Aliás, você sabe onde me encontrar. Sabe que estarei sempre sentado naquela nossa esquina favorita, lendo um livro qualquer, bebericando o resto de uma bebida comprada há alguns dias em um desses bares de subúrbio. Sabe muito bem que não conseguirei te esquecer de imediato e entende, como só os loucos entendem, o quanto eu penso em você a cada noite de chuva ou tarde ensolarada. Só esqueço você pela manhã, quando o que me importa é o sono dos justos e o sonho dos covardes.
Quem diria que iríamos nos
separar assim, feito água e óleo, frio e calor. Grande amiga, mulher pela qual
eu daria o céu se pudesse tocá-lo. Fugi de você porque despertei de um pesadelo
terrível, doce criatura. Como continuar a te seguir se sequer podia tocá-la?
Como permanecer do teu lado se não podia nem sentir teu gosto, molhado e suado
beijo negado? Muito prazer, me chamam de otário, largado na sarjeta da estrada
dos desesperados.
Sonhei, decerto, com a progressão
de nossa relação. De forma silenciosa, me via ao teu lado discutindo ciências
humanas, escolhendo filmes tailandeses em uma locadora suntuosa e reclamando do
alto preço do jornal de domingo. Não esperei muita coisa quando descobri sua
impaciência, encalacrada em um milharal de defeitos suportáveis e perfeitamente
compreensíveis. Enganei a mim mesmo com gosto de mentira mergulhada em veneno,
desses que dificilmente matam, apenas nos corroem, lentamente.
Fugi pela porta da frente te
deixando nos fundos. Saí, apaguei as luzes e tranquei a porta, necessariamente
nessa confusa ordem. Como sempre, sempre confusos, nós. Como dar o próximo
passo se passo nenhum havia a dar? Como encarar e externar o próximo desejo se
desejo nenhum havia a se apresentar? Adoro essa sua cara de sono e o timbre da
sua voz, que fica me dizendo coisas tão malucas. Era maluquice te querer. Não
daria certo nunca.
Quando sentei à esquina e te vi
desolada tentando entender o que diabos havia acontecido, finalmente entendi o
que diabos havia acontecido. Eu estava cansado. Cansado de tanta indecisão, de
tanto devaneio bobo, de tanto prognóstico de invisibilidade. Tentei dar certeza
por uma boa dezena de vezes, assim como reconheço suas tentativas, mas cabia a
mim um basta, porque você não seria capaz de fazê-lo. Nós fizemos tudo errado
desde o dia em que pensamos demais nos outros passados e nos esquecemos de
nossos presentes. Voltamos à esquina onde nos conhecemos, onde um par se fez um
só.
Não vou sumir de teu bairro até
conseguir separar o que ainda sinto por ti daquilo que senti. Não te peço tempo
nem paciência, apenas resguardo. Ame, não te impedirei de amar ninguém, apenas
pondere e responda a si mesma se me amou o tanto quanto te amei. E se eu
aparecer bêbado em uma dessas velhas e sujas esquinas que não seja a nossa,
rapte-me, camaleoa, adapte-me ao seu ne me quitte pas...
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