Um prato cheio para quem gosta de
Direito Penal. Assim poderíamos definir o livro “Crimes”, do advogado alemão
Ferdinand Von Schirach (Ed. Record, 2011). Trata-se de uma narrativa exploradora
da linha tênue entre realidade e ficção no mundo do crime, que vai muito além
do acontecimento em si, levando o leitor a repensar seus conceitos de condenação
prévia. Uma seleção de contos que beiram o bizarro, mas que, segundo o autor, não
passam de verdade nua e crua.
Ao longo de 11 capítulos, cada um
com uma história diferente, Von Schirach nos leva a um passeio pelos crimes e
julgamentos mais interessantes da Alemanha nos últimos tempos, como o caso do
clínico geral aposentado que matou a esposa com um machado de lenhador por não
aguentar mais suas queixas e reclamações. Seria mais um crime cruel se o
histórico de calmaria e quietude não estivesse sempre presente na vida do
indivíduo. Houve um acesso momentâneo de fúria, depois de tanto tempo calado
frente às humilhações da mulher. O que fazer? Puni-lo judicialmente é o certo ou
a própria punição pela qual o aposentado passava por ter assassinado a esposa
(e ainda amá-la) já é suficiente?
Von Schirach, que assumiu a
posição de advogado de defesa em todos os casos relatados no livro, explora o
lado jurídico-filosófico das causas, fazendo um relato do psicológico de seus
clientes e expondo boas justificativas para os delitos. O homem que enterrou os
pedaços cortados do cliente morto de sua amiga prostituta o fez por amor. O
mais louco de tudo: o cliente havia morrido de causas naturais, sem ter ela
nada a ver com a situação. Houve crime? Tentar proteger alguém que se ama é
considerado crime?
Com uma intensidade chocante, “Crimes”
nos dá um verdadeiro tapa na cara ao elencar situações que parecem sem motivo ou
sem solução. Apesar de ser um livro fino (176 páginas), a leitura pausada acaba
sendo mais recomendada, tanto por diminuir a angústia no que se refere às
histórias quanto pela aceitação e reflexão acerca dos acontecimentos de cada
uma. Uma sugestão e tanto para quem gosta de saber o que se passa em uma mente
criminosa e para os advogados em busca de bons argumentos na hora de defender
um caso.
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