segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ainda existe privacidade?



Você ainda faz questão de ter privacidade? Afinal, ela acabou ou ainda perambula raquítica por aí? O fato é que assinamos um contrato sem sequer analisar seus riscos. Fazemos parte agora da parcela populacional que coloca a espionagem tácita em um verdadeiro pedestal. Casa, padaria, lanchonete, shopping center. Não basta ir, você tem que avisar que está lá e, além de disso, dizer quem está com você. Às vezes, mesmo quem é totalmente avesso a esse tipo de invasão, participa do check-in sem nem saber do que se trata. Uma atualização que pode servir para reunir amigos, mas que também é um prato cheio para os mal intencionados de plantão.

No último fim de semana, durante o show da Pouca Vogal aqui em São Luís, fui indagado por uma amiga sobre o que eu fazia mexendo no celular naquele momento (nada invasivo, uma vez que era hora de curtir a balada e deixar o celular de lado). Expliquei que estava fazendo check-in em um site chamado Foursquare e vendo por onde estavam meus seguidores. Para quem não conhece, o Foursquare é uma rede social com ares de jogo online em que você diz onde está naquela ocasião e compartilha com outros usuários. Basicamente, quanto mais você compartilha sua localização, mais pontos e medalhas ganha. Se for analisado a fundo e quanto à sua utilidade, acaba sendo bem idiota. Mas torna-se legal pra quem é apaixonado por essa falsa vida social que o século XXI nos obriga a ter.

Pois bem. Dado o check-in (e após o show, claro), passei a me questionar por que diabos eu havia feito aquilo, naquele local. A primeira resposta que me veio a mente foi: "eu queria compartilhar minha alegria em estar no show de uma banda legal e fazer uma inveja ~ branca ~ para quem não estava lá". Pecado nenhum, ué. Entretanto, uma outra dúvida surgiu: e o simples fato de avisar que estamos em casa ou no shopping? Fazer inveja? A quem? Ou simplesmente aparecer na internet?

A notoriedade da mídia se transformou na necessidade de compartilhar. Todos querem falar para os amigos o quão gostoso é o novo sushi da cidade. Todos querem dizer que estão no aeroporto rumo ao Rio de Janeiro. Todos queremos aparecer - nem que seja em um tweet ou publicação no Facebook. Coisa de gente solitária, esquizofrênica, blasé? Vai saber. E nossa privacidade? Ainda existe ou é puro termo dos livros de psicologia do século passado?

Sinceramente, não acredito no fim desse resguardo social. A privacidade ainda existe, apesar de toda a informação compartilhada. É bem difícil ver alguém dizendo que está em um motel ou no banheiro fazendo o número 2. Ainda temos o senso e a noção do ridículo, ainda bem. Ninguém quer saber disso. A gente, que mantém perfil social na internet, quer aprender mais com as publicações alheias, sorrir um pouco, saber como nossos velhos amigos estão, enfim, se divertir. Postar onde você está e o que está fazendo não é pecado nem exagero. Só não tem uma razão definida. Uns fazem porque gostam, outros porque querem e outros porque é moda.

Ninguém quer ser vigiado 24 horas por dia. Querer fama e notoriedade esbarra em problemas comuns como "eu fiz merda no passado, não posso me expor". Quem disse que gostamos que os outros saibam de tudo da nossa vida? O que caiu foi nossa máscara da privacidade, revelando a de falsos compartilhadores inveterados que somos. Postar não significa dizer que você aboliu a privacidade de sua vida, mas sim que apenas trouxe pra si o hábito de compartilhar. Por isso, continuemos fazendo check-ins e checando onde estamos. Dentro ou fora do limite do ridículo.

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Um comentário:

  1. Essa necessidade de também estar em cena. é bastante estranho e novo, prato cheio para os filósofos contemporâneos. essa vontade de ser integrante do Big Brother é bastante rentável para gente como eu que adoro Marketing e Publicidade. muito bom o texto.

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