segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Contos de Whisky III

- Honestamente. Não quero mais falar sobre isso.
- Mas, doutor. Essa é a sua última chance.
- Ok, Viviane. Quer dizer que você quer terminar seu namoro de 5 anos pra ficar com alguém totalmente diferente de você quando o assunto é relacionamento?
- Eu não diria totalmente diferente.
- Certo, certo. Mas essa não é a questão. O problema é que você quer deixar para trás todos os momentos bons vividos com seu atual namorado e trocar por algo que você nem sabe se vale a pena.
- Vale, doutor.
- Ok. Então me diga por que vale.
- Vale porque eu amo o Carlos. Nunca fui perdidamente apaixonada pelo Guilherme. Nunca me peguei pensando nele à noite, antes de dormir, mesmo quando estávamos apenas nos conhecendo. Era coisa de menina adolescente apaixonada e louca pra ser feliz. E o melhor é que fui feliz. E continuo sendo, só que agora apaixonada.
- E por outro.
- Isso, por outro!
- Mas seja sincera consigo mesma. Você ainda gosta do Guilherme?
- Gosto como amigo. Aliás, nós sempre parecemos mais amigos do que qualquer outra coisa. Nas festas em família, nas idas ao shopping, nos shows e baladas, nas noitadas pelos bares... Todo mundo sempre achou que nós éramos apenas amigos. Bons amigos!
- E por que namorar 5 anos com uma pessoa que lhe é apenas amigo?
- O diferente me atrai, doutor. Ele era diferente. O meu primeiro beijo foi com ele. Era quase um segredo que deveríamos guardar. Eu confiei nele como se confia na amiga mais íntima. Passamos 5 anos confiando um no outro, mesmo quando o que eu mais queria era não poder confiar. Sou grata a ele por tudo, mas hoje vejo que estou mais acostumada em tê-lo por perto do que gostando de verdade.
- Mas você chegou a gostar dele de verdade?
- Gostar sim, mas amar não. O nosso “Eu te amo” era um “Eu te amo” de amigos. E nunca foi mentira.
- E o Carlos, Viviane? O que te faz amar tanto esse rapaz?
- Bem, doutor. O jeito como ele me olha, o sorriso que ele me dá sempre que nos cumprimentamos, o abraço apertado de vez em quando na escola, a sua inteligência, a sua beleza, o seu jeito de ser, sua educação. E alguma coisa que eu ainda não descobri o que é, mas que eu estou disposta a descobrir o mais breve possível.
- Entendo. Já falou isso pra ele?
- Não. Tenho medo de que ele não sinta nada por mim.
- Então, novamente te faço essa pergunta. Está disposta a terminar um namoro de 5 anos para simplesmente descobrir algo oculto de uma outra pessoa?
- Não é terminar por terminar, doutor. É isso que eu queria que entendesse. O Guilherme anda estranho. Não conta mais nada sobre sua vida, não me conta seus problemas, como vai na escola... O fato é que continua apaixonado. Ele. Já eu, não. Vai ser difícil fazê-lo entender isso.
- Então, se está totalmente decidida, converse com ele. Terminem o namoro juntos.
- É isso mesmo, doutor Marcos. Vou conversar com ele e me resolver. É preciso coragem pra enfrentar novos riscos.
- Boa sorte, minha filha.
- Obrigada!

Naquele dia, Viviane saiu da sala do psicólogo decidida a mudar sua vida. Chamou Guilherme em um canto, falou tudo o que tinha pra falar e terminou o namoro. Ele concordou. Não havia outra saída se aquele quase noivado não fazia mais sentido nem pra um nem pra outro. À noite, antes de dormir, Viviane contou tudo o que havia acontecido para Carlos, que, apesar de não querer que ela tivesse terminado aquela relação, ficou feliz da vida.

No dia seguinte, Viviane curtiu seu primeiro dia de solteira na casa de uma amiga. Não sabia ao certo o que queria fazer, mas decidiu que iria fazer. Pegou a bebida mais ardente que havia no lugar e bebeu de uma só vez. Cantou, gritou, esperneou, fez declarações para Carlos e dormiu... Acordou bem mal e nem um pouco arrependida. Tinha começado uma nova vida, ao lado de uma vida nova. E havia dito o primeiro “Eu te amo” verdadeiramente apaixonado para alguém que realmente merecia.

Isso aconteceu há 30 anos. Viviane e Carlos estão casados até hoje e a lembrança que mais guardo dos dois é o olhar sincero que ambos insistem em dar toda vez que se olham. Formam um casal perfeito, com apenas um objetivo na vida: serem pegos de surpresa!

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Um comentário:

  1. adorei o texto! interessante que eu conheço um casal assim, SUPER apaixonado, tipo esse! esse casal adora ser pego de surpresa também. a diferença é que ele não é só um conto, apesar de parecer, por tão lindo que é! as pessoas que formam esse casal conseguem dar o exemplo do VERDADEIRO AMOR. admiro muito! ótimo texto, ML ! :)

    *ps: ei, me responde uma coisa... por acaso, o segundo nome do Carlos é 'Eduardo' ?? x)
    só curiosidade !!! ;P

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