quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Métodos Marckosianos (5)

Eu fui tanta coisa em 2010. Filho, namorado, amigo, “tio”, escritor, leitor, ouvinte, estudante, viajante, apaixonado, atento, observador, paciente, impaciente, ansioso, sonhador, apaziguador, criador, cidadão, trabalhador, pensador, criança, adulto, adolescente, benevolente, esperto, carinhoso, zangado, firme, otimista, pessimista, realista, questionador, orgulhoso, fã, ídolo, medroso, corajoso. Eu fui além de mim.

Conheci pessoas maravilhosas e cultivei as amizades certas, na hora certa. Algumas deixei pra trás, por entender que não poderiam somar mais nada pra mim. Outras adaptei ao meu novo estilo de vida, dando a devida atenção que sempre mereceram. Surpreendi-me com a maneira como novos amigos surgiram e como mesmo eles, tão novos em minha vida, foram tão fundamentais nos momentos difíceis. Guardei segredos, fiz confissões, desabafos, ouvi zilhões de conselhos. Cresci.

Dei amor a todos. Namorada, mãe, amigos, conhecidos, desconhecidos, do mais simples morador de rua a mais sofisticada empresária do ramo de roupas. Soube reconhecer meus erros, livrar-me de alguns defeitos, amadurecer enquanto pessoa... Eu sorri. Fiz muita gente sorrir, dei abraços, beijos, condolências, pêsames, felicitações, parabéns. Fui apenas eu mesmo, mesmo que isso despertasse algum incômodo em alguém.

Livrei-me de muitos fantasmas. Errei bastante, mas soube consertar a maioria desses erros a tempo. Trabalhei, namorei, comprei algumas muitas coisas, passei dos meus limites. Ganhei apelidos, fiz planos, concretizei a maioria desses planos, fiz mais planos. Assisti dezenas de filmes, ouvi uma porção de músicas, li um bocado de coisas, aprendi outro bocado de coisas. Conheci lugares maravilhosos. Vesti terno e gravata. Saí de minha terra natal. Andei de trem, tirei fotos, escrevi poemas, tive ideias mirabolantes, vivi momentos inesquecíveis.

Mas confesso que ainda preciso mudar muito, retirar doses gigantes de defeitos em mim. Controlar alguns hábitos, refazer algumas rotinas, perder alguns vários medos. Ir além do que posso ser capaz. Colher frutos de uma mudança necessária e que essa colheita seja percebida, antes de tudo, por mim mesmo. Eu preciso crescer! Como pessoa, amigo, filho, namorado, estudante...

Desejo que em 2011 eu possa olhar pra trás e poder repetir cada gesto, cada atitude, cada momento e transformar esse novo ano em outro 2010, com mais responsabilidades, sonhos, virtudes e realizações. Conhecer mais gente, dividir minhas aspirações com eles e poder realizá-las, nas horas e momentos ideais. E dizer, mais uma vez, que eu fui tanta coisa nesse novo ano, mas principalmente, que eu fui feliz!


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Top 10 - Músicas Animadas

Fim de ano chegando e sempre aquelas mesmas músicas ecoando pelos supermercados, lojas de departamento e centros comerciais do país. Pra você que já está cansado de tanto ouvir harpas, Simone e Ivan Lins cantando por todo lugar, o Senhor do Tempo preparou uma lista de músicas animadinhas pra essa época festiva. Prontos para o play?

1. Magic – B.o.B feat. Rivers Cuomo
O tipo de música perfeita pra ouvir no carro enquanto você se desloca às compras. Animadinha, dá pra tirar o stress dos congestionamentos das grandes cidades, sem falar que é a cara daqueles momentos felizes de filmes americanos. Boa pedida pra quem curte as já conhecidas “Airplanes” e “Nothin’ On You” do rapper e produtor musical B.o.B.

2. Sink or Swink – Bad Lieutenant
Pra quem gosta de rock alternativo e quer um som novo pra animar suas festas de fim de ano, nada melhor do que conhecer essa banda herdeira da extinta New Order. Com um som envolvente e que muito lembra os anos 80, ela promete arrancar bons comentários de seus convidados. Vai por mim!

3. Was It Something I Said? – Brandon Flowers
Gosta do The Killers? Então que tal conhecer a carreira solo de Brandon Flowers, vocalista da banda? Em seu mais novo cd, Flamingo (Mercury Music, 2010), um som bem parecido com o da já conhecida banda de rock pode ser ouvido em todas as faixas. A mais animadinha acaba sendo a citada acima, mas vale a pena ouvir todo o cd na noite de Natal ou Réveillon.

4. Who Says You Can't Go Home – Bon Jovi
Bon Jovi é o tipo de banda que sempre deve tocar em uma boa festa. Seja no momento mais romântico, no mais ‘porra loca’ ou na parte divertida em que todo mundo já está mais pra lá do que pra cá. “Who Says You Can’t Go Home” e seu ‘it’s alright’ consegue transmitir essa alegria e fazer todo mundo cantar, a qualquer hora e em qualquer lugar.

5. Girls Just Want to Have Fun – Cyndi Lauper
Quantas vezes eu não fui dormir na noite de Natal ouvindo Cyndi Lauper e sua “Girls Just Want to Have Fun” ecoando na casa da vizinha. Uma música que consegue expressar bem a alegria que era viver durante os anos 80, refletindo esse espírito de diversão até os dias de hoje. Boa pedida pra qualquer festa, seja de fim de ano ou não.

6. Learn To Fly – Foo Fighters
Que tal em suas resoluções de ano novo você incluir “aprender a voar”? O Foo Fighters e uma de suas músicas mais animadas prometem fazer você viajar ouvindo um som que todo bom fã da banda conhece e que todo mundo que ouve quer ouvir de novo. Dica esperta: o clipe, como boa parte dos da banda, é uma comédia!

7. Quando Um Homem Tem Uma Mangueira no Quintal – Vanessa da Mata
Quem disse que a música brasileira também não entra em nosso Top 10? “Quando Um Homem Tem Uma Mangueira no Quintal”, samba cantado por uma das mulheres mais talentosas da MPB, promete animar sua noite de final de ano, fazendo até sua avó de 80 anos remexer os quadris. Vale a pena ouvir mais da Vanessa da Mata. Muito mais!

8. Fireflies – Owl City
Alegre por sua simplicidade, sem falar nas batidinhas eletrônicas que tornam a música muito mais agradável. Assim pode-se definir “Fireflies” do Owl City, uma música que com certeza você já deve ter ouvido por aí. Perfeita pra ser tocada antes do fim da festa – nem que seja no outro dia de manhã.

9. Hey Ya – Outkast
Uma das músicas mais animadas que eu conheço. A dupla, formada por Andre 3000 e Antwan Patton e que anda sumida da mídia, fez sucesso em 2004 com esse hit que até hoje é considerado dançante e vibrante. Perfeita pra embalar qualquer festa, “Hey Ya” esbanja alegria e é, com certeza, a música ideal pra fazer qualquer pessoa dançar.

10. I Gotta Feeling – The Black Eyed Peas
Em 2009, minhas noites de sexta sempre eram embaladas por essa música. E aproveitando que as noites de Natal e Ano Novo desse ano também cairão em uma sexta-feira, que tal deixar “I Gotta Feeling” no player, chamar a galera e curtir esse som até o feriado raiar? Com certeza, além de boas músicas, sua festa vai ser inesquecível.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Mulheres e sapatos

Calçados ortopédicos eram a sensação aos 2 anos de idade. Ajeitar aqueles pezinhos tortos, fofos e desengonçados. A mãe andava feito louca pelas lojas infantis da cidade em busca do melhor modelo para sua pequena bebê. Chegava satisfeita, colocava na criança um vestidinho branco, uma meia rosa, o sapato recém-comprado e saía. Era seu troféu, sua preciosidade, frágil e linda.

Aos 10, só queria saber de botas. Não botas quaisquer; botas da moda. Calçados de sua personagem favorita da televisão. Uma bota cano longo, preta, com desenhos em relevo branco da boneca japonesa que invadia as casas de milhões de crianças todos os dias de manhã. Não era do gosto da mãe, mas fazia o gosto da filha. Satisfeita, a pré-adolescente ia ao cinema com as amigas mostrar a nova bota e tomar sorvete sem a mãe.

A debutante queria um salto que combinasse com aquele vestido rosa. Não podia ser um salto rosa – brega demais. Um prateado, algo de festa, que nenhuma amiga invejosa tivesse igual. A mãe saiu feito louca pelas lojas da cidade. Gostava de muitos, mas a filha de nenhum. O salto perfeito estava na loja mais cara do shopping e à mãe coube pagar. Para a garota, o cartão de crédito era um troféu, uma preciosidade, frágil e lindo.

Egressa de Direito, precisava de scarpins. Sapatos chiques, que demonstrassem seu poder perante a sociedade e naquela sala da faculdade particular. Jogou fora muitos saltos de festa, alguns deu pra mãe, outros doou pra filha da empregada. Conheceu seu futuro marido, que a presenteou com um lindo sapato chique. O papel de compradora de sapatos da mãe havia sido substituído.

