domingo, 29 de novembro de 2009

Própria Fuga

Eu só queria sumir
Pra um lugar de fogo, de preferência
Queimar, arder todas as minhas angústias
As minhas faltas, os meus medos
Meus deslizes e qualquer outra coisa que me perturbasse

Eu só queria fugir
Fugir pra um lugar de gelo
Morrer de hipotermia, e levar com ela toda a agonia
O desprezo, a falta de razão
E afastar essas lágrimas que caem e as que já caíram

Eu só queria ficar
Enfrentar cada olhar reprovador
Cada criança faminta, cada alegria desmedida
Enfrentar e dizer pra cada uma delas
Que eu sou capaz, que eu quero viver em paz

Mas eu não posso
Me falta coragem, vontade e força
Estou fraco, ligado sem nenhuma voltagem
Vontade, verdade, fugir, desaparecer
E começar tudo de novo
Antes que aquelas palavras saíssem da minha boca.

Marcos Lima

sábado, 21 de novembro de 2009

Contos de Whisky II

Era noite de Natal. Em meio à música, vozes e pessoas, Carolina escolhia ficar só. O oitavo andar poderia ser seu refúgio, desde que ninguém, nada a pudesse perturbar. Não gostava muito de comemorações. Culpa de seus pais, responsáveis por quase todos os traumas e complexos presentes naquela alma. Gostava da noite e queria sair para um lugar tranquilo, onde ela e sua solidão pudessem aproveitar a escuridão como um casal de bêbados dançando e cambaleando sob o luar.

Lembrou-se daquilo que sempre a acompanhava em tempos difíceis. Aproximou-se da adega, pegou o melhor vinho, colocou 3 cubos de gelo em um copo e afogou-se em mágoas. Pensava em sua mãe, histérica e nervosa, espalhando por aí como era infeliz e como desejava morrer naquele segundo. Morrera, arrependida e, por incrível que pareça, feliz. Recordava a brutalidade de seu pai. As surras, as brigas homéricas, as discussões nas sextas-feiras à tarde, os impedimentos... Olhava para trás e não conseguia enxergar algo que tivesse valido à pena. Realmente, nada valia à pena. Hoje, a infeliz era ela, sem carinho, sem perspectiva, sem futuro, sem amor.

Mas tinha o que posso chamar de “instinto defensivo emocional”. Carolina havia se relacionado com 5 homens. Não amou nenhum, justamente porque não sabia – e não sabe, até hoje – o que é o tal do amor. Sexo, nunca fez. Seu corpo pedia, mas a única resposta que ela conseguia dar era o trabalho. Carolina tinha prazer por trabalho. Era uma jovem e bonita mulher refém do trabalho. Não sentia afeto por ninguém, nem mesmo por seu cachorro, que naquela noite de 25 de Dezembro resolvera passear pelas ruas do bairro em busca de atenção. Como ele descera aqueles 8 andares? Deveras desnecessário...

Era instinto porque era subjetivo, exclusivo, pessoal. Era da Carolina. Era defensivo porque a cada nova tentativa e a cada nova decepção, fechava-se em si mesmo deixando para trás qualquer arrependimento que pudesse pensar em ter. Era emocional e autoexplicativo. Fora amada por todos os seus 5 homens, que ao primeiro passo em falso, perdiam aquela linda menina de olhos castanhos escuros, cabelos encaracolados pretos e sorriso no rosto. Dava medo.

Agora, é Ano Novo. Ela sente como se algo realmente novo a estivesse esperando na esquina mais próxima, mas tem medo de descer e descobrir o que é. Estava insegura. Carolina passara uma semana presa em seu apartamento, com medo do mundo e ninguém entendia o porquê. Ninguém mesmo, afinal, Carol, como prefere ser chamada, tem a incrível capacidade de enxergar o brilho perdido das pessoas.

