domingo, 16 de outubro de 2011

A essência da impossibilidade

Não era isso? Eu não era a essência da impossibilidade? Então, cá estou eu, depois de um bom tempo, eu sei, pronto pra dar a cara a tapa e dizer tudo o que tenho pra dizer. Vou logo adiantando que não tenho nada pra falar, muito menos pra escrever nestas humildes linhas. É tudo tão indefinido. Aliás, sempre foi. Sempre foi indefinido o que eu sentia por você. Não era amor, atração, desejo. Como disse Martha Medeiros, era melhor. Uma mistura louca, que eu nunca senti igual, mas que não pude – ou não quis – deixar que tomasse conta de mim.

E o que importa? Nós nunca nos demos bem, a não ser pelo carinho infinito que sentimos um pelo outro, pela preocupação quando tudo ia mal, pelo gosto musical maravilhoso, pelas conversas de outrora em mensageiros virtuais. Nunca, nada disso foi mentira. E quanto eu te queria por perto a cada noite de chuva, a cada filme alternativo nos feriados, a cada sábado à tarde. E como eu te achei em um sábado à tarde... Com outra, na praia. Que hilário! Aliás, era você quem devia estar ali, não aquela tresloucada de quem nunca mais tive notícias. Incrível como minha vida é uma cadeia de acontecimentos suscetíveis a roteiros de filme, tipo aquela vez em que voltamos pra casa em um ônibus lotado segurando os dedos um do outro. E tudo isso por causa de um bluetooth ligado...

E das vezes em que te dei bolo? Dá pra abrir uma doceria com tantas vezes em que eu queria estar ao teu lado, mas meu medo foi maior. Medo de seguir em frente com você, de olhar nos seus olhos e não dizer uma palavra sequer. Eu quis isso. Eu quis e imaginei te beijar na fila de cinema ou em um show de rock. Fazia nosso estilo. A gente se completava, de uma maneira que não dá de explicar pros nossos filhos ou pros nossos futuros namorados. Aliás, e você? E seus relacionamentos, como estão? Daqui dá pra te dizer que, hoje, somente uma pessoa mexe tanto comigo a ponto de eu querer dar bolos por sentir medo ou por não saber como e por onde começar. E ela não é você. Ela é tudo o que eu sempre quis, também é perfeita pra ver o pôr do sol da praia, mora perto de você e, inclusive, já foi sua amiga de classe. Ou conhecida, sei lá.

Por mim, passaria a noite inteira escrevendo cartas pra você, remexendo o passado, repintando as partes cinzas de azul e ouvindo as músicas que nunca ouvimos juntos. Era de você quem eu lembrava a cada dia nublado, a cada música do The National, a cada bolinha de papel atirada ao acaso. Ou a cada X marcado na mão para que eu evitasse meus vícios. Ah, te beijar foi como se a janta tivesse sido servida na hora certa, com direito a sobremesa e cupcakes fofinhos que só você sabe degustar. Só não entendi por que o corpo tão quente. Medo? Vontade? Prazer?

Sinto falta de quando eu tinha tempo pra dividir com você meus anseios. De quando te via pelas universidades da vida. De quando te conheci. Foi bom te ter por perto, mesmo que de longe. Juro que queria voltar a sonhar com sua casa, com seus pais e com seu jeito estranho de dizer “entra, a porta tá aberta!”. Quem sabe um dia o karma volte e você me leve àquele lugar especial, tão perto e tão longe, que, aliás, eu nunca soube qual era. Pois é. Eu não senti borboletinhas na barriga, eu não deixei o verão vir esquentar o chão e ver se ainda nascia um amor de verdade, eu só deixei você. Seguir em frente. Segui em frente. Não sei pra onde. Eu simplesmente segui. Boa noite, estranha!

Eu ando em frente por sentir vontade...

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Um comentário:

  1. Com certeza esse foi o seu melhor texto que eu já li e olhe que muito provavelmente eu li todos dessa blog.
    Se isso é uma carta não enviada, acho que você deveria destiná-la o mais rápido possível.

    Beijos.

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