Ficou grávida. A mãe viraria avó. A filha viraria mãe de uma linda menina. Em seu enxoval, a nova filha ganharia dezenas de coisas – vestidos, meias e, com certeza, sapatos. Sapatinhos fofos, ortopédicos, brancos... A nova mãe, vaidosa, não queria saber de andar por aí grávida e sem seus sapatos. O marido, dono de uma loja de sapatos, logo resolveu o problema. Deu um par de chinelos à esposa e disse:

- Ande, vá ser humilde. Pare de cobrir seus lindos pés com esse horror de sapatos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Vida de inseto

Escrevo coagido por essas tais formigas. Não, amigos; não são formigas quaisquer. São formigas mutantes. Isso mesmo: mutantes. Digo isso porque não sei de onde elas vieram, pra onde vão e por que têm asas. E pensar que até anteontem eu nem imaginava que estaria escrevendo um texto sobre esses insetos estranhos. E pior: rodeado por um bocado deles.

Mas deixe-me explicar. Tudo começou no domingo. Um dia normal se não fosse o fato de finalmente São Pedro ter percebido que São Luís precisava de chuva. Acordei às 11, almocei e fui ler. Um conto de Ítalo Calvino datado de 1952 que falava sobre o massacre que uma jovem família sofrera ao ter convivido com formigas-argentinas durante algum tempo. Sim, elas, as formigas, que mais tarde tanto me atormentariam e até renderiam tal crônica. Lá fora, o céu ia escurecendo e logo tratei de largar o livro e ir admirar aquele tempo nublado, já tão raro por aqui.

A chuva logo veio. E com ela alguns transtornos típicos da vida moderna, como goteiras em casa e alagamentos pela cidade. O temporal diminuiu, e então percebi que havia algo de errado com a televisão. Não, não era o sinal que havia ficado ruim graças ao dilúvio. Eram as formigas. Dominavam a tela como se fossem artistas de reality show, quase um Big Brother com anteninhas - e asas. Fiquei indignado. Precisava eliminá-las. Elas perturbavam. Peguei o jornal e tratei de espantá-las.

Muito esforço pra nada. A luz da sala estava apagada e o único sinal de iluminação vinha da TV. Pronto, havia descoberto qual o alimento desses seres. Criei até uma teoria para tentar adivinhar de onde vinham as tais bichinhas: de dentro da televisão, sempre quentinha. É lógico; agora, com o inverno, elas saem em busca de algo quente e a luz, com sua energia térmica, bem que poderia ajudar. Até hoje acredito em minha singela explicação. Biólogos, me ajudem, por gentileza.

Mais tarde, fui expulso do computador porque a cada formiga morta, devido a sua insistência em grudar na tela, vinha outra se vingar da companheira. E por mais que eu a matasse, mais forte ela ficava, levantando voo logo em seguida - mutante! Só me restou apagar todas as luzes e ir dormir, na tentativa esperançosa de que aquelas indivíduas me deixassem em paz e não entrassem em meu ouvido - como fizeram as formigas-argentinas com um personagem do conto de Calvino.

Infelizmente, elas voltaram. Agora estão por toda parte. Em menor número, mas por toda parte. Ficam nos encarando, paradas, como se quisessem nos atacar ou simplesmente conversar. Contar o quanto é bom lá nos circuitos da televisão e o quanto é perigoso aqui, do lado de fora. São seres vivos, que se arriscam ao sair do quentinho de seus lares em busca de aventura. E eu me sinto como o carrasco, como a vida, sempre pronta pra cortar nossas asas e dizer pra seguirmos em frente, sem nosso conforto original. Mas a gente volta. Felizmente, a gente volta. E vamos pra toda parte. Em maior número e por toda parte.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sonhos de 22

São Paulo, noite de sexta-feira. Milhares de pessoas saem em busca de diversão. Bares, baladas, noitadas. Do lado esquerdo, um jovem de 15 anos curte sua primeira tragada olhando as jovens de roupa curta dançarem freneticamente. Do outro lado, um casal descobre os prazeres de suas línguas, enquanto seus corpos se entrelaçam ao som de uma batida desconcertante. No meio, bem no meio, está ela. Perdida, no alto de seus quase 30 anos.

Está fora toda noite. Conhece centenas de pessoas e nenhuma faz questão de conhecê-la. Ela se pergunta como chegou a esse ponto e quer saber por que. Sonhava, aos 22, ser bem-sucedida, arranjar um príncipe encantado e estar casada aos 27. Já se passou muito tempo e nada mudou. Tem um bom emprego, mas não é uma carreira. Não é algo que a habilite a falar em futuro estável. E toda vez que pensa nisso, começa a chorar.

É triste, mas é verdade: sua vida já acabou. O que vier depois de agora não é lucro, é consequência. Não há nada a fazer e nem nada a dizer. Até que o homem dos seus sonhos apareça e a carregue nos ombros, muito tempo já vai ter passado. Sem falar que isso parece tão impossível nos dias de hoje.

Dá pra notar aquela feição triste de longe. Todos os seus sonhos se esvaindo como a areia de uma ampulheta a cada rotação. E em seus olhos, aquele olhar. Tudo o que ela quer é um namorado, mas só consegue casos de apenas uma noite. Homens que não ligam de volta, rapazes interessados em mais de uma ao mesmo tempo, jovens. E ela pensa: “Como vim parar aqui? Estou fazendo tudo o que posso!”.

É triste, mas é a pura verdade: a sociedade já a condenou. Não há nada a dizer e nem nada a fazer. Até que o homem dos seus sonhos apareça e a carregue nos ombros, já pode ter sido tarde demais. Se bem que, pensando bem, isso não é tão impossível de acontecer nos dias de hoje!

(Texto escrito à partir da letra traduzida de “22”, da cantora inglesa Lily Allen)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Ao deus fone de ouvido

Cena típica. Manhã de segunda-feira. Ônibus lotado. Pessoas atrasadas, na iminência de ouvir um reclame estrondoso do chefe abastado. Muitos entram, alguns poucos saem. O espaço onde deveria caber 40 já cabe 65. A senhora gorda reclama do calor. O homem barbudo lê o jornal que estampa a morte de mais um pobre coitado. Ninguém critica. Todos precisam. E eis que entra o único indivíduo capaz de unificar todos os pensamentos ali presentes: o carinha com seu celular tocando música alta.

Geralmente são homens. Ajudantes de pedreiro. Não é desqualificando a classe que, a meu ver, muito colabora para o desenvolvimento desse país, mas é que incomoda. Se você não vai para a escola, curso, faculdade ou trabalho de ônibus, não faz a mínima ideia do que estou falando. Mas tentarei explicar didaticamente. Imagine você com uma baita dor de cabeça, sua irmã mais nova no banco de trás ou sua esposa, se assim for o caso, balbuciando incessantemente um som estridente e irritante, capaz de fazê-lo ligar o carro e preferir Restart àquele barulho.

É mais ou menos assim. Sem falar no gosto musical, que quase sempre é péssimo, daí o motivo pra tanta gente reclamar. Mas não é reclamar imediatamente, dizendo ao rapaz: “Ei, seu moço, desliga isso aí!”. É reclamar na internet, em comunidades e fóruns escusos, ou ao chegar ao trabalho. O fato é que todo frequentador de transporte coletivo já passou por isso, principalmente nos últimos tempos, com a disseminação do celular com MP3.

Nesse momento, entra o salvador da pátria, o objeto que deveria ser mais valioso que a liderança do Big Brother em reta final. Entra em cena o garboso fone de ouvido. Caramba, como seria legal se essas pessoas ouvissem Racionais Mc’s, Claudinho e Buchecha, Aviões do Forró e outras “belezuras” do cancioneiro nacional no conforto de sua particularidade, sem importunar ninguém. Entretanto, parece que o acessório, que SEMPRE vem junto com o aparelho, se perde do dono, que nem liga e continua a perturbar seu semelhante.

Cabe a nós, pobres mortais, sairmos de casa munidos desse objeto redentor. Quando o barulho estiver alto demais, coloquemos o volume do celular no máximo e passemos a molestar nossos tímpanos, de uma maneira gostosa. Não incessantemente, com aquele som estridente e irritante, mas com moderação. Pode ser Leoni, Kings Of Leon, Paramore, Coldplay, Beatles, The Middle East, pode ser o que você quiser.

Lutemos contra esses chatos, mesmo que munidos com a nossa música chata e impopularmente desconhecida pela massa!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Divino sorriso

Regina Spektor tem razão. “Ninguém ri de Deus em um hospital / Ninguém ri de Deus em uma guerra / Ninguém está rindo de Deus quando está morrendo de fome, congelando ou muito pobre.” Até o indivíduo mais autossuficiente em assuntos religiosos sente a necessidade, mais cedo ou mais tarde, de acreditar em uma força superior a si. Não significa necessariamente ter fé, pois fé está mais ligada ao rotineiro, ao cotidiano, ao ‘acreditar no impossível’. Nesse caso, é puro desespero mesmo.

Quantas vezes não nos vimos pedindo a Deus por uma melhora de vida, uma cura ou um desejo egoísta? E quantas vezes não blasfemamos dizendo que Ele não está nem aí para o que pensamos, sentimos ou queremos? Paciência nessas horas é a última virtude que sonhamos ter. Mas já pensou se Deus nos desse tudo? Não ficaríamos insatisfeitos mesmo assim? Pois é.

“Mas Deus pode ser engraçado”. Naquela coincidência que o fez encontrar a mulher de sua vida, naquele dia em que tudo o que você mais queria era ficar em casa – e não conhecer o dono daquela multinacional, que lhe daria um dos empregos mais cobiçados do mundo -, ou no dia em que seu animal de estimação mexeu tanto no quintal que acabou achando ouro. É o Senhor das coincidências atuando e você rindo da situação.