E bebia. Como todos os outros indivíduos que conheço. Pra ter coragem, pra dançar ao som da música mais agitada, pra ter liberdade, pra ficar junto de alguém que nunca imaginaria poder ficar, pra fazer acontecer... Entretanto, é só um pretexto para vencer o medo. A maioria dos ébrios que conheço lembram-se de tudo o que fizeram na noite passada – inclusive o gosto do beijo da pessoa amada. Os desmemoriados, como Carolina, pedem e eu conto tudo o que vejo. O que realmente acontece só você pode me dizer...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Estação Felicidade

Proibiram
Proibiram o meu ser de ser feliz
O teu ser de ser feliz
E o que eu faço?

Te enxergo no escuro ou finjo que não sou eu?
Te espero no futuro ou presente ao lado teu?
O que faço? Me digas, o que faço?

Se não fizeres algo nesse instante, enlouqueço
Desespero e te espero, sincero
E acordo
Puro sonho

Sou feliz. Estou feliz.
És feliz. Estás feliz.
Somos um, apesar de dois
Somos dois, apesar de um
Esse um, que nos faz feliz
E me diz
O que é ser feliz?
Você quer ser feliz?
Me diz:
Já sou feliz
Só contigo, depois de tudo, é que sou e serei - feliz !

Marcos Lima

sábado, 7 de novembro de 2009

Estação Felicidade

É complicado definir felicidade. Para muitos, ser feliz é quase um estilo de vida, algo extremamente necessário para viver bem. Para outros, felicidade está mais associada ao momento do que a algo duradouro. E há os que dizem nunca ter sido felizes. O fato é que todos que tentam explicar esse sentimento vivem ou já viveram uma situação considerada por eles feliz, seja no âmbito familiar, amoroso ou entre amigos. Não há acordo. É ser feliz e pronto, da maneira que lhe julgar conveniente.

Felicidade extremamente necessária. É aquela única e superdifícil de ser alcançada. Nos ataca geralmente nos momentos de tristeza e desilusão. “Eu nunca vou conseguir ser feliz” é a frase que melhor a representa. É a mais comum e a que mais decepciona. Logo, logo, depois de recuperado, você estará rindo à toa e cantando felicidade por aí. Prova de que deixou mentiras pelo caminho. É a mais comum e a mais ineficiente. Não existe tal sentimento na tristeza, por isso não idealizam-se pretensões naquele momento.

Felicidade efêmera. É vista como a do momento, a que deixa marcas, fotos, lembranças, saudade. É a mais sublime, a mais verdadeira. O “Carpe Diem”, pregado pelo Barroco e Arcadismo, é a principal característica desse tipo de felicidade. Aproveitar o momento, rir à toa, amar à vontade, pular, correr, gritar de madrugada na casa da sua melhor amiga e fazer o que quiser estão entre as principais atividades dessa forma de ser feliz. Ao contrário da utopia presente na felicidade eterna, essa tem como maior qualidade o fato de passar e deixar o gosto de quero mais. Queremos mais.

Negação da felicidade. A humanidade vivendo extasiada, em meio a estresse, problemas cotidianos, cansaço e correria. É mais do que aceitável esquecer dos momentos bons que passamos. Mas não dá pra esquecer de tudo. Dizer que você nunca foi feliz é pura conversa fiada de gente estressada. Dizer que a felicidade não existe é ser imediatista demais. Devemos dosar. Felicidade é para ser vivida, não planejada. É inerente ao ser humano e não necessita de aprendizado. Somente a busca por essa sensação é eterna e começa imediatamente após seu fim. É um ciclo. Um ciclo diferente a cada renovação. Vai ver felicidade é isso mesmo: a eterna beleza de ser um brilhante aprendiz.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O que eu queira sentir

És de tudo, por tudo e contudo um sentimento
És perdido, insano, inquieto, vivido
És um sonho, uma honra, um beijo, um pedido
És confuso, catado, ligeiro, perigo

És pequeno, voraz, atento, preciso
És a noite, a tarde, o dia, sentido
És o fogo, a carne, a sombra, um bicho
És de sorte, o maior e mais lindo inimigo

És estranho, não mais que estranho conhecido
És veloz, arrebata, de novo o abrigo
És o som e o barulho, meu novo alento
És temido, impávido, colosso, sentimento.

Marcos Lima