Bateu saudade da inocência do
Carnaval. Aliás, dos meus olhos inocentes presenciando aquela festa móvel de
todo início de ano. Muito além do feriado e do “ficar em casa por dias seguidos”,
o Carnaval tinha um sentido mágico para mim. Sempre gostei da cadência das
músicas, dos ritmos que embalavam o rádio, a televisão e a folia de rua. Lembro
que cheguei a me arriscar poucas vezes a ir ao centro da cidade ver os blocos
passarem. O medo dos fofões, a caminhada demorada, nada disso tirava minha
alegria de criança ao ouvir canções que eu sabia de cor de tanto escutar em
casa.
“É gostosa, é gostosa, parece um
avião, meu coração vai explodir” sem nenhuma conotação sexual, pura brincadeira
de Bicho. Quem gosta, conhece ou já esteve no Carnaval do Maranhão sabe que o
ar aqui é outro. Sem menosprezar o samba, o axé ou o frevo dos outros estados,
aqui a irreverência realmente toma conta dos bairros, ruas e avenidas e invade
cada coração, por mais duro que ele seja. Mesmo quem não gosta da folia acaba
afetado pela Bandida na orla pacata ou pelo Jegue que emana molecagem por onde
passa. A Máquina descasca desejos e projeta felicidade nos becos da São Luís
serpenteada.
Tudo é festa em fevereiro-março.
A imponência do Centro Histórico dá lugar ao colorido da trama entre o pierrot,
arlequim e colombina. E eu sinto falta do tempo em que me importava mais com
isso. A gente cresce, fica bobo, fala besteira e se esquece de celebrar a
verdadeira alegria infantil que existe em nós. Como era legal fazer a tabelinha
de apuração das notas das escolas de samba cariocas. A tensão das incontáveis
tardes de quarta-feira de cinzas torcendo pelo Salgueiro, odiando a Beija-Flor
e querendo que a Mangueira perdesse só pra não massagear o ego da mãe. O axé da
Band, que era a preferência da prima postiça, completava minha folga, mesmo que
eu não admitisse isso.
Alguns carnavais têm sabor maior
de lembrança. Aqueles em que meu padrinho já falecido vinha passar férias aqui
em casa são os de que mais me lembro. Filmes de bang-bang, chuva, ronco barulhento
na sala de madrugada, gibis a cada ida à praça, sua incisiva crítica à “bobagem”
que passava na TV durante essa época. Hoje vejo que foi o mais perto que tive
da figura de pai. Acho que soube dar valor. Acho que soube aproveitar, da
maneira e no tempo certos. Talvez por isso hoje em dia eu prefira ficar em casa
patrocinando maratonas de filmes e séries ou jogando conversa fora com os
amigos. É mais cômodo e saudosista.
Longe disso, enrolo uns passos e
pulos durante a folia. Ano passado, um baile de máscaras com marchinhas
antigas. Esse ano, bloco de rua na praia. Tô melhorando. É bem diferente do radinho
de pilha onde eu ouvia o Gaguinho, mas é mais animado. Ainda tá em pauta criar
uma charanga e circular pelo bairro jogando maisena nas crianças ou saber o que
o interior do Maranhão tem de tão espetacular durante esse período. Se for só pra beijar a boca de 30 desesperadas, dispenso. Prefiro a alegria do meu feriado ao
desespero de uma quarta-feira de cinzas.
Porque todo carnaval tem seu início, meio e fim... |
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