segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Morte aos independentes

Mais um feriado sem grandes pretensões. Acordo, faço companhia às visitas da manhã, tomo meu café quente, reclamo da tosse que insiste em me acompanhar e venho pra tela deste computador. As notícias não me impressionam mais. Aquela velha litania dos dias Independentes de outrora só serve pra me frustrar ainda mais. Os canais de TV dão dinheiro a quem provar ser patriota, como se patriotismo precisasse ser provado. Mas será que não precisa? Preocupante…
 
Sabe, às vezes me pego pensando se sou realmente independente. Apesar da pouca idade e da assombrosa responsabilidade que me recai, vejo que, embora tenha liberdade em vários aspectos, ainda são os outros quem pensam por mim. E não é questão de ter a cabeça fraca ou coisa assim. Os outros pensam e agem antes que eu possa dizer sim ou não, refletindo em minhas atitudes mais pessoais. E descubro, através de mim mesmo, que não tenho - nem nunca terei - a independência que um dia conquistaram.
 
Dom Pedro deveria ter pensado mais antes de sair gritando às margens de um rio qualquer. De que adiantou fazer todo esse alarde se a liberdade de um povo não se concretiza com a fala de um único homem? Até Eugène Delacroix representa melhor a autonomia do que esse imperadorzinho tarado do século retrasado. É cada uma que nos aparece. Um português metido a herói, com pinta de Don Juan, mas um tremendo cafajeste. Espera, e se eu fosse Dom Pedro? E se o Brasil ainda fosse uma monarquia e estivéssemos lutando há 509 anos por uma independência econômica, social e política?! Vejamos o que posso fazer…
 
Já que não moro com meu pai, receberia o trono de minha mãe, a Rainha Maria Serrate. Por ter 17 anos, acredito que uma camaradagem de um parente qualquer me colocaria no poder antes da hora, como já aconteceu por aqui. O Primeiro Ministro seria o Lula, pelo seu ótimo desempenho como chefe de Estado, apesar dos pesares. Os governadores e prefeitos ficariam como estão – culpa dos eleitores. Minha esposa seria escolhida através de um concurso pela internet. Tudo o que eu estivesse fazendo seria postado no Twitter oficial de Dom Marcos pela minha assessora bonitona, com quem eu teria um caso.
 
O acesso à Universidade seria através do Novo Exame Imperial do Ensino Médio – o NEIEM. A reforma ortográfica, a descoberta do pré-sal, a corrupção no Senado e a morte de Michael Jackson seriam anunciados por um grito de três palavras em rios diferentes. “Hífen ou acento” no Rio Solimões, AM; “Sal ou petróleo” no Rio do Sal, DF; “Sarney ou nada” no Rio Maranhão, DF e “Black or white” no Rio Negro, AM!! A televisão transmitiria o “Big Brother Imperial” e  “A Fazenda Imperial”, sendo que os vencedores levariam pra casa o prêmio de um milhão de réis, que valem mais do que dinheiro. E eu só sentado em meu trono vendo um Estado Laico se desenvolver sem discussões acaloradas entre a Globo e a Record.
 
Esse seria o Novo Brasil Império, bem mais moderno, tolerante e não menos diferente. Para os que não sabem, de 30 em 30 anos é realizado um plebiscito para a escolha da forma e do sistema de governo do Brasil. Em 1993, a República Presidencialista conseguiu uma vitória esmagadora sobre a Monarquia Parlamentarista, aqui retratada. Em 2023 teremos uma nova chance de mudar esse quadro, para melhor ou para pior. Não sei ao certo se sou a favor da República ou da Monarquia – não vejo muita diferença. O fato é que, caso as propostas desse sistema de governo se adequem às necessidades do povo, é óbvio que optarei por ele, assim como faço e farei em todas as eleições.
 
O Brasil tem mesmo essa dualidade, essa necessidade de escolha. O brasileiro é dúbio e eu continuo sendo dependente dessa ambiguidade. Se nem cantar o hino nacional estamos sabendo, imagine andar com nossas próprias pernas em um país cheio de diferenças e segregações. Das duas, eu prefiro a morte…
 

Comente com o Facebook:

7 comentários:

  1. Meu velho, mais um dos textos pra entrar pra eternidade! Muito bem, mesmo. Confesso que se realmente você tivesse começado essa bagaça toda, o Brasil teria mais prazeres do que esses utópicos de atualmente...

    E o mais legal é que você deu o tom de comédia necessário pra falar de uma coisa que pouca gente tem coragem de dizer. E essa coragem resume-se no "reconhecimento da CAPACIDADE de dizer".

    Agora, eu tenho uma visão platônica sobre a democracia. E digo mais, ela devia ser uma primazia disputada por pouquíssimos! Prova disso é o cúmulo da ignorância do presidencialismo.

    Embora, eu não iria me rebaixar pra saudar um imperadorzinho de bosta qualquer, caso contrário...

    Parabéns mil, caro imperador!
    Abraços!

    ResponderExcluir
  2. Olha,as pessoas crticam a independencia do Brasil,mas eu sou a favor.Eu acredito que o Brasil ainda tem esperança.Eu acredito que acredintando na liberdade possamos ser realmente livres.

    ResponderExcluir
  3. Nossa... faz tempo que não venho aqui, mas como sempre não me decepciono. Vc é 10.

    ResponderExcluir
  4. Já dizia o pensador, que não era nenhum Rodin,nem o anjo Gabriel:"Pátria que me pariu..."

    ResponderExcluir
  5. Já dizia o pensador, que não era nenhum Rodin,nem o anjo Gabriel:"Pátria que me pariu..."

    ResponderExcluir
  6. Já dizia o pensador, que não era nenhum Rodin,nem o anjo Gabriel:"Pátria que me pariu..."

    ResponderExcluir