O fato é que não existe deus bom ou mau. A qualidade de um deus vai de acordo com nossas conveniências. Se ele nos faz algo de bom, ele é bom. Se ele nos faz algo de mau, ele é mau. Simples. E a mais perfeita das injustiças. Reparou como até nossas relações com os deuses estão pautadas pelo egoísmo? Soa como ‘cada um que tem o deus que merece’.

Acredite em um pedaço de madeira, em uma bola furada ou em um semáforo. Pra você, eles podem ser os deuses perfeitos. Não o cobram muito, você pode vê-los, senti-los, falar diretamente com eles. Mas lembre-se de que o pedaço de madeira pode conter farpas e machucá-lo. Perceba que a bola furada está furada e que não serve pra nada. E que o semáforo, apesar de estar lá em cima, ainda o faz parar, refletir e seguir em frente, só que de acordo com um temporizador ou com o fluxo de veículos.

"No one´s laughing at God / We´re all laughing with God."


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Contos de Whisky V

- O último a sair, apague a luz do aeroporto!

Que lugar era aquele? Centenas de pessoas desoladas, ansiosas por mudança, temerosas pelo futuro. O que fazer depois desse fatídico dia? Como prosseguir se a incerteza era a única certeza a partir de agora? Júlio César não sabia direito. Seu candidato acabara de perder a chance de mudar a história daquela cidade, marcada pela fome, desigualdade e pelo mesmo grupo político no poder. Anos e anos tentando mudar a situação e nada de novo acontecia. Democracia burra, essa.

Que lugar era aquele? Milhares de pessoas reunidas em uma praça, sorriso nos rostos, pulos e gritos desvairados, bandeiras multicoloridas. A noite seria pequena pra tanta comemoração. Eis a vontade do povo. Confesso que não consegui entender dois opostos tão opostos assim. Esse jogo do ganhar ou perder, onde tudo, invariavelmente, termina em festa. Isso mesmo: festa. A oposição entre a festa da vitória e a festa da decepção, comemorada de outra forma, bem mais fúnebre, mas ainda festa. E o que dizer de toda aquela bebida, em todos os lugares? Era bem ali que eu deveria passar a noite.

Júlio César afogou seu voto em um vinho barato que guardava desde o Natal de 2000. Augusto, Aurélio e Otávio beberam champanhe, uísque, cerveja importada e todo o álcool que o dinheiro da vitória poderia pagar. Enquanto isso, os outros dormiam. A Segunda já iria começar e, aparentemente, nada estaria diferente. A não ser pela sujeira deixada nas ruas da democracia. Ou seria oligarquia?

A queixa parecia antiga, e o que vi por lá parecia ambíguo. Uma cidade gloriosa na televisão e cinza na vida real. Bela, mas apagada, cheia de problemas, com poucas soluções. Pessoas admiráveis, sofridas, bonitas e esperançosas. Sobre os políticos, era difícil admitir, mas já estavam cansados. Cansados de tanto dinheiro, de tantos ataques e de tantas promessas não cumpridas por eles mesmos. Era comum ouvir o nome do fundador do tal grupo político em rodas de conversa. Defesa sem embasamento, ataque com fundamentos e um ódio colossal no coração. Um ciclo cansativo e que não adiantava de nada pelo visto.

Arrumei minhas malas, recusei algumas doses da eleição e segui em busca de novas histórias. Menos traumatizantes, mas que mostrassem o melhor e o pior de um mesmo mundo, seja lá qual ele for.

domingo, 26 de setembro de 2010

Contos de Whisky IV

E despediu-se como se fosse a última vez.

Talvez fosse. Bruna não saberia como viver sem aquele homem. O cara que a fez conhecer o mundo de verdade, completamente distante dos contos de fada. O jovem que cresceu ao seu lado, tornou-a uma pessoa melhor e agora vai embora, deixando-a triste, afogando suas mágoas em um copo de cerveja barata. Quem diria, hein? Aqueles dois, sempre tão unidos, terminando um relacionamento por causa de diferenças.

Recordo-me do dia em que Lucas ligou a torneira do jardim e começou a molhar as plantas da casa de Bruna. Uma por uma, aquelas folhas secas iam dando molde a um novo espaço, molhado, diferente. Bruna, incrédula, começou a abraçar o namorado, tentando agradecer pelo favor. Explico-me. Bruna acreditava que se as folhas de seu jardim estivessem secas era sinal de que algo ruim aconteceria a ela. Em um belo sábado, enquanto tomavam água de coco próximo à praia, a garota comentou sobre tal superstição. Lucas deu de ombros, como se não se importasse e ainda comentou uma ou duas coisas sobre o fato de não ser supersticioso. Entretanto, cedinho, na manhã do domingo, lá estava o rapaz regando o futuro da namorada. Eles tinham apenas 2 meses juntos.

Bruna queria esquecer tudo aquilo. Todos aqueles anos em que fora enganada pela suposta máscara do namorado. Ele não era, nem nunca seria o seu jardineiro fiel. Talvez seu ex-namorado, talvez o primeiro amor de infância, cogitou até sua melhor amiga, mas ele não. Ele era página virada. Bruna queria sumir daquela cidade, recomeçar sua vida ao lado de pessoas novas e esquecer que um dia fora namorada de Lucas. Mas não adiantaria. Se fugisse, seria vista como covarde pelos outros, e a coisa que Bruna mais odiava nessa vida era ser analisada. Bem, eu sei que o que ela tinha mesmo era medo das opiniões alheias, sempre certas.

Lucas odiava assistir filme legendado, era vegetariano, não tinha religião definida, não trabalhava, era viciado em internet, odiava beber, adorava baladas alternativas com aquelas bandinhas de garagem que ninguém conhece, não gostava de estudar, era aventureiro demais e não estava nenhum pouco disposto a mudar. Bruna desejou ter conhecido completamente aquele garoto no dia em que deram o primeiro beijo. Lucas achava que dava pra conciliar as diferenças, mas Bruna era radical demais! Brigaram feio por causa do ovo com manteiga que Lucas havia preparado. Bruna, óleo, Lucas, manteiga.

Ele disse “chega” antes que ela pudesse ouvir. Abriu a lata de lixo, em silêncio, jogou seu ovo dentro e saiu porta afora dizendo um “adeus” que nem a própria Bruna sabe se escutou. Era hora do almoço. Almoço de domingo, bem depois de, horas antes, o rapaz ter feito o ritual sagrado de regar o jardim da garota. Ele era sim seu jardineiro fiel. Se não fosse, qual o sentido de ter passado tantos momentos bons e ruins do lado dela? Qual o sentido de ser conciliador? Qual razão pra tê-la amado tanto?

Ele não sabia. Ela também não. Bruna ficou com seus filmes dublados, suas carnes gordurosas, sua religião, seu trabalho, suas bebidas, seus estudos e seu jardim verdíssimo. Mas ficou vazia, incompleta. Não tinha o que mais queria naquele momento: seu namorado. O talvez e a dúvida agora a regem. Será que valeu a pena jogar tudo fora por tão pouco. Eu, Whisky, acho que não!

domingo, 5 de setembro de 2010

Do alto de vossas cabeças

Este sou eu. Do alto de vossas cabeças, enxergando formigas e olhando o sol se pôr. A cidade cresce e a única coisa que posso fazer é crescer também, vendo as horas e os dias passarem, como se fossem nuvens brancas - grandes e vagarosas. Estou no 14º andar. Como diz aquela poesia, “a sacada é curta, o grito é inevitável”. Não pretendo acordar os vizinhos, riscar os corpos nem te telefonar. O que tenho pra dizer cabe sim nessas simplórias linhas. Basta você perceber.

Morar em apartamento é algo estranho, principalmente pra quem mora no 1º andar. Tudo dali reflete em você e no térreo. Uma rachadura no 34º, uma despedida de solteiro no andar de cima, uma reunião chata de condomínio – onde você sempre é o primeiro a ser indagado sobre algo. É uma responsabilidade tremenda. Funciona quase como ser chefe de família, com a diferença de que você do 1º andar não precisa comprar comida pro vagabundo do último.

Salvo se você não tiver medo de altura e morar no derradeiro andar, sempre existirão cabeças em cima de você. A modernidade nos trouxe isso: pessoas estão morando uma em cima das outras, justamente por causa da falta de espaço nas grandes metrópoles. O que era uma reserva ambiental, agora dá lugar ao maravilhoso "Não Sei O Quê Residence". Aquele parquinho onde você brincava com seus irmãos, hoje nada mais é do que um luxuoso condomínio onde somente desembargadores, médicos cirurgiões e políticos influentes e corruptos moram. Aquele lago foi transformado em um shopping. E com ele veio mais um apartamento, pra diminuir a distância entre o comprador e o produto.

Tudo bem. Morar em apartamento tem lá suas vantagens. Percebe-se que o ser humano, sempre maravilhado com a ideia de poder, viu-se extremamente feliz quando descobriu a possibilidade de ficar perto de Deus e ter acesso a cada passo de cada um lá embaixo. Era coisa de rico. Hoje, é coisa de todos, de quem quer ter uma casa, uma vida – mesmo que financiada em infinitas vezes por um banco do governo.

Tem a maravilha que é ver a noite lá de cima. O espetáculo começa bem cedo. O sol indo embora devagar, as luzes artificiais se acendendo lá embaixo, o céu ficando escuro, cheio de pontinhos brilhantes. É noite. E você é o espectador fiel, de camarote. Deseja pra si ter aquela vista todos os dias. E recomeça o ciclo. Você deixa de lado o fato de não poder ter animais de estimação, de evitar ouvir música alta, de se afastar da natureza e compra um apartamento. Mas tem que dar pra olhar a lua, as estrelas e aquele eclipse que ainda vai acontecer – só não se sabe quando. E esquece-se de tudo!

