que sempre tem algo bacana escondido por entre os milhares de volumes da seção de Literatura Estrangeira, por exemplo. Gosto de pensar que há um livro especial nos esperando nesses lugares, pronto para ser degustado, como a obra de Julián Carax em ‘A Sombra do Vento’. Você bate o olho e pronto: paixão à primeira vista. A propósito, meu último desses casos de amor foi com ‘A Improvável Jornada de Harold Fry’, que continua esperando o momento certo pra ser lido com todo o afinco que merece.

Mas voltando à minha crise propriamente dita: o que comprar dessa vez? Romance clássico indicado pela namorada, ficção científica que originou o maior sucesso do cinema atualmente, biografia não autorizada daquele político pedante que todo mundo venera e você odeia, história água com açúcar feita pra adolescente chorar, livro para a faculdade? As opções são tantas que você se perde e acaba não levando nada. Também acontece com vocês? E aí? Toda leitura é válida ou só se deve comprar aquilo com o que você se identifica?

Confesso que gosto desses romances adolescentes ‘de menininha’, mas também sou fissurado nas histórias de fantasia do Carlos Ruiz Zafón. Saramago e seu teor político me encantam, e as crônicas brasileiras de outrora também são um prato cheio para o meu ócio literário. Distopias são a forma de escapar desse mundo maluco em direção a um pior ainda. Mas são incríveis! Obras de escritores desconhecidos e encontradas a 10 reais durante as feiras literárias da cidade também sempre têm seu lado bom. E agora?

Sei lá. Sempre que me questionam por que eu gosto de um livro que ninguém leria ou que aquela pessoa específica não leria, respondo com o já manjado ‘toda leitura é válida’. Mas vai além disso, sabe? São tantas histórias fantásticas esperando para serem apreciadas que não vale a pena desperdiçá-las. Algumas menos, outras mais, mas o que importa, de verdade, é não pegar um livro só porque ele é um best seller, mas descobrir o quanto ele é incrível pra você ao final da última página. Aconteceu comigo em ‘A Menina Que Roubava Livros’. E ainda acontecerá muitas vezes.

Queria contar mais experiências literárias por aqui (como a do engarrafamento gigante em que eu estava quando li e imaginei, dentro de um ônibus, toda a cena do capítulo 28 de ‘O Lado Bom da Vida’, aquele em que Pat Peoples narra os ensaios com Tiffany ao som de qualquer música escolhida pelo leitor) e tentar entrar em um consenso na minha cabeça quanto ao próximo livro da lista de espera, mas acho que já basta. Afinal, já deu pra perceber que não tem jeito pra gente: um livro a mais nunca é demais. Até mesmo se ele for um livro de autoajuda...