Algumas coisas da vida a gente
guarda na mente com carinho. A lembrança do cheiro da mãe, o primeiro dia de
aula, a casa da infância, a melodia de nossa música preferida... Em meio a
tantas sensações diárias, só nos resta catalogar cada experiência e depositar
lá no fundo da memória, em um verdadeiro baú de sentimentos. De vez em quando,
nos permitimos a abri-lo e resgatar algumas coisas, jogando fora outras. Nessa
faxina emocional, inevitavelmente nos deparamos com detalhes despercebidos,
mensagens não decodificadas e palavras soltas, que só fazem sentido agora,
depois de muito tempo. Tarefa do dia: abrir meu baú de fatos e limpar seus
objetos empoeirados.
Não quero comparar ninguém, mas
as três tinham uma veia artística inegável. Uma, escritora nata, salivava
poesia toda vez que falava. A cada atitude impensada, a cada modus operandi diferente
do meu, um sarau de vícios e virtudes aparecia, prendendo a atenção do único
expectador interessado naquele espetáculo. Uma personagem digna de todos os
prêmios da academia, presa aos solavancos da vida, essa a sua única inspiração.
Moça sábia, de aventuras literárias enaltecidas em seus passeios de coletivo.
Não sei se ainda existe, se ainda mantém resquícios da menina mais velha que um
dia conheci, só sei que faz falta – no sentido mais puro e sem segundas
intenções que possa existir.
A segunda, em ordem
crono-ilógica, veio da música. Veio da partilha de sentimentos fora de validade
diretamente ao encontro de alguém totalmente disponível e apaixonável. Aprimorou
a arte do bem querer, do “tudo vai ficar bem”, do “me namora”. Esteve disponível
por todos os dias, horas, minutos, até ir embora sem eu bem entender por quê.
Alguma coisa sobre liberdade, sobre eu não ser a pessoa certa. Como a primeira,
também tinha tino para a arte. Pintou o amor em formas retas, brandas,
inimagináveis. Ligada com a mente, envolveu-se e desenvolveu-se ao longo do
tempo. Também faz falta, mas cabe ao tempo, esse senhor de destinos, regular os
ponteiros de nosso desencanto.
A última e não menos importante,
veio do nada. Do cotidiano de fins e começos, de histórias desconsertadas.
Tinha tudo e mais um pouco e me fez perceber que “tanta afinidade assim, eu sei
que só pode ser bom”. Morava no bairro perfeito, falava as palavras perfeitas,
queria a profissão perfeita, era a garota perfeita, cheia de imperfeições.
Venci todas as etapas possíveis, mas não passei no teste da indecisão. Como em
uma comédia romântica carregada de reviravoltas, me vesti de drama e senti o
terror de estar em um filme de ação. Eu, amante desengonçado da sétima arte,
perdi o final da história por simplesmente não querer assisti-la. Tal qual ela
fez. A que mais falta me faz e a que menos eu sei como fazer pra ter de volta
sem desejo e sem lampejo de felicidade.
No final, sempre acabamos descobrindo
que nosso baú não tem tamanho, é um buraco negro de memórias boas e ruins. Deus
me livre de um brilho eterno de uma mente sem lembranças. Prefiro ler Caio
Fernando Abreu, durante uma exposição de Romero Britto, antes de assistir a “Cada
Um Tem a Gêmea Que Merece” – que, aliás, é um péssimo filme.
Sei bem essa vontade de puxar a corrente e nela vir todos os vestígios de um passado tão cheio de mistérios, alegrias e dores... essas três garotas tiveram uma sorte imensa de passar pela tua vida e hoje serem relembradas na forma de palavras tão doces e criativas como essas.
ResponderExcluir[sobre o teu comentário no meu blog: Ohh Markinhoos! Ele foi melhor que meu texto, to até pensando em trocar minha introdução, por ele. Haha. Que bom que eu to de volta e que você me assistiu com alegria. :) beijão!
esqueci o ]
ResponderExcluirEu daria um doce pra saber quem são estas três garotas!
ResponderExcluirAh, tem um selo pra você no Lar da Escriturária :)