Quisera eu morar em um lugar assim. Mas não dá. Não quero. Não posso. Prefiro sair pelas ruas em busca da melhor estrela, da melhor lua e do melhor eclipse. E ficar em cima e embaixo de outras cabeças, só de vez em quando!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Jamille Fontes Leite

Você já teve a oportunidade de escrever uma dissertação sobre alguém especial? Não poder extrapolar linhas, ter que ser imparcial, não dizer nada em forma de poesia, esquecer que a narração existe... É difícil, mas não é impossível. A missão de hoje é falar da Jamille Fontes Leite de um jeito que ninguém nunca falou. De um jeito onde palavras tentarão expressar tudo o que ela expõe para o mundo exterior, de uma maneira única, marcante e especial.

Ser Jamille é fácil. Ter uma família excepcional, os melhores amigos, as melhores companhias. Ter uma beleza incomparável, uma razão inconfundível, os melhores argumentos. Ser uma pessoa sempre disposta a ajudar, sempre preparada para ouvir, aconselhar, debater. Entretanto, não basta apenas Ser e Ter, também é necessário Estar. Estar de bem com a vida, estar apaixonada pelo que faz e pelo que vive, por vezes a sonhar, estar feliz, estar sorrindo.

Ser uma Fontes Leite é ter um pai, uma mãe e um irmão que se preocupam com você. Sem falar da família inteira, que a considera parte integrante do seu dia a dia, como uma filha. É chamar atenção por onde for, seja pela sua determinação ou por sua vaidade – mínima, porém extremamente sedutora. É ser menina e mulher, a qualquer hora, em qualquer lugar, com qualquer pessoa.

Mas ser Jamille também esconde um lado difícil. É estar sempre querendo independência, balançar um pouco para o rumo da teimosia e, na maioria das vezes, cultivar certa falta de paciência. É ter uma vontade louca de fazer alguma coisa, mas não saber o que é. É querer exercitar seu espírito aventureiro, mas a sociedade não deixar, alegando que aquilo é perigoso e pode machucar. Mas e a vida? Também não é perigosa e não nos machuca a todo instante? Deveríamos, portanto, parar de viver?

Ser Jamille Fontes Leite é ser uma pessoa feliz, que tem tudo o que precisa e, em si, todos os sonhos do mundo. Alguém que pretende ser mais feliz ainda no futuro. Viajar, estudar, crescer, casar, ter filhos gêmeos, aproveitar a vida a cada oportunidade e descobrir a maravilha que é viver. Alguém que tem Deus como seu grande guia, seu grande Pai. E que não precisa ser o centro das atenções para seguir em frente. Passar despercebida sim, mas deixar de amar aqueles ao seu redor, jamais. E cabe a nós, enquanto aqueles ao seu redor, fazer dessa menina linda, amiga e apaixonante, a pessoa mais feliz do mundo. E isso, a gente sabe muito bem como é que se faz!


Marcos Lima 
19.08.2010

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Diálogo entre o Ser e Estar

Quem disse que os verbos não podem dialogar entre si? Quem falou que verbos não discutem de vez em quando? Quem determinou que verbo não tem vida? Quem? Quando? Onde? Por quê? Essas tais palavrinhas carregam uma carga emocional enorme. E de quem é a culpa? Seria da letra r, responsável, regular e rotineira? Ou seria do a, da angústia, do e, do estado de espírito, ou do i de impotência? Não sei, nunca soube nem desejaria saber.

Imagine sua vida sem verbos. Opa! Calma lá. Não daria pra imaginar. Imaginar não existiria. Assim como sonhar, querer, almejar, desejar... Todas as suas vontades seriam jogadas no lixo, simplesmente por causa da falta de um meio para se expressar. Não quero ser tão radical, mas não daria, também, pra ver, ouvir, falar, sentir ou cheirar. Resumo esse parágrafo com uma constatação com certeza já feita por você, leitor atento: não daria pra viver!

E viver, no fundo, no fundo, é o que todos queremos. Queremos o sabor dos sonhos, da vitória, do amor, da amizade, do carinho, do respeito. Queremos ser qualquer coisa e estar em qualquer lugar - mesmo não podendo ser qualquer coisa ou estar em qualquer lugar. Ser e estar se tornam coisas totalmente distintas – e eu não consigo entender o porquê de um único verbo em inglês possuir dois significados em português (to be = ser ou estar).

Se você está apaixonado, obrigatoriamente, tem que ser uma pessoa apaixonada. Não dá pra fingir paixão ou apenas estar sentindo algo fora de sua personalidade. Se você nunca foi alguém assim e agora está sentindo isso corroer suas veias, considere-se, sim, uma pessoa apaixonada, pois o simples fato de sentir a paixão uma vez já o torna alguém com essa qualidade. Ser assim mantém acesa a chama do amor, a curiosidade, o desejo pelo novo ou a simples continuidade do viver. Você está por um tempo. Você é pra sempre.

E vão construindo telhados. Conversas fazem do verbo um ser mais forte. Um ser que está sempre presente, sempre preocupado em deixar sua marca e nunca se sentir inútil. O fato é que ele sempre terá utilidade. Como as pessoas, sempre em busca de crescer, evoluir, sentirem-se necessárias para os outros – ou para si mesmas. Alguns fracassam, eu sei, mas por pura falta de resistência. Ou vocês acham que os verbos não ficam tristes, cabisbaixos e arrasados com construções do tipo: “Oi, tudo bem?”, “Ui!”, “Opa!”, “Calma lá!”...

Na vida de um verbo, dá pra ser verbo sempre, mas sempre estar em movimento, mudando de acordo com o contexto ou com a necessidade. Na vida de um homem, dá pra ser homem sempre, mas sempre estar em movimento, mudando de vida, buscando o novo, enfrentando os problemas, se adaptando de acordo com o contexto ou com a necessidade. Talvez por isso Deus tenha criado o verbo depois da luz, para que pudéssemos enxergar toda sua plenitude com olhos de alguém que é o que é e que está sempre disposto a cada dia melhorar.

sábado, 7 de agosto de 2010

Reclames

Saco meus paus e pedras. Começo a mirar em tudo e em todos. É inútil querer um sentido pra si. A festa rola e, por dentro, pura ânsia. Vontade de fazer diferente, de ser diferente, expulsar os fantasmas. Uma lágrima beira sair por meus olhos. Mas disfarço, me faço de forte pra não desabar. Egoísmo. Bobagem. Um espelho e minha imagem, magoada, perdida, querendo atenção. Falta alguém. Falta alguém pra desabafar, falta alguém pra perguntar o porquê de tudo isso, falta você. E eis que surge. Cabelo novo, vestido novo, jeito novo. Um sorriso apaziguador. E eu desmancho. Me destraio em meio a tanta beleza. Você levanta, como quem nada quer. E eu tudo quero. Quero você do meu lado, quero te ter por perto, certo. Te fito incessantemente. Que corpo, que curvas, que mulher! És minha. Só minha. E de todos os meus malditos defeitos. E lá vai você de novo, embora, pra perto. Some de minha vista e só me resta aceitar. Me destraio e saio de você. E eis que volta. Terrível, sedutora. Com um beijo no pescoço, diz que me quer e elogia. E eu me esqueço. De tudo o que disse, pensei e falei, eu me esqueço. De cada reclame abusado, eu me esqueço. De cada falta acusada, eu me esqueço. E te tenho de volta, pra perto de mim. Pra sempre. Enquanto houver uma lua quase cheia no céu e de volta pra casa, sempre seu. Sempre minha. Sempre nós.

domingo, 4 de julho de 2010

O que eu faço na varanda?

O que eu faço na varanda?
Bobagem. Nem tenho varanda.
Só um espelho, uma adaga, uma calça e um violão.
Não tenho varanda.
E nem me dá vontade de ter uma...
Varandas são altas, largas, pensativas.
Ficam olhando pro nada o dia todo,
Mesmo que esse nada tenha tudo.
Varandas pegam sol, varandas tomam chuva.
Eu pego minha roupa, tomo água e vou pra calçada.
Ver as varandas.
Ver as varandas!

sábado, 3 de julho de 2010

Follow me

Tanta gente estranha
Tanta gente ao meu redor
E ninguém sabe de nada
O que eu estou fazendo, meu Deus?
Por que está acontecendo tanta coisa diferente?
O que foi isso em meu coração?
Tem alguém aí? Você está aí? Me ajuda

Eu não pude deixar de te perceber
Eu sei bem onde tudo começou
Tua tristeza, melancolia, revolta
E no final era o quê? Sono.
Maldita curiosidade. O que diabos eu tinha pra te olhar assim?
Seria amor? Ou seria sorte?

Vai, eu ainda acredito no tal do amor
Escancaro pra meio mundo que não, mas é mentira!
A gente pode se dar bem. Eu sempre acreditei nisso.
E se não? Tentamos. Eternizamos. Virou poesia.
E se sim? Tentamos. Vivemos. Sorrimos. Amamos.

