Ando cansada dessa história de
Romeu e Julieta modernos. Cadê o veneno? Cadê a emoção? Quando finalmente
poderemos ficar juntos? Talvez fosse melhor apelar para a inimizade de nossas
famílias, mas elas sequer se conhecem. A gente odeia essa bobagem de apresentação
familiar, lembra? Aliás, a gente odeia tanta coisa juntos. Daqui eu nem te
odeio, só odeio essa indecisão de menino que não sabe se vai jogar futebol com
os amigos ou se fica em casa sozinho brincando de videogame. Já tá na hora de
crescer, viu?
Ok, eu sei que não sou modelo de
decisão nem de menina crescida, mas é que uma hora cansa. Cansa me arrumar toda
e você sequer notar. Cansa eu ficar de mãos dadas a noite inteira com você e a
menina de vestido curto chamar mais atenção. Eu sinto sua falta, sabia? Não sou
tão insensível assim, apesar de meu sarcasmo exalar por todos os poros do
corpo. Corpo esse que eu queria que fosse todo seu, pelo menos uma vez. Mas
será que é isso que você quer? Ainda acho que nos conhecemos no momento mais
cruel de nossas vidas, aquele em que não podemos ficar juntos.
Às vezes paro e procuro entender
seu lado. Ex-namorada traumática, prazeres alcoólicos desmedidos, um amor
escondido pela Julieta sofredora. É um medo besta de deixar tudo pra trás e ir
lá ser feliz, né? Pra falar a verdade, eu me preocupo com você. Não é egoísmo e
preocupação exclusiva de quem quer ser sua, é simplesmente cuidado, uma
proteção boba que eu não sei de onde vem. É uma amizade diferente, um “para com
isso, deita aqui no meu colo e deixa eu te fazer esquecer os problemas”. Queria
ser uma dessas formiguinhas que de vez em quando passeiam por nosso corpo e morder
seu pé só pra chamar atenção. Falando assim pareço até desesperada. Aliás, quem
é não desesperado quando ama?
Amar? Nem sei se é isso mesmo,
mas que é forte e consumidor de minhas forças, isso é. Minhas amigas acham você
um idiota e meus amigos juram bater nesse seu rostinho lindo qualquer hora
dessas. Mas eu te defendo, feito leoa defendendo a cria, feito futura namorada
defendendo a felicidade. Apesar dos pesares, você me faz bem. “Gosto de você,
gosto de ficar com você”, como diziam os Tribalistas. Hoje somos apenas
lembranças de encontros fortuitos, beijos calorosos e despedidas carregadas de
lágrimas. Esse adeus doído que vivemos dando e que não passa de indecisão –
sua, diga-se de passagem.
Não vou esperar você. O que não
significa dizer que não seria legal se um dia você voltasse. Hoje me permito a
dizer que estamos vivendo o fim de algo que nem começou, feito não namorados,
feito amantes descobertos pelo pai da noiva. Você foi e sempre será meu bobão,
o garoto da bochecha mais gostosa de apertar, o meu indeciso favorito. Meu
veneno, minha história shakespeariana mais confusa, minha tragédia
acalentadora. E me despeço, encerrando essa história com seu próprio punhal
sujo de sangue encalacrado em meu peito cheio de amor. “Jamais história alguma
houve mais dolorosa / Do que a de Julieta e a do seu Romeu”.
Quanta criatividade, quanta profundidade e realidade nas tuas palavras!! adorei, markoso :)
ResponderExcluirBelíssimo texto! *-*
ResponderExcluirComo sempre né? rs
Beijão.