- Tô aqui pensando. Quem faria um
sobrado de cara pra parede? Olha lá, totalmente fora dos padrões de
arquitetura. Coisa de gente louca. Um dia ainda vou embora dessa cidade!
Natasha não falou por maldade.
Sentada no banco de uma praça próxima ao casarão aparentemente mal feito, a
garota procurava maneiras de evitar uma iminente discussão com a namorada.
Nicole havia trabalhado o dia inteiro numa dessas lojas de shopping e só queria
ver o pôr do sol com a companheira. Natasha queria beber, fumar e, quem sabe,
transar num desses motéis baratos do centro da cidade. Nicole queria ficar ali,
abraçadinha com quem ela sentia ser o amor de sua vida.
Nicole carregava inúmeros
complexos em sua cabeça de ex-adolescente. Namorados traumáticos, família
superprotetora, faculdade interminável. Não reclamava porque gostava de tudo
daquele jeito, feito o exercício do caos. Ultimamente, tinha pedido aos deuses
uma paixão arrebatadora, apelando, inclusive, para o vestido vermelho e para a
calcinha cor de rosa na noite de Réveillon. Dito e feito. Natasha apareceu durante o maior
porre da vida de Nicole, em uma boate gay, lugar onde a patricinha nunca havia
pisado antes.
Natasha era totalmente o oposto
de Nick, como gostava de tratá-la. Rockeira desde a adolescência, a garota de
quase 22 anos era o que eu posso chamar de ‘a personificação da loucura’. Uma
loucura boa, eu diria. Vodka, cachaça, uísque, cerveja, destilados diversos e álcool
capaz de colocar uma frota inteira de carros bicombustível pra atravessar os
890 metros da Ponte do São Francisco. Como eu gostava dessa garota. Como eu
gostei de observá-la bêbada jogada no banheiro da casa de uma das amigas
lésbicas sem sequer saber onde estava. Como eu gostei de vê-la em sua casa, vomitando
em plena segunda-feira depois de um porre de vinho barato. Minha ébria
preferida!
Nicole beijou Natasha por causa
da carência. Havia visto o perfil do ex-namorado sendo atualizado para ‘em um
relacionamento sério com uma puta qualquer’ e foi beber. Bebeu até que fez
amizade com Natasha, que se aproveitou do ‘nenhum homem presta, né amiga?’ e a
fez descobrir que a cura para aquilo poderia estar em peitos e bundas. E em
línguas. Entrelaçadas, descobriram que toda aquela volúpia poderia significar
algo a mais. Foi quando a patricinha percebeu que Natasha era chave de cadeia,
confusão para a família perfeita, a mulher da sua vida. Foi quando percebeu que
estava amando outra mulher.
3 meses de relacionamento e as
duas já pareciam almas gêmeas de comédia romântica. Amassos quase diários,
ligações até 2 da manhã todos os dias, mentiras para a mãe, festas, sexo pelo
Whatsapp. Nicole e Natasha se amavam e faziam questão de dizer isso uma a outra diariamente. Mas Natasha percebeu que ali não tinha clima como da primeira
vez que transaram. Percebeu que Nicole só precisava de amor e descobriu de uma
maneira bem frustrante que a namorada não pensava em fazer sexo. Nicole era do
tipo que fazia amor, todo dia, toda hora, enquanto ajeitava o cabelo de
Natasha, enquanto a abraçava, enquanto a beijava. Natasha se lembrou dos
tarados com quem ficou, das meninas drogadas com quem transou, da única pessoa
que amou antes de Nick.
- Te quero na parada de ônibus, no sofá da minha casa, no terraço da sua. Te quero fazendo sol ou chuva, dia ou noite. Te quero sorrindo ou chorando, triste ou feliz. Te quero com ou sem roupa. Apenas te quero. Tu é meu sonho, o meu amor. Meu verdadeiro e eterno amor!
Pude sentir a câmera rodeando as duas garotas. Cenário, trilha sonora. Uma com o cabelo cor de jabuticaba e pairando sobre os ombros, talvez?
ResponderExcluirBela história, Marcos.