Tanta gente estranha
Todos sabendo de tudo e fingindo que não
Me apavora e me conforta ao mesmo tempo
Sou feito de amor.
Construído, moldado e crente no amor
E você?
Quer ser feita de amor também? Follow me!!

sábado, 19 de junho de 2010

Copa do mundo particular

A cidade diminui seu ritmo aos poucos. O movimento típico de um dia de semana jamais poderá ser comparado com a vagarosidade de um momento como esse. As pessoas correm, coloridas, a fim de terminar todos os seus afazeres, na tentativa de acomodar-se logo em casa ou em qualquer outro lugar só para torcer. Milhões de julgamentos, variados palpites, tímidos pessimismos. Uma só vontade: liberar toda e qualquer manifestação de voz, resumindo todos esses sentidos em apenas um fonema monossilábico: GOL !

Se for em um final de semana, melhor ainda. Dá-se um jeito de não ir à aula, ao trabalho, ao velório - caso seja um sábado. Se for um domingo, aí sim, está tudo liberado. Cerveja gelada, refrigerante para os não-alcoólicos, cornetas multicoloridas, churrasco na brasa, muita comida na mesa, família e/ou amigos reunidos… Tudo vale a pena, mas só se o número de gols não for pequeno.

O Rappa já cantou: “eu quero ver gol, eu quero ver gol, não precisa ser de placa, eu quero ver gol”. Eu também quero ver gol. Quero ver gol do meu time, afinal, também sou treinador. Quero sentir o prazer da vitória, afinal, também sou torcedor. Quero gritar, vuvuzelar, espernear. Quero um 2 a 1 suado, um 4 a 0 estrelado ou um 1 a 0 disputado. Mas eu quero ver gol. Pra que impedir? Escanteio neles, pênalti neles. Gol neles.

Copa do mundo. 32 razões diferentes para torcer. Culturas diferentes. Costumes diferentes. E uma só vontade: vencer! Tornar-se a seleção campeã do mundo e ver-se estampada em todos os jornais, sites, revistas - e etc. - do mundo. Machucar-se às vezes, gritar muitas vezes, discordar quase sempre. Fazer parte da expectativa particular de cada torcedor, de cada apreciador do futebol-arte.

Superstição? Bolão? Telão? Nada disso importa se não houver um monte de outros “ão”: união, emoção, competição, participação, decepção… Porque se um evento como esse não fosse tão importante, não haveria motivo pra essa porção de torcedores gritar a uma só voz, mesmo que em uma torre de Babel: “vencer, vencer, vencer!!!”

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Aquela doce cantiga de escárnio

Tudo começa no Trovadorismo. Homens renegados, bradando aos quatro ventos seu amor impossível por uma mulher mais impossível ainda. Cantigas de amor, cheias de emoção, entrega e submissão. Você não pode ter aquela mulher, pelos mais variados motivos. Você a protege. Evita falar seu nome, glorifica uma mesura inigualável e continua escrevendo. E cantando...

No Trovadorismo, tudo termina. O cansaço, talvez as inúmeras tentativas, os inúmeros impedimentos, sua falsa fé. O fato é que aquela mulher, antes perfeita, antes digna de horas gastas por nada, antes tida como sua eterna paixão, agora não merece nenhuma admiração. Não vale amor platônico, não vale amor de amigo, não vale textos com estrofes musicadas. Só passa a valer o sarcasmo, a ironia, a raiva. E por que não dizer o maldizer?

No Trovadorismo, tudo começa. Começa a perceber que não vale só falar bem daquela que outrora você amou, mesmo não podendo amar. Ela não podia amar você. Ela amava outro alguém. Ou a obrigaram a amar outro alguém. E você começou. Começou a destratá-la, começou a adjetivá-la com palavras horríveis, primeiro sem intenção que ela – nem os outros – soubesse que aquilo era pra ela. Descontou sua pior ira. Escarneceu!

Agora, tudo termina no maldizer. Você vai contar a história com nomes e sobrenomes, vai agredir, vai ridicularizar e pode até usar de uma linguagem chula pra atingir seus objetivos. Tudo vale nesse momento. A hora é do trovador. Satirizar, essa é a palavra. Mesmo que você não viva em feudos, você sofre uma coita de amor. Coitado!

A que ponto chegamos? Você, um Rei e nós, simples vassalos. Ser trovador é difícil. Principalmente, em pleno século XXI.

domingo, 13 de junho de 2010

Artur da Távola e o amor

"Aos que não casaram,
Aos que vão casar,
Aos que acabaram de casar,
Aos que pensam em se separar,
Aos que acabaram de se separar.
Aos que pensam em voltar...

Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja.
O AMOR É ÚNICO,
como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus.

A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue,
A SEDUÇÃO
tem que ser ininterrupta...

Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança, acabamos por sepultar uma relação que poderia
SER ETERNA

Casaram. Te amo pra lá, te amo pra cá. Lindo, mas insustentável. O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas.
Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes, nem necessita de um amor tão intenso. É preciso que haja, antes de mais nada,
RESPEITO.
Agressões zero.

Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência... Amor só, não basta. Não pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura, para acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver
BOM HUMOR
para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades.
Tem que saber levar.

Amar só é pouco.
Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas para pagar.
Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar.
Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar.

Entre casais que se unem , visando à longevidade do matrimônio, tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo pra cada um.
Tem que haver confiança. Certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão.
E que amar "solamente", não basta.

Entre homens e mulheres que acham que
O AMOR É SÓ POESIA,
tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado.

O amor é grande, mas não são dois.
Tem que saber se aquele amor faz bem ou não, se não fizer bem, não é amor. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência.
O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.

Um bom Amor aos que já têm!
Um bom encontro aos que procuram!
E felicidades a todos nós!"
Artur da Távola

terça-feira, 25 de maio de 2010

Porções de domingo

Eu vejo tudo enquadrado – e nem tenho um remoto controle. Não dá pra pausar os melhores momentos, avançar as dificuldades ou gravar toda minha vida para a posteridade. Não tenho status, não tenho como, vivo de carona. Pela janela do carro, vejo uma tela. Triste, porém real. Pessoas passam, fatos passam, o passado passa… e o presente continua nos dando presentes cheios de incerteza, cheios de dúvida, cheios de verdade. E como essa verdade dói.

Domingos. Se eu tivesse um carro, juro que sairia todo domingo de manhãzinha, só pra aproveitar aquele cheiro de novidade de mais um dia. Mas domingo não é um dia como outro qualquer. Também não é um dia como sábado, que, particularmente, é meu preferido. Domingo é mais tranquilo, é mais família, é mais vermelho. Ainda me pergunto de quem é a culpa pelo moulin rouge nos domingos “calendarianos”. Deve ser coisa da Igreja, que ainda insiste em guardar os domingos. E por que guardar algo que nos pode ser tão útil?

Era domingo quando vi a tristeza em seu olhar. Uma garota, mais ou menos 15 anos. Vestido longo, sandália rasteira, lágrimas reluzindo em um rosto desacostumado a sofrer. Uma mãe. Consolava aquela menina que aparentava ser forte, apesar de tudo. Ela também sofria, era visível. Assim como era visível o que acontecera, mas que até hoje não sei se é apenas pensamento de jovem poeta. Seu pai não estava mais ali. Ela sentia medo, muito medo. Foi à igreja, perto do mar, manhã de domingo, chorar um pouco, lembrar um pouco, aprender a viver e reviver tudo de novo.

Fez-se domingo quando mais nada era interessante. Quando voltar ao lugar com mar, igreja e tristeza era só mais um querer. Desejar encontrar a jovem e perguntar o que acontecera, por que chorara tanto e como estava sua vida a partir de agora. Mas não. Viagem de volta. E as imagens do domingo comum invadem meus olhos, refletem em minh’alma, me fazem melhor – ou pior. Pessoas voltando da casa de Deus, com uma crença diferente da minha. Crianças diferentes de mim, correndo pela rua, em meio a um sol escaldante. Gente simples, fazendo coisas simples. Gente sofrida, vivendo uma vida sofrida. E eu nada posso fazer. Ou será que posso? Observar?

Era nosso domingo. Domingo de Páscoa. Hora da ressureição. Conheci o gigantismo das máquinas, o lado, até então, desconhecido de uma cidade, o verde fechado, o longe benevolente do preconceito, a vontade de fazer a diferença e reconheci o poder dos domingos. Ao lado de uma parte, agora, fundamental pra mim. Que me perdoem os outros domingos, mas esse vai ficar marcado. Na memória e agora, em forma de pedaços de prosa e poesia.

O melhor amor em vermelho que já conheci na vida

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quem foi Alice?

Alice não me escreveu aquela carta. Alice não caiu naquele buraco. Alice nem mesmo existiu.
Alice é desengonçada. Alice tem uma cara amarrada. A Alice nem sabe o que viu.
Alice e sua mesma história. Alice e o coelho que agora é branco e um pouquinho anil.
Alice tem medo da morte. Alice não sabe o que é sorte. Alice viveu no Brasil.

Marcos Lima

domingo, 28 de março de 2010

Depois

Saio depois da chuva. Procuro descanso em um banco molhado. É quase noite. Pássaros voam em direção ao ninho. Pessoas passam. Carros passam. Soluço. Choro. Sonho. O sol se põe. O cheiro gostoso de uma nova terra, lavada por uma nova chuva. Levanto. Ando um pouco à procura de novas caras, novos seres, novos ares. Percorro centímetros; metros; quilômetros. Perco miligramas; gramas; quilos. Não sou medida. Precisava de chuva. O primeiro pingo bate. O segundo bate. Os próximos me encharcam. Corro em busca de abrigo. Ninguém quer me proteger. Vou refazer o caminho. Debaixo de chuva. Debaixo de noite. Olhos marejados me condenam. Sussurros condenados me marejam. Acho uma árvore. Escuto um estrondo. Trovão. Lembro da minha casa. Próxima. A três árvores. Número ímpar. Azar. Raio. Lembranças. Medo. Morte. Saio depois da chuva. Agora não!!


