segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Preguiça, neutralidade e outras considerações

E quando me perguntaram sobre o que eu estava sentindo, simplesmente respondi: “tenho estado e ficado neutro”, sem pensar em todas as consequências tortas que teriam aquelas cinco palavras. Tortas porque, de fato, nem eu sei se estou neutro sentimentalmente ou não. Talvez a frase tenha sido escarrada justamente porque é como eu gostaria de estar nesse momento ou porque é assim que estou sem nem ao menos perceber. O que sei é que essa indefinição sobre sentir – o que não significa insensibilidade – tem sido positiva, pelo menos pra mim.

A falta de alguém pra preencher meus pensamentos antes de dormir é algo novo por aqui. Rola até um medo dessa ausência de vez em quando. Será que eu perdi a capacidade de amar? Ando desacreditado amorosamente? Por onde recomeçar? Os traumas de antigamente tinham o poder de fazer com que eu fosse além, buscando superá-los e fazendo novas escolhas imediatamente. Hoje vejo como mudei. Pouco me importa fazer a diferença, ir lá fora e encarar o sol quente procurando algo novo. Bate preguiça, eu perco a vontade. E culpo a greve, culpo a falta de tempo, culpo você – mesmo que você não tenha nada com isso.

Antes que os leitores fiquem procurando dar nome aos bois, saibam que o único personagem dessas linhas de desabafo sou eu mesmo. Um eu prestes a completar 21 anos e sem muitos planos definidos. Como tenho dito, me surpreendo com a capacidade que algumas pessoas têm de planejar tanto essa vida incerta que a gente leva. Acho tão bonito quando alguém escancara seus planos futuros e se empolga com aquilo. Queria ser assim – e talvez eu seja – mas ando com preguiça até de planejar. Aos esbanjadores de sonhos, continuem assim. Vocês me fazem ter a certeza de que sonhar é preciso!

Envolvido em situações desconcertantes e desafiadoras, acho que até consegui um avanço. Talvez eu tenha usado esse tempo de resignação, que já está se esvaindo, pra conhecer gente nova e não me apegar, diferentemente de como eu fazia antigamente. Aliás, eu até tentei me apegar, mas levei um drible glorioso da preguiça, que não me deixou seguir em frente. Falando assim, até pareço um desses caras que passa o dia inteiro sem fazer nada, curtindo o ócio trancado em um quarto escuro, ouvindo rock e jogando videogame. Acreditem se quiser, eu envelheci uns 10 anos nesses meses parado por causa da greve na faculdade. Hoje tenho muito mais conteúdo e poder de decisão do que antigamente.

Fazer esse balanço entre quem você é hoje e quem era você no passado sempre é positivo. Recomendo que o façam sem pestanejar. Vocês descobrirão novos sabores, diferentes sensações e saberão por onde pisar agora que está tudo novo de novo. Tenho a certeza de que estou novo de novo, mas não sei ao certo se estou neutro ou não. Até porque não dá pra ser imparcial nessa selva de pedra chamada existência. Ou você gosta dela ou não gosta. Hoje, eu só preciso me declarar. Com uma dose de vinho na cabeça e um pagode duvidoso tocando lá pras bandas do Sá Viana. “E se vai atrás da moça, como um filme, sempre vence o bem”.


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Um comentário:

  1. "Fazer esse balanço entre quem você é hoje e quem era você no passado sempre é positivo". Definitivamente isso é uma das coisas que eu mais gosto de fazer!
    Marcos, você é um exemplo de cara, de ser humano, de menino/homem, escritor, cidadão e bom gosto. A greve trouxe pra muita gente uma mudança brusca de realidade, seja ela boa, ou não. Tenho certeza que tu soubestes aproveitar ao máximo, mesmo que neutro. É bom ficar neutro, às vezes você precisa criar um estado de blindagem, onde nada te atinge, e você pode fazer o que quiser com você mesmo nesse período. A próxima vez que eu te ver, talvez a gente se depare com duas pessoas super amadurecidas e bem sucedidas. :)

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