Há uns 3 anos, comecei a escrever a história de Patrícia, uma adolescente de 14 anos cheia de dúvidas e impressões sobre o mundinho em que vive. Criada por mãe solteira, Patrícia passa por tudo o que uma garota da sua idade costuma passar: brigas em casa, romances na escola, afirmação da amizade, descoberta da sexualidade, etc. Uma verdadeira novela…
E, na realidade, era isso que essa história deveria ser – uma novela. Com capítulos curtos escritos à mão em um caderno, durante sábados e sábados à tarde, ao som de rock e ao embalo de uma rede, “Meu Mundo” traz em si uma espécie de conflito entre o que eu sou e o que eu imagino que poderia ser. Além disso, a história tem como pano de fundo principal algo que há muito vem me perturbando: o que vale mais, o amor ou a amizade?!
Por muito tempo, me perguntei quem leria “Meu Mundo” primeiro. Prometera a mim mesmo que seria um amor, mas ficava me indagando quanto à amizade. Será que alguém especial do meu ciclo de amigos não deveria ter a oportunidade de saber o que eu penso de verdade antes de todo mundo? Ou será que um amor verdadeiro mereceria mais compartilhar algo tão íntimo? Na verdade, passei a procurar sustentar o amor à partir de amizades, até escolher alguém pra ler essa história sem sentido nenhum.
Se ela gostou, até hoje não sei. Nem sei se teve tempo de ler, se guardou em sua gaveta perfumada ou se deixou amarelar com o tempo. Descobri que não queria alguém que apenas lesse a história, mas que a discutisse comigo, deitada em uma rede debaixo de um pé de manga. Mas ela não o fez. Hoje, por causa dos meus grandes defeitos, não sobrou nem amor nem amizade e somos apenas passado um do outro. Enquanto isso, Patrícia está parada no tempo com 16 anos de idade, prestes a conhecer alguém que ela vai julgar ser seu verdadeiro amor. E como a gente julga…
Sabe, acho que tá na hora de eu parar de julgar as pessoas. Aceitar certas verdades inescapáveis - como diz Filtro Solar –, procurar magoar menos, crescer e aprender a ser feliz, como me receitaram essa noite. Descobrir de uma vez por todas o porquê de cada atitude minha e refletir sobre elas antes de cometê-las. E evitar que quem esteja do meu lado também a cometa.
Portanto, amor e amizade são dignos de reflexão. Ser amigo de verdade é, acima de tudo, sentir amor pelo outro. Amar de verdade é saber dar valor à uma amizade, não importa a duração dela. Eu amo, amei e vou sempre amar aqueles que um dia eu considerei meus amigos, mesmo que eles fujam da minha presença – e mesmo que essa fuga tenha sido ocasionada por mim mesmo. Se eu magoei, peço desculpas. Decerto, aprendi. Mas me decepcionei um bocado – comigo e com os outros.
E volto à frase de Dave Coelho, um outro amigo que eu perdi por conta própria: “Seus amigos só são seus verdadeiros amigos porque conseguiram a proeza de te aguentar”. Hoje, admiro ainda mais os que tentaram me entender e me aguentar, mas que desistiram no meio do caminho por medo da mágoa ou por terem sido magoados demais. Amizade vale muito mais. E eu só descobri isso quando perdi meus amores amigos…
*Texto dedicado à “menina do pra sempre” e à “Dona Casmurra”