 Depois by MarkosoLima


 Depois (James Morrison - Please Don't Stop The Rain) by MarkosoLima

sexta-feira, 26 de março de 2010

Minha alma ultrapassada

Hora de arrumar as gavetas. Tantos papéis velhos, tanta anotação, tanta coisa do tempo do ronca. Às vezes me pergunto por que sou tão apegado às coisas antigas, principalmente àquelas que parecem não ter mais valor algum. Algumas pessoas dizem que eu tenho alma de velho. Mas será que os senis são os únicos a guardar tanta bugiganga? Será que eu, mesmo com toda essa minha veia moderna, com esse discurso atual e essa forma de viver pautada nos preceitos do século XXI, não posso ter o direito de guardar algumas relíquias? Será?!

Hora de arrumar os pensamentos. Sinto-me velho não somente na condição de colecionador de coisas velhas. Sinto-me velho por causa de certas atitudes, certas ideias fixas, senso comum, medo de aventuras modernas. Mas nunca tive medo de blogar, orkutar, twittar ou qualquer outra ação que inclua um verbo ciberneticamente novo. Mas tenho medo de voar, sair domingo à tarde, fazer rappel, aceitar a morte. Tal qual um velho.

Engana-se, porém, quem achar que eu não goste de ser assim. Ser chato e rabugento tem lá suas vantagens, apesar das desvantagens serem mais visíveis. Você discorda mais, garante opiniões formadas, defende teses há muito firmes e sólidas. Mas se restringe, se limita. E isso é ruim. A falta de mobilidade e liberdade é inerente a um idoso, daí tal comparação cair como uma luva. E tem gente por aí com medo dessa falta chegar.

Gostar dos Beatles, Jhonny Cash, Elvis, Michael, Celine Dion, Cindy Lauper, Bezerra da Silva, Zeca Pagodinho ou qualquer outro artista que não faça parte dos primeiros lugares das rádios atuais não quer dizer que você tenha alma de velho. Repudiar tatuagens, piercings, emos, rockeiros ou góticos não quer dizer que seu pensamento está preso ao passado das anáguas e sobretudos. Basta tolerar.A opinião é sua, o preconceito é seu. A tolerância também é.

Feliz daquele que tem a sabedoria de um idoso. Sabe mais, conhece mais, protege mais, age mais. Não que eu não goste da atualidade, longe de mim! Adoro o novo, apesar do receio que ele sempre traz. A questão é que eu adoro uma boa história de velho. História essa que geralmente sai da mesma boca que os netos dizem que fede. Netos burros, esses.

quinta-feira, 11 de março de 2010

O que planejar para datas especiais?

Navegando por alguns sites de relacionamento, encontrei uma pergunta que me chamou atenção e que achei interessante discutir na crônica de hoje: “O que planejar para datas especiais?” O que fazer quando você dá o mais belo presente para seu amado e ele lhe retribui com um simples beijo dizendo que adorou? Como tratar sua namorada ao receber um simples cartãozinho de ‘Feliz Dia dos Namorados’? Será que só a intenção é suficiente ou suas expectativas são maiores do que isso?
 
Primeira coisa: certos dias no ano podem ser importantes ou não! Os seres humanos são diferentes entre si e é justamente isso que faz a mágica da atração acontecer. A importância dada a certas datas do ano varia de pessoa para pessoa e isso com certeza não é motivo para brigas, discussões ou rompimentos. O Dia Internacional da Mulher, por exemplo, pode ser importantíssimo para mim - ao passo que demonstra o valor da mulher na sociedade, sua luta diária, seus valores, etc. –, enquanto pode não ter o mesmo significado para o namorado da sua melhor amiga. Infelizmente, tudo é relativo!
 
Segundo aspecto importante: você pode estar disposto a presentear e a outra pessoa não! O que fazer nessas horas? Todos nós já passamos por isso: sentir medo em dar um bom presente para outra pessoa por acreditar que não irá receber um de mesma valia. E é aí que nasce o problema. Você compra uma lembrancinha e o seu presenteado lhe retribui com um presentão. Que decepção! Uma solução pra isso está em pré-determinar os preços dos presentes, o que geralmente tem acontecido em brincadeiras de amigo-invisível por aí.
 
Terceiro: a intenção e o seu ego entram em disputa! Uma lembrança pode marcar muito mais que um presente caro e da moda. Uma flor, que murcha e morre, pode ser lembrada pelo resto da vida, ao contrário de uma carta enorme que é logo jogada em um canto por ser extensa demais. Mas você se sente mal quando dá um presente e não recebe. Você se sente mal quando vê todos os seus amigos recebendo presentes e você não tem nada para admirar. Você sempre se sente mal. Nós nos sentimos…
 
Sentar e chorar? Jamais. Aprendi com minha namorada, por meio de demonstrações empíricas e filosóficas, que não se deve planejar nada. O máximo a que devemos nos permitir é planejar sermos pegos de surpresa, a fim de aproveitar com muito mais intensidade o que a vida nos oferece. Se ele não lhe deu presente hoje, dê um pra ele amanhã! Se você fez aniversário e não ganhou nada do seu melhor amigo, espere até o aniversário dele e prepare algo diferente, que o faça ver que ele errou. Se você quer presentear, vá lá e presenteie.
 
Às vezes é bom ter pensamento de imigrante e preparar-se para o pior, afinal nunca se sabe. A intenção só vale realmente a pena quando é você que se dispõe a presentear. Do contrário, o seu ego lhe domina por inteiro e todos os anos de amizade, namoro, trabalho ou até mesmo de relação familiar vão embora rapidinho. Experiência, galerinha… experiência!
 
Só não aceitem canequinhas de 3 reais no dia do seu aniversário, beijos!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Menina - Mulher

Ser mulher é uma dádiva de Deus. Comprova-se isso, diariamente, nas demonstrações de força, carinho, afeto, luta, zelo e determinação pelas quais todas vocês passam, sempre de cabeça erguida e com o coração manso, feito o barulho do vento em uma tarde silenciosa.

Ser mulher é a combinação perfeita. É o verbo e o substantivo, que se transformam, que se alinham, que se tornam um só e alegram o coração de quem está disposto a se alegrar.

Ser mulher é ter a certeza do futuro. É poder ter a capacidade e responsabilidade de fazer surgir uma nova vida, uma nova história, um novo começo. De gerar um sorriso único, uma alegria imensurável, uma paz eterna e um amor sublime.

Ser mulher é a felicidade de um outro ser. De um ser humano, de um ser verdade, de um ser eu, de um ser você. Que esse dia valha realmente a pena! E que a linda mulher que você é hoje, Jamille Leite, guarde sempre a linda menina que de vez em quando aparece, em uma atitude, em um sorriso e em um beijo.

Parabéns pelo seu dia. Do seu namorado que te ama muito...

Marcos Lima

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Espero a minha vez

Algumas coisas não conseguem sair da minha cabeça. Como essa história de ganhar e perder. Quem diabos inventou isso de vitória e derrota? Quem foi o engraçadinho que resolveu determinar que daríamos risos quando ganhássemos e que choraríamos quando perdêssemos? Talvez essa pessoa quisera apenas nos poupar de certos desprazeres. Por exemplo, ver aquele técnico de futebol falido sempre triste, enquanto aquela jovem modelo bonita e rica aparece por vezes feliz em cada aeroporto que desembarca. Pura utopia.

Acredito que quem bolou esse plano tenha sido o criador de uma das coisas mais preciosas que temos, mas que não damos um pingo de valor: o equilíbrio. Como viver em linha reta, só com alegrias ou só com tristezas, se nem a linha da vida segue tal horizontalidade? Nossa existência é constituída por altos e baixos, erros e acertos, e teimar em querer exigir perfeição de si mesmo é uma grande roubada. Ou você acha que essa sua fase de felicidade plena vai durar pra sempre? Acredite, vai!

Tiro isso por experiência própria. Vivi anos maravilhosos, conheci pessoas maravilhosas, cultivei coisas belíssimas, mas nada disso me livrou de épocas ruins, como, por exemplo, ser sumariamente eliminado do meu primeiro vestibular. Logo eu, um excelente aluno, queridinho pelos professores, agora procurando um lugar pra se esconder em meio a rostos felizes de aprovação, que insistiam em me reprovar. Tudo bem que eu não me dediquei em nada pra esse meu primeiro grande teste, mas ainda acreditava em um pouco de sorte aliada ao que eu sabia. Que nada. Uma a uma, as questões foram me vencendo, como se eu fosse um time de várzea jogando contra a Seleção Brasileira Pentacampeã. No final, era eu em uma quadra de esportes, ouvindo Coldplay e querendo a todo custo um abraço da minha futura namorada. Pelo menos, esse desejo tornou-se realidade e eu pude finalmente enxergar que não havia sentido nenhum ficar daquele jeito, porque, de algum modo e em algum outro lugar, havia algo bom esperando por mim. E hoje eu sei qual é essa sensação.

Passei em 7º lugar para História na Universidade Federal do Maranhão. Tudo bem que não foi no curso que eu queria, mas já me dou por satisfeito. Não vou desistir de cursar Direito e de defender certas teses que ainda tenho em mente. Venci a pedra no caminho com o nome de ENEM e agora pretendo colecionar um monte de outras pedras vencidas dessas. Ainda tenho questões pra resolver, família pra cuidar, namorada pra namorar e gêmeos pra ver crescer. Preciso e quero vencer, mas sem abrir mão de chorar e perder, a cada vez que o criador do equilíbrio desejar.

