sábado, 18 de julho de 2009

Paralelas

O dócil menino era um santo. Vivia nos cantos a reclamar dos percalços e da solidão, quase sempre cheio de gente por perto. Era insatisfeito. Tinha 17 anos e já vivia como se fossem 117. Era sempre muito paciente. Passava uma segurança insegura de dar inveja a qualquer vigia ou coisa assim. Estava sempre disposto a ajudar, mesmo que soubesse que depois não seria ajudado, que voltaria à solidão e que seria só mais um dentre os milhões de só mais uns. Mas se conseguissem zangá-lo...

A doce menina era louca. Vivia intensamente como se o dia fosse acabar antes das 24 horas usuais. Andava por toda a cidade distribuindo alegria e sorrisos sinceros por onde passava. Apesar de namorar, de ter um milhão de amigos e de ser a melhor em tudo o que fazia, achava que faltava alguma coisa. Era insatisfeita. Tinha 117 anos e vivia como se tivesse 17. Não era muito paciente, não ajudava ninguém e vivia trancada em seu mundinho, em seu quarto, em sua máquina de escrever moderna.

Os dois nunca se encontraram. Viveram anos e anos de agonia. Um dia, em um sonho dela, ele apareceu, na sombra da saída do cinema, com uma gente estranha do lado. Nem a olhou. Ele acordou. Sentiu que tinha vivido a noite mais bem vivida de toda sua vida. E só. Apaixonado e inconstante, como eu...

Marcos Lima

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5 comentários:

  1. Texto muito bom...
    Sei la ... Não sei explicar mas me deixou tão presa e com uma sesação estranha ao terminar de ler.
    gostei muito!

    bjs
    http://taynalu.blogspot.com/

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  2. Que texto lindo, vc escreve muito bem, li outros textos e achei incrivel, parabéns e parabéns também pelo blog.
    Fiquei muito feliz ao saber que vc gostou das postagens sobre Friends e muito obrigada pelo comentário!
    abraços

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  3. É só impressão minha ou esse texto é autobiográfico?
    x*

    http://lovegame-c.blogspot.com/2009/07/coisas-sobre-o-mundo.html

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  4. Cara, parece que esse texto foi feito pra mim rsrs.

    Mto bonito. Parabéns.

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  5. "Paralelas" trata, principalmente, do desencontro entre pessoas iguais, em uma clara alusão à lei da matemática que diz que duas retas paralelas jamais podem se encontrar. O suposto encontro dos personagens no final do texto remete às correntes contrárias à essa ideia, que dizem que duas retas paralelas se encontram sim no infinito.

    Sobre o texto ter algo de autobiográfico, isso fica evidente no final do último parágrafo quando o narrador se inclui na história e diz que é apaixonado e inconstante assim como o personagem da história.

    Algo interessante. Comece a ler o texto e pule imediatamente após a primeira frase para a primeira frase do segundo parágrafo e volte ao primeiro parágrafo na frase que você parou intercalando parágrafos. Efeito de texto bacana, hein?

    Abraços

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