segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Solto em uma cama de gato

Quer saber? Já tô cansado de viver como em um filme do Woody Allen. Cansei de tantos encontros e desencontros, chegadas e despedidas, histórias fortuitas e intempestivas. Cansei de alcançar a pessoa certa e simplesmente desperdiçá-la por minha falta de coragem ou qualquer outra coisa parecida. Tô cansado de chegar ao ponto de ônibus segundos depois do coletivo ter passado. Cansei por nem ter chegado. Eu, sinceramente, cansei.

Não é por causa de você. Nem por sua causa. Nem pela sua. Vocês formaram a tríade do que eu pensei ser impossível, do que eu nunca acreditei que pudesse acontecer, daquilo que eu nunca sonhei que viesse a ser verdade. Estou preso a uma cama de gato, diferente das normais, já que eu posso sair dela a qualquer momento, até porque ela nem existe realmente. É uma cama de gato eficiente. Problemas resolvidos que, do nada, parecem mal resolvidos; histórias incompletas que se completam justamente por causa da incompletude nelas evidente; romances que nem mesmo aconteceram, mas que povoaram minha mente por semanas e semanas.

Afinal, o que é certo a fazer? Envolver-se em uma trama insincera e resolver todos os seus problemas ou vivenciar uma paixão tórrida há tanto sonhada e cair no abismo da traição? O que é justo? Se a gente não tivesse exagerado a dose, teria vivido um amor Grand Hotel, esse mesmo, do filme antigo. Aliás, o que anda sendo o amor ultimamente? O retorno a uma realidade de duros golpes ou a pura ausência do querer aventurar-se? Não consegui dormir noite passada. Rolei na cama por horas até entender que eu sem você é pura questão de tempo. E que eu sem a gente, simplesmente não existe.

Tenho sido poeta, eu sei. Mas poesia ainda é uma das poucas coisas que me restam, aliada ao meu bom senso, ao bom caráter e ao bom dia. Não tenho do que reclamar, eu só não estava preparado pra enfrentar tanta coisa em tão pouco tempo. Ou devo dizer, tanta falta de tanta coisa em tão pouco tempo. O certo é que tenho grande parte da culpa pela inexistência de algumas dessas coisas. Eu reneguei, deixei pra lá e cá estou eu, digitando freneticamente tudo o que me vem à cabeça. E o pior que nenhuma gota de chuva cai do céu.

Se era isso que queriam, conseguiram. Não duvido nada de terem planejado tudo isso em um domingo à tarde, com nutellas à mesa e vingança na mente. Plantaram evidências nos locais certos, aproveitaram-se de minha nobreza e conquistaram o mais precioso dos meus bens: o coração. Nele, está guardada a lição mais valiosa que aprendi disso tudo: respeito é bom e eu gosto. E foi o que eu mais tive de vocês nesses últimos tempos.

Cada uma é inesquecível à sua forma. E o único elo pra que essa história pudesse fazer sentido estava aqui o tempo todo, pronto pra vivê-la, cabeça erguida e coração desprotegido. Não condeno vocês por nada. Ninguém foi o culpado. Eu só não tive tempo de dizer tudo o que eu queria a quem eu queria. Hoje, já está tudo resolvido. Sinceridades à parte, vejo, finalmente, que Drummond tinha razão quando escreveu "Quadrilha". E, olha, eu morro de medo de ser um J. Pinto Fernandes, aquele que nem sequer havia entrado na história.

História de um par - Stalingrado

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2 comentários:

  1. Preciso dizer que vem ou outra, sinto os seus textos muito presos a formalismos e à estética. Mas, em verdade, é assim quando você deixa as palavras te dominarem ao invés de vocês querer dominá-las que nasce as coisas mais bonitas que você poderia dizer. Um texto belo, Marcos.

    Beijos.

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  2. Achei uma ótima maneira de ficar tranquilo: se culpar.
    Assumir o erro é uma boa maneira de se esconder - até a dor passar...

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