E passem essa mensagem adiante. Por maior que seja o problema, encare-o. Por maior que seja o seu medo, enfrente-o. Não há vitória sem batalha. E não há derrota sem tentativa. Espere sua vez. O fato é que paciência pode até ser uma de minhas aliadas, o que não impede que ela seja sua também. Não perca suas glórias. Tanto a glória de sorrir de felicidade, quanto a glória cantada pelo "Los Hermanos": a sublime e eterna glória de chorar!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Notas de um ignorante

Entre as coisas que me surpreendem e humilham, figura esta, fundamental, que é a cultura de meus amigos e conhecidos. Não só a cultura no sentido clássico, mas também o conhecimento imediato das coisas e fatos que lhe estão sob os olhos no dia-a-dia da existência. Quem está a meu lado sempre leu mais livros do que eu, conhece mais política do que eu, já esteve em mais países do que eu, já teve mais casos sentimentais do que eu, estudou mais do que eu, praticou e pratica mais esportes. Paro e me pergunto que fiz dos meus anos de vida. Já fui atropelado e sofri alguns acidentes, como explosão, queda e afogamento. Mas entre os acidentados não estou na primeira fila. Tenho vários amigos que já caíram de avião, outros de cavalo, alguns sofreram pavorosos desastres de automóveis, um esteve preso num armário enquanto uma casa (não a dele, é claro!) se incendiava, outro ajudou a salvar o navio "Madalena" em meio a tremendas ondas que ameaçavam arrebentar sua lancha a todo momento.

Que fiz eu de minha vida? Em matéria de cultura encontro imediatamente quinhentas pessoas, só entre as que eu conheço, que sabem mais línguas do que eu, leram mais, falam melhor e mais logicamente, conhecem mais de teatro e citam com precisão escolas filosóficas, afirmando que tal pensamento pertence a esta e contradiz aquela. Que fiz eu? De esportes ignoro tudo, não sei sequer contar os pontos de vôlei, só assisti até hoje a uma partida de pólo, nunca joguei futebol e quando vou ver esses jogos desse esporte, só consigo reconhecer os jogadores mais famosos. Esqueço o nome de todos, e no domingo seguinte já não sei mais o escore da partida a que assisto neste. Nado mal, corro pedras, jamais consegui me levantar num esqui aquático, não guio lancha, joguei golfe uma vez, tênis seis meses, não entendo de velejar (o que já me causou uma grande humilhação diante de esportivíssimas americanas de quinze anos que me conduziram num passeio lá na terra delas), e, em matéria de mares, nunca lhes sei os ventos e fico parvo com o senso de direção de muitos e muitos de meus amigos que jamais supus tomassem nada de brisa e tufões. Guio, mas o motor de meu carro é para mim um mistério indevassável. Sei apenas abrir o capô e contemplar a máquina, atitude metafísica que até hoje não pôs carro algum em marcha.

Seria eu então um homem dedicado à cultura propriamente dita, aos livros, ao estudo, ao amor da leitura e do pensamento? Não, pois meu pensamento é confuso e minha leitura parca. Conheço homens, dos que não vivem de escrever, que pensam muito melhor do que eu e leram muito mais, sem contar os especialistas, que conhecem livro pelo cheiro.

Entre os que viajam também não sou dos que tenham viajado mais. Com o agravante de que nunca sei bem onde estou, não conheço a distância que vai de Roma a Paris, nem sei se Marselha está ao Sul ou ao Norte da Itália. Fico boquiaberto quando vejo amigos meus apontarem estátuas e falarem sobre os personagens que elas representam com uma facilidade com que falariam de si próprios. Mesmo o conhecimento de nomes, pessoas e fatos adquiridos em viagens eu o esqueço em três semanas. Mas não adianta o leitor querer me consolar, dizendo que talvez eu seja um bonvivã, porque nunca o fui dos maiores, tendo minha vida sido conduzida sempre numa certa disciplina, necessária a quem veio de muito longe. Donde o amigo poderá concluir então que eu sou um trabalhador infatigável, um esforçado, um detonado. E isso também não é verdade porque, com raras exceções, nunca trabalhei demasiadamente e cada vez procuro trabalhar menos, numa conquista ao mesmo tempo prática e filosófica. Bebo? Bebo mal e ocasionalmente. Não sei quando a bebida é boa ou falsificada. Não sei o nome dos vinhos mais triviais e sempre me esqueço qual é o restaurante em que eles fazem um prato que certa vez eu adorei. Por mais jantares a que tenha ido e por melhores alguns lugares que tenha freqüentado, devo sempre esperar que alguém se sirva na minha frente para não pegar o talher errado e o copo idem. Além do que não como muito, nem tenho nenhuma particular predileção por comer. Gosto então da vida calma, sou um praticante da meditação e do ioga? Nunca dos que mais o são. Por outro lado a extrema agitação também não me é familiar.

Que fiz da minha vida? Quando há um acidente de rua, vem-me o pavor de tomar partido, pois nunca tenho realmente a convicção do lado certo. Se fala o mais poderoso eu sou inclinado a ficar de seu lado por uma tendência a defender os que hoje são mais comumente acusados de todos os males, vítimas do tempo. Se fala o mais humilde sinto-me inclinado a defendê-lo por um ancestralismo que me faz seu irmão, por idéias arraigadas que fazem com que todo homem queira lutar instintivamente pelo mais fraco. Por quê? Não sei. Sou bom de guardar nomes, caras, datas? Já disse que não. Sempre esqueço o nome dos conhecidos e troco o dos amigos mais íntimos num fenômeno parifásico que só a loucura mesma explicaria ou então a bobeira nata que Deus me deu. E política meu conhecimento chega ao máximo de saber que o Sr. Plínio Salgado pertence ao PRP, o Brigadeiro à UDN e Jango ao PTB e creio que há alguns outros partidos também. Mas mesmo essas convicções não são inabaláveis e, se alguém me pegar desprevenido e fizer dessas letras e nomes outras combinações, lá vou eu a aceitá-las, embrulhado e tonto, até que outro interlocutor crie para mim novas combinações e novas confusões.

Mas peguem um puro e simples crime e eu nunca sei quem matou a empregada e em meu peito jamais se chegou a criar uma suspeita sólida a respeito do poeta de Minas. Isso, aliás é o máximo a que vou – sei que houve um crime em Minas Gerais, alguém matou alguém. O morto não está na lista de minhas lembranças, não sei de quem se trata. Sei que o indiciado assassino é um poeta, vi sua cara barbada e meio calva em muitos jornais e revistas. Mas meus conhecidos sabem de tudo. As mulheres de meus conhecidos então nem se fala. Que fiz eu de minha vida? – me pergunto de novo, honestamente, com a surpresa e a amargura com que o Senhor perguntava: “Caim, que fizeste de teu irmão?” Pois boêmio não sou, embora tenha gasto milhares de noites solto pelas ruas. Mas os boêmios me consideram um arrivista da boemia assim como os homens cultos me consideram um marginal da cultura. E os esportistas a mesma coisa com relação aos parcos esportes que pratico. Todos com carradas de razão.

E nem a maior parte do meu tempo foi gasta em conquistas amorosas, pois nesse terreno o Porfírio Rubirosa, se me conhecesse, me olharia com o mesmo desprezo com que me olham conhecidos galãs nacionais.

Dessa mente confusa, dessa existência confusa, dessas mal-traçadas-linhas de viver creio que só resta mesmo uma conclusão a que durante anos e anos me recusei por orgulho e vergonha – sou, por natureza e formação, um humorista.

Millôr Fernandes

domingo, 31 de janeiro de 2010

Seis letras que choram

Há muito tempo atrás, existia em um reino próximo ao Brasil que tinha como Rei um homem severo, ganancioso e possuía um dos maiores e mais antigos males da humanidade: a inveja.
 
Ele se sentia infeliz e intranqüilo, pois próximo à sua nação existia dois reinos menores, mas que inspiravam muita paz, utopia e perfeição. É claro que isso tudo não passava de aparência, já que em todos os reinos havia seus defeitos, brigas, desuniões e também coisas boas, como sabedoria, carisma, beleza e principalmente uma coisa que os diferenciavam dos outros: sinceridade. O rei invejoso, por incrível que pareça, se sentira cada vez mais próximo dos “reis perfeitos” e queria conhecê-los melhor. Os reis então se tornaram os melhores amigos, sempre se visitando (embora sempre houvesse um rei que não queria que um visitasse o palácio do outro).
 
Mas um dia toda essa amizade desabaria, quando os reis vizinhos resolveram se reunir, e o rei invejoso sentiu retornar todos aqueles sentimentos malignos e tudo que ele havia cultivado para com seus melhores amigos desmoronou. Encabeçando um diabólico plano, o rei proferiu boatos infundados para denegrir a imagem dos outros reinos e colocar uns contra os outros para que quando os seus amigos estivessem fraquejados, ele tomasse todos os seus bens cobiçados.
 
O plano no início deu certo, entretanto a consciência pesada do rei começou a latejar ao ver seu amigo necessitado ele não pôde ajudar, tendo ele ficado com um medo avassalador de perder a amizade de seu melhor irmão e ser condenado pelo seu crime. Mas o sentimento de inveja e ganância corrompeu-no por completo e ele fechou os seus olhos para a realidade.
 
