Por muito tempo me vi preso à
incerteza de abandonar ou não a besteira. Explico: abandonar a besteira, em
termos práticos – e para o meu grupo de amigos –, significa deixar de lado piadinhas
bobas, comparações absurdas e sacadas espertas (ou idiotas, sabe-se lá) a
qualquer momento. Eu bem que tentei, mas é mais forte que eu. Quem me conhece pessoalmente
diz ser impossível me encarar sem ter vontade de rir. Recentemente, ao apresentar
um trabalho na faculdade, um amigo jurava que eu iria parar a exposição e
começar a imitar a Marília Gabriela – coisa que você confere no final desse
texto.
Minha descrição no Twitter
exemplifica bem esse bom humor. “Blogueiro,
universitário, imitador e menino da xerox. Posso anotar seu pedido?!” Uma clara brincadeira entre as quatro ocupações
principais de minha vida atualmente: escrever, estudar, fazer rir e trabalhar. Outro
amigo até já fala em patrocinar meu stand-up
comedy. Como se alguém fosse assisti-lo! O engraçado nisso tudo é que
quando algo realmente sério me acomete, fica difícil imaginar qual seria minha
reação até pra mim mesmo. E nas relações amorosas, onde ponderar às vezes é
fundamental, essa incerteza ganha proporções colossais. O que fazer então?
Já tentei dosar entre a
sobriedade humorística e o bom humor desmedido. Não sei se deu muito certo. A
única reclamação que tive nesse aspecto foi em 2009 (e lá se vão dois anos),
quando uma namorada reclamou que era impossível conversar comigo porque eu
levava tudo na molecagem. De fato, era demasiado. Aprendi com o tempo que
querer chamar atenção não nos leva a lugar algum. É bem melhor quando você
sente que pode se tornar atração, quando aquele momento e as pessoas ao redor
(seu potencial público) o admitem como digno de atenção. Não dá pra forçar.
Pode demorar mil anos, mas se você tiver talento pra alguma coisa, seu
reconhecimento virá da forma mais inesperada possível.
Acontece mais ou menos assim com
o pessoal do circo, artistas de TV ou profissionais de qualquer área. Sua
credibilidade é construída com o tempo e cabe a você mantê-la o mais sólida
possível. Mas e quanto ao palhaço? Qual credibilidade esse ser – que se esconde através de uma pintura e um
nariz vermelho em formato de bola – pode transmitir à sociedade? Fazer alguém
sorrir é suficiente para transmitir a ideia de um profissional sério naquilo
que faz? Acredito que sim. Pensar em alguém que dribla as dificuldades diárias,
seus problemas pessoais e suas angústias justamente na tentativa de fazer o
outro rir é imaginar que o ser humano não é egoísta o bastante como vendem por
aí. O palhaço tem sim uma credibilidade, camuflada, mas ela existe.
Já os palhaços que não se vestem
adequadamente à “profissão”, como é meu caso, também merecem aplausos. Quantas
vezes não estive cheio de problemas, mas preferi dar alegria a meu próximo,
mesmo através de piadas bobas, sem nexo. Arrancar um sorriso do rosto de meu
amigo é minha maior alegria. É como se meu dia tivesse valido realmente a pena.
Ver alguém sorrindo é conhecê-lo em seu estado mais natural possível, em sua
doçura angelical de criança, perdida pela selvageria do tempo. E como eu gosto
disso. Não o faço pra ganhar dinheiro, pra usurpar meu semelhante ou pra
mostrar o quanto talentoso sou. Faço isso porque gosto. Sou o espelho do
sorriso alheio e isso me basta!
Por fim, decido não abandonar a
besteira. É ela quem me faz seguir em frente, continuar olhando esse mundo de
uma maneira menos fria e desacreditada. Pensar que tudo poderia ser melhor se
você sorrisse ao invés de proferir um xingamento quando alguém pisasse,
acidentalmente, em seu pé no ônibus. Por que não rir do trocador quando ele
erra na contagem do troco e o entrega faltando 10 centavos? Por que não rir de
sua namorada indecisa quanto à escolha do vestido para a festa do sábado? Por
que não sorrir? Como diz um desses rock’s modernos, “prefiro ser mais eu, continuar sorrindo”!
Por quê?!
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