Certo dia, o rei da inveja descobrira que seu melhor amigo havia descoberto toda a trama e resolveu cortar relações com ele. Foi o pior dia da sua vida. Não bastando o fato de ter perdido mais que um amigo, um irmão, ele viu seus amigos se afastarem, sofreu “ameaças” de morte, viveu dias sufocantes e passara noites em claro pensando no seu ato diabólico e ainda perdeu a amizade daquela que considerara sua maior confidente, uma das melhores mães do mundo, que era a de seu ex-amigo.
 
Essa história vale como lição para muitas pessoas que põem a ganância na frente do coração e devotam sua vida a um dos sentimentos mais perversos do universo: a inveja.
 
Redijo este artigo, ainda com a mão trêmula, para dizer-lhes: não se deixem levar por esse pecado maldito, que destrói vidas, cortam relações e criam inimizades. Se você sente inveja de seu melhor amigo, converse com ele. Não prepare planos mirabolantes para testar o seu “teto de vidro”. Tente entender seu lado e veja que nada no universo é perfeito, e se existir, um dia acaba. Solte seus espectros, “soltem os panos sobre os astros no ar, soltem os tigres e os leões nos quintais”, mas não acumulem sentimentos ruins.
 
Bem amigos, essa foi a mensagem de uma nova era. Chega de inimizades, acabe com a maldita inveja e seja quem vocês são. E se eu estivesse no lugar do rei que traiu seu amigo, eu pediria para o mundo seis letras, que não choram, e sim que sorriem e abrem muitas portas. Pediria PERDÃO.
 
Por Leandro Chaves,
ou (um novo) Mr. Blonde

domingo, 24 de janeiro de 2010

Crônica da falta de crônica

Depois de um tempo sem escrever nenhuma crônica, nossa mente começa a nos perturbar. Alguns definem isso como “crise de abstinência intelectual”, enquanto outros preferem dizer que o tal problema não passa de “uma simples, porém maldita, falta de inspiração”. Eu discordo. Não existe falta de inspiração em um mundo maravilhoso como esse, onde a pior das dores pode servir de plano de fundo para um texto. O que existe na verdade é a falta de vontade, disposição ou até mesmo tempo para alinhar as palavras e transformá-las em leitura.
 
Digo isso porque minha “falta de vontade, disposição ou até mesmo tempo para alinhar as palavras e transformá-las em leitura” foi a grande responsável pela falta de textos como esse neste espaço. Se fosse algo remunerado, qualquer tema caberia, até falar sobre as palavras cruzadas que terminei de fazer ainda há pouco. Mas prefiro isso de escrever sobre algo que me perturba ou que realmente me dá vontade de escrever. Apesar de que ganhar dinheiro escrevendo deve ser algo fascinante…
 
Nestes meses de ócio, milhares de coisas passaram pela minha cabeça de recém-adulto. Pensei em escrever sobre novos amores, sobre filmes, família, amigos e não-amigos, responsabilidades, músicas, coisas que me atraem… até fazer uma crônica sobre a Lady Gaga era um dos temas que quase viraram texto. Mas outras prioridades apareceram em minha vida. Tive que estudar pra fazer o tal do ENEM, curtir minhas férias com os amigos, namorar um pouco (afinal, ninguém é de ferro), fazer coisas novas, conhecer novos lugares… Experiências que texto nenhum consegue expressar em plenitude.
 
Em plenitude. Porque pelo menos a essência da coisa eu vou tentar transmitir a todos vocês que me leem nesse momento. Experiências marcantes, provas de amor, medos, aflições, pontos de vista e qualquer outra coisa que me provoque o bastante para que eu escreva sobre ela. Não é uma promessa, é mais uma responsabilidade. Tirar o peso de ter tanta ideia presa na mente e evitar que o ócio consuma cada uma delas em fogo baixo.
 
Avise a todos que o Senhor do Tempo está de volta. E com mais ideias em mente. Pronto pra rabiscar, contar histórias de um cara com nome de bebida, mostrar novos métodos para viver melhor, escrever sobre seu tempo, sobre sua vida ou sobre a vida dos outros. Conto com a ajuda de cada um aí do outro lado, para que esse seja mais um espaço de entretenimento e de boas vibrações. E que a cada dia, possamos acordar como pessoas melhores, mais dispostas e cheias de vontade de escrever uma nova crônica em nosso livro da vida.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Cabelos ao vento

E agora
Os teus cabelos são meu corpo
Afagar
Os teus cabelos são meu livro
Te encontrar
Os teus cabelos são história
Te contar
Os teus cabelos são lembrança
Vou levar
Os teus cabelos são encontro
Te beijar

Nenhuma palavra foi dita
Toda palavra foi dita
Cabe a qualquer parte
Virar arte, poesia
E os teus cabelos são, agora,
Minha glória, meu cantar
O teu sorriso, minha vitória
Celebrar e celebrar
E o teu desejo, meu desejo
De verdade, te amar

Marcos Lima

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Contos de Whisky III

- Honestamente. Não quero mais falar sobre isso.
- Mas, doutor. Essa é a sua última chance.
- Ok, Viviane. Quer dizer que você quer terminar seu namoro de 5 anos pra ficar com alguém totalmente diferente de você quando o assunto é relacionamento?
- Eu não diria totalmente diferente.
- Certo, certo. Mas essa não é a questão. O problema é que você quer deixar para trás todos os momentos bons vividos com seu atual namorado e trocar por algo que você nem sabe se vale a pena.
- Vale, doutor.
- Ok. Então me diga por que vale.
- Vale porque eu amo o Carlos. Nunca fui perdidamente apaixonada pelo Guilherme. Nunca me peguei pensando nele à noite, antes de dormir, mesmo quando estávamos apenas nos conhecendo. Era coisa de menina adolescente apaixonada e louca pra ser feliz. E o melhor é que fui feliz. E continuo sendo, só que agora apaixonada.
- E por outro.
- Isso, por outro!
- Mas seja sincera consigo mesma. Você ainda gosta do Guilherme?
- Gosto como amigo. Aliás, nós sempre parecemos mais amigos do que qualquer outra coisa. Nas festas em família, nas idas ao shopping, nos shows e baladas, nas noitadas pelos bares... Todo mundo sempre achou que nós éramos apenas amigos. Bons amigos!
- E por que namorar 5 anos com uma pessoa que lhe é apenas amigo?
- O diferente me atrai, doutor. Ele era diferente. O meu primeiro beijo foi com ele. Era quase um segredo que deveríamos guardar. Eu confiei nele como se confia na amiga mais íntima. Passamos 5 anos confiando um no outro, mesmo quando o que eu mais queria era não poder confiar. Sou grata a ele por tudo, mas hoje vejo que estou mais acostumada em tê-lo por perto do que gostando de verdade.
- Mas você chegou a gostar dele de verdade?
- Gostar sim, mas amar não. O nosso “Eu te amo” era um “Eu te amo” de amigos. E nunca foi mentira.
- E o Carlos, Viviane? O que te faz amar tanto esse rapaz?
- Bem, doutor. O jeito como ele me olha, o sorriso que ele me dá sempre que nos cumprimentamos, o abraço apertado de vez em quando na escola, a sua inteligência, a sua beleza, o seu jeito de ser, sua educação. E alguma coisa que eu ainda não descobri o que é, mas que eu estou disposta a descobrir o mais breve possível.
- Entendo. Já falou isso pra ele?
- Não. Tenho medo de que ele não sinta nada por mim.
- Então, novamente te faço essa pergunta. Está disposta a terminar um namoro de 5 anos para simplesmente descobrir algo oculto de uma outra pessoa?
- Não é terminar por terminar, doutor. É isso que eu queria que entendesse. O Guilherme anda estranho. Não conta mais nada sobre sua vida, não me conta seus problemas, como vai na escola... O fato é que continua apaixonado. Ele. Já eu, não. Vai ser difícil fazê-lo entender isso.
- Então, se está totalmente decidida, converse com ele. Terminem o namoro juntos.
- É isso mesmo, doutor Marcos. Vou conversar com ele e me resolver. É preciso coragem pra enfrentar novos riscos.
- Boa sorte, minha filha.
- Obrigada!

Naquele dia, Viviane saiu da sala do psicólogo decidida a mudar sua vida. Chamou Guilherme em um canto, falou tudo o que tinha pra falar e terminou o namoro. Ele concordou. Não havia outra saída se aquele quase noivado não fazia mais sentido nem pra um nem pra outro. À noite, antes de dormir, Viviane contou tudo o que havia acontecido para Carlos, que, apesar de não querer que ela tivesse terminado aquela relação, ficou feliz da vida.

No dia seguinte, Viviane curtiu seu primeiro dia de solteira na casa de uma amiga. Não sabia ao certo o que queria fazer, mas decidiu que iria fazer. Pegou a bebida mais ardente que havia no lugar e bebeu de uma só vez. Cantou, gritou, esperneou, fez declarações para Carlos e dormiu... Acordou bem mal e nem um pouco arrependida. Tinha começado uma nova vida, ao lado de uma vida nova. E havia dito o primeiro “Eu te amo” verdadeiramente apaixonado para alguém que realmente merecia.

Isso aconteceu há 30 anos. Viviane e Carlos estão casados até hoje e a lembrança que mais guardo dos dois é o olhar sincero que ambos insistem em dar toda vez que se olham. Formam um casal perfeito, com apenas um objetivo na vida: serem pegos de surpresa!